Sinais de falhanço na OPA da brasileira CSN

Os resultados só são conhecidos amanhã mas tudo indica que fracassou a OPA da empresa brasileira CSN sobre a Cimpor. O prazo terminava esta segunda-feira e a empresa brasileira não conseguiu comprar mais de 33 por cento do capital da cimenteira portuguesa.

RTP /
A cimenteira nacional é agora pertença de capital brasileiro, independentemente do resultado final da OPA da CSN www.cimpor.pt

Entretanto, mesmo sem OPA, a maioria do capital da Cimpor já pertence a empresas brasileiras. Durante as últimas semanas mais de metade do capital da cimenteira nacional mudou de mãos e pertence agora às brasileiras Camargo Corrêa e Votorantim.

Com uma oferta inicial por acção de 5,75 euros, na sequência das movimentações dos adversários, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) reviu as condições da OPA lançada em meados de Dezembro passado e aumentou o preço por título para 6,18 euros. Decidiu igualmente que, dos 50 por cento desejados, passaria agora a pretender um terço do capital mais uma acção.

Trata-se contudo de um negócio que deverá apontar ao fracasso, uma vez que os principais accionistas ouviram a recomedação da Administração favorável a "não vender".

Os pequenos accionistas representam apenas 18 por cento do capital da cimenteira portuguesa e são, nas actuais circunstâncias, fraca alternativa.

Em causa estão sobretudo os 10 por cento do fundo de pensões do BCP, que já admitiu vender, e a posição accionista do empresário Manuel Fino, também com 10 por cento de direitos de voto, o qual, de acordo com a imprensa brasileira, não terá chegado a acordo com a CSN.

Entre confirmações e desmentidos, ainda que a CSN consiga comprar estas posições, estarão garantidos apenas 20 por cento do capital Cimpor, muito aquém dos 33 por cento mais uma acção que traduziriam a OPA numa acção bem sucedida.

Esta segunda -feira foi o último dia para registo de intenções de venda, estando previsto para amanhã o anúncio oficial da operação.

Capital maioritariamente brasileiro

O capital directo da Votorantim situado nos 21 por cento, associado aos 31,17 por cento da Camargo Corrêa, coloca a cimenteira sob alçada brasileira.

O anúncio da aquisição da Votorantim, na última quarta-feira, apontou para um reforço superior a 30 por cento do grupo brasileiro na Cimpor já no início do mês, na sequência da celebração de um acordo com a CGD (Caixa Geral de Depósitos), que tem na sua carteira 9,6 por cento da cimenteira portuguesa: "Em decorrência das aquisições accionárias e do referido acordo de accionistas, a Votorantim assegura um direito a voto conjunto com a CGD em determinadas matérias que equivale a uma participação votante de 30,76 por cento", explica o comunicado desta quarta-feira.

Há uma semana, a imprensa brasileira anunciou também que a Camargo Corrêa acabava de adquirir 2,5 por cento de acções remanescentes da Teixeira Duarte na Cimpor, operação que permitia ao grupo brasileiro aumentar para 31,17 por cento a participação na cimenteira portuguesa e tornar-se no maior accionista individual da Cimpor.

A Camargo Corrêa já havia adquirido da Teixeira Duarte uma participação de 22,17 por cento da cimenteira - num negócio feito a 6,5 euros por acção - , tendo depois anunciado a compra de mais 6,46% pertencentes ao grupo espanhol Bipadosa.

Bruxelas aprova aquisição da Cimpor pela CSN

A Comissão Europeia deu luz verde à aquisição da Cimpor pela CSN, considerando que esta não coloca em causa as condições de concorrência no Espaço Económico Europeu.

Situação diferente estará a passar-se no Brasil, onde as autoridades da concorrência suspeitam que a cimenteira portuguesa esteja envolvida em manobras de concertação com a Camargo Corrêa e a Votorantim para impedir a entrada de concorrentes no mercado brasileiro. De acordo com as autoridades haverá um visado especial nestas movimentações: a CSN.

A secretária de Direito Económico apontou a brasileira CSN como principal visada na provável estratégia da Cimpor para a condicionar o sector dos cimentos no Brasil.

A confirmar-se, a estratégia da Cimpor é a resposta da cimenteira à OPA lançada pela CSN a 18 de Dezembro passado. Os parceiros da empresa portuguesa nesta eventual cartelização serão os grupos Camargo Corrêa (que na passada semana adquiriu a totalidade da posição da Teixeira Duarte (22,17%), avançando depois para os 6,46% dos espanhóis Bipadosa, e agora outros 2,5% para um total de 31,17% na Cimpor) e a Votorantim (que detém em conjunto com a Caixa Geral de Depósitos 31 por cento da cimenteira portuguesa, depois de no início deste mês ter adquirido os 17,3% da francesa Lafarge).

"Desconfiamos que pode haver uma investida conjunta por parte do Conselho de Administração da Cimpor e cimenteiras no Brasil - pelo menos Camargo Corrêa e Votorantim - para evitar a entrada de um agente não alinhado ao suposto cartel", explicou à Agência Lusa Mariana Tavares de Araujo.

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