Tarifas de Trump em vigor. União Europeia retalia perante "incertezas mundiais"

por Inês Moreira Santos - RTP
Allison Dinner - EPA

Entraram em vigor, esta quarta-feira, as taxas de 25 por cento impostas por Donald Trump ao aço e ao alumínio, intensificando a guerra comercial entre os Estados Unidos e os principais parceiros comerciais, incluindo a União Europeia, que respondeu imediatamente anunciando contramedidas às "tarifas injustificadas". Ursula von der Leyen pediu ao presidente norte-americano um "diálogo significativo" sobre as novas tarifas perante "incertezas mundiais".

As tarifas de Trump sobre importações de metais entraram em vigor, cobrando uma taxa fixa de 25 por cento “sem exceções ou isenções”, o que se espera que aumente as tensões com alguns dos maiores parceiros comerciais – como a UE, o Canadá, o México e o Brasil – que foram rápidos em expressar objeções e alguns a anunciar retaliações. O presidente norte-americano espera que com esta medida aumente a produção de aço e alumínio nos EUA, mas os analistas acreditam que os consumidores é que serão prejudicados com a subida dos preços, afetando o crescimento económico do país.

Em resposta, poucas horas depois da aplicação da medida, a presidente da Comissão Europeia anunciou um pacote de contramedidas voltadas às exportações dos EUA, visando uma variedade de produtos norte-americanos, desde barcos até motociclos Harley-Davidson.

“Manter-nos-emos sempre abertos a negociações. Estamos firmemente convictos de que, num mundo repleto de incertezas geoeconómicas e políticas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com tais direitos aduaneiros”
, declarou Ursula von der Leyen, falando à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.
Paulo Dentinho e Rui Manuel Silva | Correspondentes da RTP em Bruxelas

“Estamos prontos para encetar um diálogo significativo. Encarreguei o comissário responsável pelo Comércio, Maros Šefčovič, de retomar as conversações para explorar melhores soluções com os Estados Unidos”, adiantou a líder do executivo comunitário. “Há empregos em jogo. Os preços vão subir. Na Europa e nos Estados Unidos”.Bruxelas vai então responder com contramedidas, a partir de 1 de abril, às tarifas alfandegárias de 25 por cento impostas pelos Estados Unidos às importações de aço e alumínio, cessando a atual suspensão de taxas sobre produtos norte-americanos.

"Como os Estados Unidos estão a aplicar tarifas no valor de 28 mil milhões de dólares [26 mil milhões de euros], estamos a responder com contramedidas no valor de 26 mil milhões de euros", especificou Von der Leyen, num comunicado também assinado com o comissário do Comércio, Maros Šefčovič, acrescentando que as contramedidas europeias serão introduzidas em duas fases e estarão plenamente em vigor a partir de 13 de abril.

Em meados de abril, a UE vai impor um novo pacote de contramedidas em resposta às tarifas dos EUA, que se espera que afetem as exportações dos EUA avaliadas em até 18 mil milhões de euros, elevando a resposta total da UE para 26 mil milhões, igualando a escala das tarifas norte-americanas.

Os produtos-alvo propostos para esta segunda fase incluem produtos industriais como aço e alumínio, têxteis, artigos de couro, eletrodomésticos, ferramentas domésticas, plásticos e produtos de madeira, bem como produtos agrícolas como aves, carne bovina, certos frutos do mar, frutos secos, ovos, laticínios, açúcar e vegetais. Taxas “totalmente injustificadas”
Também o primeiro-ministro da Austrália classificou as tarifas norte-americanas de 25 por cento sobre o aço e o alumínio australianos como “totalmente injustificadas”.

“Não se trata de um gesto amigável”
, declarou Anthony Albanese aos jornalistas, depois de não ter conseguido negociar uma isenção de última hora.

Apesar deste revés, Albanese indicou que Camberra não vai tomar medidas de retaliação contra Washington, ao contrário do que tinha anunciado há um mês o tesoureiro australiano, Jim Chalmers.

“As tarifas e a escalada das tensões comerciais são uma forma de autoflagelação económica e uma receita para um crescimento mais lento e uma inflação mais elevada”, afirmou Albanese.

De acordo com Camberra, as exportações australianas representam um por cento das importações de aço dos EUA e 2 por cento das importações de alumínio.
A siderúrgica australiana Bluescope afirma empregar cerca de quatro mil pessoas nos Estados Unidos.A Austrália possui enormes depósitos de carvão, gás natural, metais e minerais, incluindo ferro, a maior parte dos quais exporta para a China.


O Governo do Reino Unido considerou, nas últimas horas, que as tarifas globais dos EUA sobre aço e alumínio eram "dececionantes", mas não chegou a apresentar qualquer retaliação, alegando estar a tentar negociar um acordo económico mais amplo com Washington.

"Continuarei a envolver-me de perto e produtivamente com os EUA para assegurar os interesses comerciais do Reino Unido. Manteremos todas as opções na mesa e não hesitaremos em responder pelo interesse nacional"
, anunciou o secretário de Negócios e Comércio Jonathan Reynolds numa declaração.

As regiões abrangidas pelas novas tarifas de Trump incluem, além da UE, Canadá, China, Japão e Austrália, e o objetivo declarado da Administração norte-americana passa por proteger a indústria siderúrgica dos EUA, que tem visto a produção diminuir de ano para ano face a uma concorrência cada vez mais forte, particularmente da Ásia.

Os Estados Unidos importam cerca de metade do aço e do alumínio utilizados no país, para setores tão variados como as indústrias automóvel e aeronáutica, a petroquímica e os produtos de consumo básicos, como os enlatados. Desde que regressou à Casa Branca, Donald Trump tem recorrido às tarifas, utilizando-as como instrumento de negociação com os parceiros comerciais, como incentivo à instalação de empresas no país e como fonte de receitas para as finanças federais.

Na terça-feira, o Eurostat anunciou que a UE registou um excedente de 198,2 mil milhões de euros na balança comercial com os Estados Unidos, em 2024, acima do de 155,8 mil milhões de euros de 2023. De acordo com o serviço estatístico da UE, em 2024, as exportações do bloco europeu para os EUA tiveram um aumento homólogo de 5,5 por cento, para os 531,6 mil milhões de euros, e as importações recuaram 4,0 por cento, para os 333,4 mil milhões de euros.

Em 2024, os cinco produtos mais exportados da UE para os Estados Unidos foram os medicinais e farmacêuticos (22,5 por cento), seguindo-se os veículos rodoviários (9,6 por cento), máquinas e equipamentos industriais gerais (6,4 por cento), as máquinas elétricas, os aparelhos e peças elétricas (6,0 por cento) e máquinas especializadas para indústrias específicas (5,0 por cento).
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