Varoufakis ao ataque: "o que estão a fazer com a Grécia tem um nome: terrorismo"

Assume o cansaço, mas mantém-se firme no campo de batalha. O mediático ministro das Finanças acusa a União Europeia de não gostar da democracia e de estar a fazer “terrorismo” com a Grécia. Seja qual for o resultado do referendo, Yanis Varoufakis garante que haverá acordo na segunda-feira. Mas sublinha que, em caso de vitória do “sim”, será um acordo “nefasto” e que não contará com a sua assinatura: Varoufakis deixará de ser ministro.

Christopher Marques - RTP /
Com o aumentar da tensão e do medo nas ruas gregas, Yanis Varoufakis não poupa nas palavras. François Lenoir - Reuters

O Governo grego não desarma. Depois de Alexis Tsipras ter acusado os credores de chantagear o povo grego, o seu ministro vai mais longe. Com o aumentar da tensão e do medo nas ruas gregas, Yanis Varoufakis não poupa nas palavras.

“O que estão a fazer com a Grécia tem um nome: terrorismo”, acusa.

Em entrevista ao diário espanhol El Mundo, o ministro grego acusa a Europa de ser responsável pelo curralito da última semana.Em caso de vitória do “sim”, “a recessão seria mais profunda, a esperança num futuro melhor se evaporaria e nós, europeus, deixaríamos de nos sentirmos donos do nosso destino”.

“A Europa, o lugar onde nasceu a democracia e o racionalismo, se converteria num lugar ditatorial e irracional”.


“Porque nos obrigaram a fechar os bancos? Para incutir o medo nas pessoas. E quando se trata de espalhar o terror, a este fenómeno chama-se terrorismo. Mas estou confiante de que o medo não vai ganhar”, afirma, mantendo a esperança que os gregos vão rejeitar o acordo.

O ministro helénico admite mesmo que sente estar em guerra e afirma que o problema da União Europeia é “não gostar da democracia”.

Explica Varoufakis que no Eurogrupo de 27 de junho, o dia seguinte à convocação do referendo, lhe foi dito que a proposta de acordo era um assunto “muito complicado para deixar a decisão final nas mãos do povo grego”.

“Isto é um ataque gigantesco à democracia. Democracia, se me recordo, é um sistema em que as pessoas normais tomam decisões muito complexas. A Europa, o lugar que inventou a democracia, converteu-se, quase sem darmos conta, em inimiga da democracia”, acusa.
Domingo é véspera de acordo
Segunda-feira, haverá acordo. A garantia é dada pelo ministro das Finanças da Grécia na entrevista ao El Mundo. Em caso de vitória do “sim”, explica que o acordo não terá a sua assinatura, mas que esse existirá.

“Segunda-feira haverá um acordo, estou completamente seguro. A Europa precisa de um acordo, logo chegaremos a acordo”, garante.

Mantém a retórica de que estão em jogo duas perspetivas de acordo, adotando, mais uma vez, a defesa do “não”. Em caso de vitória do “sim”, haverá um projeto “nefasto” para Atenas.
“Nefasto porque não é sustentável, porque a secção sobre financiamento está incompleta, porque não dá esperança aos empresários para investir na Grécia e porque nem sequer põe fim à tensão e ao medo de termos de estar constantemente a negociar”, assegura o professor de Economia.

“Assim que aceitássemos esse nefasto acordo que nos oferecem, o pesadelo das negociações, do dar e receber, continuaria”, conclui.

Em caso de vitória do sim, Varoufakis defende que Alexis Tsipras ficaria com “armas para conseguir negociar um melhor acordo”, mas ressalva que não seria um “acordo fantástico”.
Bancos abrem terça-feira
Ganhem quem ganhar na consulta popular, o ministro helénico garante que os bancos voltam a abrir na terça-feira.

Em caso de vencer o “sim”, Yanis Varoufakis está convicto que Mario Draghi voltará a aumentar o limite máximo da Linha de Liquidez de Emergência, o chamado ELA, e que, até à semana passada, assegurou a abertura e a liquidez dos bancos gregos.

“A linha de liquidez de emergências voltará a funcionar e os bancos voltarão a abrir portas na terça-feira”, afirma. O ministro mostra-se convicto que o fecho dos bancos foi uma forma usada pelos credores para condicionar o voto popular.
O primeiro-ministro grego também insiste no "não". Esta sexta-feira, num comício na Praça Syntagma, Alexis Tsipras disse que rejeitar as imposições dos credores é um exercício de democracia e que não significa uma ruptura com a Europa
“É difícil não sentir que estás em guerra quando te obrigam a fechar bancos por perguntar ao povo grego a sua opinião sobre uma proposta de acordo”.

“Se vencer o 'não', e apesar das ameaças com que estão a tentar condicionar o voto, Tsipras irá rapidamente a Bruxelas na segunda-feira, chegará a acordo e os bancos abrirão igualmente”, afirma Varoufakis.

O ministro grego das Finanças não aceita a ideia de que não haverá acordo com a rejeição da última proposta. Yanis Varoufakis considera que “há demasiado em jogo” para que tal aconteça.

“Se a Grécia cai, um bilhão de euros se perderá. É demasiado dinheiro e não me parece que a Europa se possa permitir a isto”.
"Existia um plano para acabar com o Governo"

Cinco meses depois de ter assumido a pasta, o mediático ministro admite o cansaço, mas garante estar bem e “a responder ao que se está a passar na Europa”. Aliás, o próprio admite que já esperava meses difíceis.

“Desejava com todas as minhas forças que não ocorresse, mas por outro lado já o esperava”, assume o responsável pelas Finanças helénicas. Um pressentimento que, garante, se mostrou logo na primeira semana. Bastou uma conversa com Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo.Em caso de vitória do “sim”, Yanis Varoufakis volta a garantir que se demite. Diz não falar pelo Governo, mas por ele próprio.

“Como já disse, prefiro cortar-me um braço do que assinar um acordo que sei não ser viável”.


“Deixou-me muito claro que apenas tínhamos duas opções: assinávamos o acordo que o anterior Governo grego tinha aceite ou punham fim ao programa de resgate".

"Perguntei-lhe se me estava a ameaçar com um Grexit logo na primeira reunião. Respondeu-me insistindo que se não assinássemos poria fim ao programa de resgate”, explica Varoufakis.

“Há cinco meses que existia um plano para acabar com um Governo que não aceita deixar-se chantagear pela máquina política europeia”, acusa Varoufakis.


Tópicos
PUB