Economia
Zona Euro contempla futuro sem Grécia
Enquanto em Atenas o primeiro-ministro grego trava uma batalha desesperada pela sobrevivência do seu Governo, multiplicam-se os sinais de que a Zona Euro se está a preparar para uma possível saída da Grécia da moeda única. Na cimeira do G20 em Cannes e em Bruxelas as declarações dos responsáveis apontam no mesmo sentido. Se recusarem o pacote de resgate decidido na cimeira europeia, os gregos não receberão mais dinheiro e terão de sair do euro.
Para já a sexta tranche do empréstimo à Grécia, no valor de oito mil milhões de euros, que já tinha sido aprovada e seria entregue na semana que vem, fica suspensa até que seja conhecida a decisão de um eventual referendo.
Fontes do Governo grego dizem que o Estado helénico tem dinheiro que chegue até meados de dezembro, após o que deixará de poder salários e as prestações da sua dívida externa.
Ultimato europeuIsso mesmo disseram Ângela Merkel e Nicholas Sarkozy, ontem em Cannes ao primeiro-ministro grego, cuja ideia de submeter a referendo o plano delineado em Bruxelas lançou ondas de choque nas capitais europeias e nos mercados mundiais. “Nem mais um cêntimo em ajuda” até que Atenas diga sem ambiguidades se tenciona cumprir os compromissos que assumiu.
“Os nossos amigos gregos devem decidir se querem continuar a viagem na nossa companhia” disse Sarkozy.
Por seu lado a Chanceler alemã exigiu a Papandreou que a pergunta que constar do referendo seja de facto “se os gregos pretendem ou não continuar no Euro”, fechando efetivamente as portas a qualquer renegociação do que ficou decido em Bruxelas.
Merkel disse que preferiria estabilizar o Euro mantendo a Grécia como membro, mas deixou claro que a prioridade principal é estabilizar a moeda única e não salvar os gregos.
Esta quinta-feira o mesmo tom foi adotado por outros responsáveis europeus.
Juncker: "Estamos preparados" para a saída da GréciaO líder do Eurogrupo, Jean-Claude Junker disse à televisão alemã ZDF que os responsáveis europeus estão a trabalhar em cenários possíveis para uma saída da Grécia do euro.
“Estamos a trabalhar neste tema para garantir que ele não se torne num desastre para o povo da Alemanha, do Luxemburgo, da Zona Euro. Estamos absolutamente preparados para essa situação”, disse.
O chefe de fila dos ministros das Finanças europeus disse também que desejava que a Grécia pudesse continuar na moeda única, mas que “não é possível ajudar os gregos contra a sua vontade” .
“Não podemos jogar às montanhas russas, de forma permanente, com a questão grega”, disse Jean-Claude Juncker, “temos de saber para onde vamos, e os gregos têm de dizer para onde querem ir”.
Interrogado sobre qual o ambiente que se viveu na reunião de ontem à noite entre Papandreou e os seus parceiros europeus, Junker respondeu com uma única palavra: “Podre”.
“Julgo que ele não estava muito à vontade”, disse o chefe do Eurogrupo, referindo-se a Papandreou. “Sem o criticar diretamente fizemos-lhe entender que a sua atitude tinha sido desleal, uma vez que gostaríamos que nos tivesse dito, durante a cimeira de quarta-feira, que tencionava submeter a questão a um referendo”.
“Independentemente da formulação da pergunta [do referendo] é claro que a Grécia se pronunciará no dia 4 de dezembro [a data adiantada por Papandreou para a realização do referendo] para dizer se sim ou não quer continuar na Zona Euro”, disse Jean-Claude Juncker, “gostaríamos que a Grécia continuasse membro, mas não a qualquer preço”.
Paris: "O Euro e a Europa podem sobreviver" sem a Grécia Também hoje, numa entrevista à rádio RTL o ministro dos Assuntos Europeus de França deixou claro aos gregos o que a Europa espera deles.
De acordo com Jean Leonneti, “o Euro e a Europa podem sobreviver” a uma saída da Grécia, uma vez que o peso económico do país representa apenas dois por cento do PIB da zona Euro e quatro por cento da dívida do bloco.
“Não vale a pena ter ilusões” disse o ministro francês, “ se a Grécia não quiser o plano não terá dinheiro” explicou.
“Não se pode querer ter a solidariedade de 17 países sem ter a contrapartida, a disciplina orçamental. E, nesse caso, o país irá à falência e sairá obrigatoriamente da Zona Euro, mas essa será uma decisão do povo grego, não se pode decidir em lugar dele”, disse.
“Podemos ajudá-los, salvá-los, mas não contra a vontade deles. Não é porque o remédio é amargo que deixa de se tomar, quando a doença é seria”, insistiu.
“O Euro e a Europa podem sobreviver a isto (…) para mim que sou ministro dos Assuntos Europeus seria um golpe moral, mas do ponto de vista económico, é possível” disse referindo-se a um abandono da moeda única por parte da Grécia.
Quanto ao impacto possível de um tal cenário, Jean Leonnetti prevê “a explosão” dos bancos gregos, mas consequências que são passíveis de ser geridas nos bancos franceses “cuja exposição à dívida grega é entre oito a 10 mil milhões de euros, ou seja o valor da recapitalização dos bancos franceses durante o primeiro semestre”.
Bancos alemães estão preparadosNo mesmo sentido vão as declarações do setor bancário alemão.
Na opinião de Thomas Meyer, chefe do gabinete de estudos económicos do Deutsche Bank, o maior banco privado alemão, uma eventual saída da Grécia do euro seria "suportável" para os bancos
"Não seria bom, mas a Grécia é um pequeno país, e além disso os bancos já se prepararam para um corte substancial da dívida grega", disse Meyer hoje à rádio pública Deutschlandfunk.
O economista alemão acrescentou que, caso os gregos votem contra o programa de ajuda da União Europeia e do FMI, no planeado referendo, "muito provavelmente" a Grécia terá de renunciar ao euro.
Para Meyer, no entanto, o futuro da moeda única não depende da Grécia, mas sim da Itália, "porque a Itália é demasiado grande para receber ajudas dos outros países".
"Xeque mate" a Papandreou?Há entretanto dúvidas de que o anunciado referendo vá mesmo por diante, à medida que crescem as dúvidas sobre a própria sobrevivência do Governo grego.
Vários deputados do Pasok já disseram que não votarão a favor na moção de confiança de amanhã, o que deixa o executivo de Papandreou sem uma maioria parlamentar.
Paralelamente, crescem os apelos, da oposição e mesmo entre os próximos do primeiro-ministro, a que seja constituído um Governo de unidade nacional, para levar a bom porto o que ficou acordado com as instâncias internacionais.
No entanto Papandreou parece decidido a lutar até ao fim. Um porta-voz do chefe do Governo disse esta manhã que este “não tem quaisquer intenções de se demitir” . Para já está a decorrer uma reunião de crise do conselho de ministros que antecede uma outra com o grupo parlamentar da maioria socialista.
Um "elemento de topo" do Partido Socialista grego, citado pela Bloomberg, afirmava ao final da manhã que o primeiro-ministro deve retirar a proposta para a realização do referendo, face à revolta no seio do executivo e dos deputados.
Papandreou conta com a oposição de cinco ministros ao plano de referendo, entre os quais o poderoso ministro das Finanças e seu antigo rival pela liderança do partido, Evangelos Venizélos.
Ao regressar ontem de Cannes, Venizélos emitiu uma declaração a dizer que “a participação da Grécia no euro é uma conquista do povo grego que não pode estar dependente de um referendo”.
O ministro das Finanças, que não terá sido avisado antecipadamente da decisão de convocar o referendo nesta altura, disse que “nestas condições, um referendo é exatamente aquilo de que o país não precisa”.
Comissão Europeia avisa que não é possível deixar o euro sem deixar a UEA subir ainda mais a parada, uma porta-voz da Comissão Europeia advertiu já esta manhã, que o Tratado da União Europeia (UE) não prevê que um país possa sair do euro sem abandonar a EU
"O Tratado não prevê a saída da zona euro sem sair da UE. Esta é a situação atual", disse a porta-voz na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia.
A porta-voz Karolina Kottova sublinhou que a questão grega está a ser discutida "ao mais alto nível" na cimeira do G20, realçando que nesta fase estão em cima da mesa "cenários hipotéticos" levantados pelo referendo anunciado pelo primeiro-ministro helénico, Georges Papandreou.
Fontes do Governo grego dizem que o Estado helénico tem dinheiro que chegue até meados de dezembro, após o que deixará de poder salários e as prestações da sua dívida externa.
Ultimato europeuIsso mesmo disseram Ângela Merkel e Nicholas Sarkozy, ontem em Cannes ao primeiro-ministro grego, cuja ideia de submeter a referendo o plano delineado em Bruxelas lançou ondas de choque nas capitais europeias e nos mercados mundiais. “Nem mais um cêntimo em ajuda” até que Atenas diga sem ambiguidades se tenciona cumprir os compromissos que assumiu.
“Os nossos amigos gregos devem decidir se querem continuar a viagem na nossa companhia” disse Sarkozy.
Por seu lado a Chanceler alemã exigiu a Papandreou que a pergunta que constar do referendo seja de facto “se os gregos pretendem ou não continuar no Euro”, fechando efetivamente as portas a qualquer renegociação do que ficou decido em Bruxelas.
Merkel disse que preferiria estabilizar o Euro mantendo a Grécia como membro, mas deixou claro que a prioridade principal é estabilizar a moeda única e não salvar os gregos.
Esta quinta-feira o mesmo tom foi adotado por outros responsáveis europeus.
Juncker: "Estamos preparados" para a saída da GréciaO líder do Eurogrupo, Jean-Claude Junker disse à televisão alemã ZDF que os responsáveis europeus estão a trabalhar em cenários possíveis para uma saída da Grécia do euro.
“Estamos a trabalhar neste tema para garantir que ele não se torne num desastre para o povo da Alemanha, do Luxemburgo, da Zona Euro. Estamos absolutamente preparados para essa situação”, disse.
O chefe de fila dos ministros das Finanças europeus disse também que desejava que a Grécia pudesse continuar na moeda única, mas que “não é possível ajudar os gregos contra a sua vontade” .
“Não podemos jogar às montanhas russas, de forma permanente, com a questão grega”, disse Jean-Claude Juncker, “temos de saber para onde vamos, e os gregos têm de dizer para onde querem ir”.
Interrogado sobre qual o ambiente que se viveu na reunião de ontem à noite entre Papandreou e os seus parceiros europeus, Junker respondeu com uma única palavra: “Podre”.
“Julgo que ele não estava muito à vontade”, disse o chefe do Eurogrupo, referindo-se a Papandreou. “Sem o criticar diretamente fizemos-lhe entender que a sua atitude tinha sido desleal, uma vez que gostaríamos que nos tivesse dito, durante a cimeira de quarta-feira, que tencionava submeter a questão a um referendo”.
“Independentemente da formulação da pergunta [do referendo] é claro que a Grécia se pronunciará no dia 4 de dezembro [a data adiantada por Papandreou para a realização do referendo] para dizer se sim ou não quer continuar na Zona Euro”, disse Jean-Claude Juncker, “gostaríamos que a Grécia continuasse membro, mas não a qualquer preço”.
Paris: "O Euro e a Europa podem sobreviver" sem a Grécia Também hoje, numa entrevista à rádio RTL o ministro dos Assuntos Europeus de França deixou claro aos gregos o que a Europa espera deles.
De acordo com Jean Leonneti, “o Euro e a Europa podem sobreviver” a uma saída da Grécia, uma vez que o peso económico do país representa apenas dois por cento do PIB da zona Euro e quatro por cento da dívida do bloco.
“Não vale a pena ter ilusões” disse o ministro francês, “ se a Grécia não quiser o plano não terá dinheiro” explicou.
“Não se pode querer ter a solidariedade de 17 países sem ter a contrapartida, a disciplina orçamental. E, nesse caso, o país irá à falência e sairá obrigatoriamente da Zona Euro, mas essa será uma decisão do povo grego, não se pode decidir em lugar dele”, disse.
“Podemos ajudá-los, salvá-los, mas não contra a vontade deles. Não é porque o remédio é amargo que deixa de se tomar, quando a doença é seria”, insistiu.
“O Euro e a Europa podem sobreviver a isto (…) para mim que sou ministro dos Assuntos Europeus seria um golpe moral, mas do ponto de vista económico, é possível” disse referindo-se a um abandono da moeda única por parte da Grécia.
Quanto ao impacto possível de um tal cenário, Jean Leonnetti prevê “a explosão” dos bancos gregos, mas consequências que são passíveis de ser geridas nos bancos franceses “cuja exposição à dívida grega é entre oito a 10 mil milhões de euros, ou seja o valor da recapitalização dos bancos franceses durante o primeiro semestre”.
Bancos alemães estão preparadosNo mesmo sentido vão as declarações do setor bancário alemão.
Na opinião de Thomas Meyer, chefe do gabinete de estudos económicos do Deutsche Bank, o maior banco privado alemão, uma eventual saída da Grécia do euro seria "suportável" para os bancos
"Não seria bom, mas a Grécia é um pequeno país, e além disso os bancos já se prepararam para um corte substancial da dívida grega", disse Meyer hoje à rádio pública Deutschlandfunk.
O economista alemão acrescentou que, caso os gregos votem contra o programa de ajuda da União Europeia e do FMI, no planeado referendo, "muito provavelmente" a Grécia terá de renunciar ao euro.
Para Meyer, no entanto, o futuro da moeda única não depende da Grécia, mas sim da Itália, "porque a Itália é demasiado grande para receber ajudas dos outros países".
"Xeque mate" a Papandreou?Há entretanto dúvidas de que o anunciado referendo vá mesmo por diante, à medida que crescem as dúvidas sobre a própria sobrevivência do Governo grego.
Vários deputados do Pasok já disseram que não votarão a favor na moção de confiança de amanhã, o que deixa o executivo de Papandreou sem uma maioria parlamentar.
Paralelamente, crescem os apelos, da oposição e mesmo entre os próximos do primeiro-ministro, a que seja constituído um Governo de unidade nacional, para levar a bom porto o que ficou acordado com as instâncias internacionais.
No entanto Papandreou parece decidido a lutar até ao fim. Um porta-voz do chefe do Governo disse esta manhã que este “não tem quaisquer intenções de se demitir” . Para já está a decorrer uma reunião de crise do conselho de ministros que antecede uma outra com o grupo parlamentar da maioria socialista.
Um "elemento de topo" do Partido Socialista grego, citado pela Bloomberg, afirmava ao final da manhã que o primeiro-ministro deve retirar a proposta para a realização do referendo, face à revolta no seio do executivo e dos deputados.
Papandreou conta com a oposição de cinco ministros ao plano de referendo, entre os quais o poderoso ministro das Finanças e seu antigo rival pela liderança do partido, Evangelos Venizélos.
Ao regressar ontem de Cannes, Venizélos emitiu uma declaração a dizer que “a participação da Grécia no euro é uma conquista do povo grego que não pode estar dependente de um referendo”.
O ministro das Finanças, que não terá sido avisado antecipadamente da decisão de convocar o referendo nesta altura, disse que “nestas condições, um referendo é exatamente aquilo de que o país não precisa”.
Comissão Europeia avisa que não é possível deixar o euro sem deixar a UEA subir ainda mais a parada, uma porta-voz da Comissão Europeia advertiu já esta manhã, que o Tratado da União Europeia (UE) não prevê que um país possa sair do euro sem abandonar a EU
"O Tratado não prevê a saída da zona euro sem sair da UE. Esta é a situação atual", disse a porta-voz na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia.
A porta-voz Karolina Kottova sublinhou que a questão grega está a ser discutida "ao mais alto nível" na cimeira do G20, realçando que nesta fase estão em cima da mesa "cenários hipotéticos" levantados pelo referendo anunciado pelo primeiro-ministro helénico, Georges Papandreou.