O primeiro dia do papa Francisco em Portugal

por RTP

Terminamos aqui o acompanhamento ao minuto do primeiro dia de Francisco em Lisboa, que ficou marcado pelos dois primeiros discursos do chefe da Igreja Católica na viagem a Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude.

Francisco chegou a Lisboa durante a manhã, sendo recebido no aeroporto pelo presidente da República. Reuniu-se depois em privado com Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém.

No livro de honra dos chefes de Estado, Francisco escreveu em português: “Lisboa, cidade do encontro, inspira caminhos para enfrentarmos juntos as grandes questões da Europa e do mundo”.

Ainda em Belém, ao final da manhã, Francisco seguiu para o Centro Cultural de Belém, onde saudou a sociedade civil e o corpo diplomático. No primeiro discurso em contexto da passagem por Portugal, o papa não esqueceu os problemas ambientais e criticou o investimento em armas.

“Investe-se nas armas e não se investe no futuro dos filhos”, resumiu num discurso em italiano. Para o papa, o melhor investimento é o que se faz nos “filhos” e pediu uma Europa que seja capaz de encontrar um espírito jovem sem “colonizações ideológicas”, capaz de construir pontes com os outros continentes.

Mencionou ainda a Lei da Eutanásia, recentemente aprovada em Portugal. Criticou o que classifica como “leis sofisticadas” que colocam a vida humana “em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam”.

Francisco seguiu depois para a Nunciatura Apostólica, sempre acompanhado por centenas de pessoas nas ruas para o verem de perto. Protagonizou alguns momentos de quebra de protocolo, ao abençoar bebés que foram levados até ao chefe da Igreja Católica.

Na Nunciatura Apostólica, embaixada do Vaticano em Lisboa, que será a sua casa nos próximos dias, Francisco recebeu em audiência o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o primeiro-ministro, António Costa.

Com um novo banho de multidão pelo caminho, o papa voltou depois a Belém para celebrar a oração das Vésperas, no Mosteiro dos Jerónimos, com os Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Consagrados e Consagradas, Seminaristas e Agentes Pastorais.

Perante o clero português, Francisco apelou a “santificação humilde e constante” por parte da Igreja “partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”.

Reconheceu que por vezes o “mau testemunho” da Igreja e os “escândalos que desfiguram o seu rosto” contribuem para acentuar “a aversão que alguns nutrem face à Igreja”.

Neste segundo discurso em Portugal, desta feita em castelhano, Francisco alertou para os riscos da “resignação e pessimismo” provocados por estes acontecimentos e pediu à Igreja portuguesa para “lançar de novo as redes”, aludindo ao texto bíblico sobre o encontro de Jesus com um grupo de pescadores.

Os vários representantes da Igreja Católica Portuguesa não ficaram indiferentes às duras palavras do papa Francisco.


No final da cerimónia, Francisco seguiu de novo para a Nunciatura Apostólica, onde irá pernoitar.

De resto, o dia ficou marcado pela instalação de três cartazes em Lisboa, Loures e Algés com a denúncia dos abusos sexuais sofridos no seio da Igreja Católica. O movimento "This is Our Memorial" quis desta forma "dar voz às vítimas" e denunciar o "silêncio ensurdecedor" numa altura em que se realiza a JMJ.

Ao início da tarde, um dos cartazes (em Algés) foi retirado pela Câmara de Oeiras.

Ainda nesta temática, de realçar que Francisco reuniu logo esta quarta-feira, ao final do dia, com vítimas de abusos no seio da Igreja Católica. Este encontro sigiloso não fazia parte do programa oficial da Jornada Mundial da Juventude e decorreu na Nunciatura Apostólica.

O papa escutou 12 testemunhos de viva voz e recebeu cartas de outros portugueses vitimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes.

Para esta quinta-feira, segundo dia da visita a Portugal, está previsto um encontro com jovens universitários na Universidade Católica Portuguesa, logo ao início da manhã. Seguir-se-á depois o encontro com jovens de Scholas Occurrentes, em Cascais.

O dia termina com a Cerimónia do Acolhimento, na Colina do Encontro (Parque Eduardo VII).
pub