Resultado da democracia grega coloca Europa sob alerta vermelho

por Christopher Marques - RTP
Yannis Behrakis - Reuters

Oxi, Não, Non, Nein. De uma forma esmagadora, os gregos rejeitaram o acordo com os credores. Mais de sessenta por cento dos gregos votaram “não”, num resultado favorável ao Governo de Alexis Tsipras. O primeiro-ministro grego garante que a Grécia vai permanecer na Europa, mas a vitória do “não” já faz soar os alarmes um pouco por toda a Europa. Mais uma vez, a próxima semana parece ser decisiva e imprevisível.

Acordo rejeitado. Ao contrário do que previam as sondagens divulgadas ao longo da semana, o “não” conseguiu uma vitória esmagadora. Mais de 61 por cento dos votantes rejeitaram a última proposta apresenta pelos credores. Um resultado que deixa satisfeito o primeiro-ministro helénico.

Alexis Tsipras afirma ter percebido que o mandato que lhe é dado não é para sair da Zona Euro. No seu discurso à nação, transmitido quando eram cerca de 22h00 em Lisboa, Tsipras avisou que não há “soluções fáceis” mas que há “soluções viáveis”. O povo grego, alega o primeiro-ministro, deu a resposta certa.
O governante diz que o povo helénico mostrou em que Europa quer viver: uma “Europa da democracia e da solidariedade”.

Tsipras garante que Atenas regressa amanhã às negociações, com o primeiro objetivo de conseguir que o sistema bancário retome o seu funcionamento normal. Antonis Samaras, líder da Nova Democracia e antigo primeiro-ministro grego, pediu a demissão após serem conhecidos os resultados do referendo.

O governante apela à unidade e à coesão do país, de forma a ultrapassar as dificuldades.

Alexis Tsipras solicitou ao Presidente grego a convocação de uma reunião com todos os líderes partidários, que deverá realizar-se na segunda-feira, antes do retomar das negociações.
“Democracia venceu o medo e a chantagem”
Antes mesmo de se dirigir à nação, o primeiro-ministro helénico deixou uma primeira mensagem no site oficial do Governo. Tsipras sublinhou tratar-se de um dia de celebração, uma vez que “a democracia venceu o medo e a chantagem”.
"O povo grego enviou uma mensagem muito poderosa. Uma mensagem de dignidade, de determinação. A mensagem de que estão a tomar o controlo das suas próprias escolhas”, escreve Tsipras.
Tsipras defende que o povo grego apresentou a mensagem de que quer “permanecer na Europa mas também viver em dignidade na Europa. Para prosperar, para trabalhar de igual para igual”, escreve Tsipras.

Antes, também Yanis Varoufakis se tinha dirigido aos gregos.

O ministro grego das Finanças afirmou que vitória do “não” é um “sim a uma Europa democrática”
Yanis Varoufakis sublinhou que Atenas quer trabalhar com o BCE e que pretende ter um “papel decisivo para cicatrizar a ferida da Grécia”, apontando que esta “é uma ferida para toda a Europa”.

“O não de hoje é um grande sim à democracia, um grande sim também para os povos da Europa, um grande sim para a visão de uma Zona Euro enquanto lugar de prosperidade e de justiça social”, afirmou Varoufakis.
Reações europeias
O resultado dá uma importante margem de manobra ao Governo do Syriza e apresenta-se pouco favorável para os credores. Nos diretórios europeus e nas principais capitais europeias, soam os alarmes. Por parte da Comissão Europeia, a reação é ainda curta.
Reportagem de Raquel Morão Lopes – Antena 1

Num comunicado, a Comissão Europeia revela que toma nota da decisão do povo e que a respeita. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, irá contactar na sexta-feira com Donald Tusk, Mario Draghi e Jeroen Dijsselbloem, os presidentes do Conselho Europeu, Banco Central Europeu e do Eurogrupo.

O presidente da Comissão Europeia está também em consultas com os "outros" 18 líderes da Zona Euro.
Moscovo considera que a Grécia “deu um passo em direção à saída da Zona Euro”. No entanto, sublinha que é prematuro dizer que Atenas “irá até ao fim desse caminho”
Entretanto, François Hollande e Angela Merkel já mantiveram uma pequena conversa sobre o assunto. A chanceler alemã viaja na segunda-feira até Paris, para reunir com o chefe de Estado francês.

Os dois já solicitaram uma reunião dos chefes de Estado e de Governo da Zona Euro. Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, assentiu.


Os chefes de Estado e de Governo da Zona Euro vão reunir na terça-feira para discutir o resultado do referendo na Grécia.
Resultado "lamentável"
Durante a noite, também Jeroen Dijsselbloem reagiu ao resultado do referendo, através de um comunicado.

“Tomo nota do resultado do referendo grego. O resultado é lamentável para o futuro da Grécia. Para a recuperação da economia grega, medidas e reformas difíceis são inevitáveis”, diz o presidente do Eurogrupo.

O Eurogrupo espera agora por uma nova iniciativa das autoridades gregas, e discutirá o assunto esta terça-feira, dia 7 de julho.
Tsipras "derrubou pontes"
Entretanto, alguns dirigentes europeus já trouxeram algumas palavras mais duras para o debate político. O ministro eslovaco das Finanças considerou que a saída da Grécia da Zona Euro, o famoso Grexit, é agora um “cenário realista”.

“O pesadelo dos arquitetos do euro de que um país possa sair do clube parece um cenário realista depois da Grécia ter votado não”, escreveu Peter Kazimir na sua conta do twitter.
As palavras mais duras chegaram mesmo da Alemanha. Enquanto Angela Merkel se mantinha em silêncio, o vice-chanceler defendia que a vitória do “não” torna a realização de novas negociações “dificilmente imagináveis”.

Alexis Tsipras “derrubou” as últimas pontes entre a Grécia e a Europa, afirmou socialista Sigmar Gabriel, vice-chanceler germânico.
Calendário de reuniões

A Europa lança-se agora numa semana decisiva. Na segunda-feira, Jean-Claude Juncker conversa por videoconferência com Mario Draghi, Donald Tusk e Jeroen Dijsselbloem. À tarde, François Hollande recebe Angela Merkel em Paris.

O Euroworking group, instância de preparação das reuniões dos ministros das Finanças da Zona Euro, reúne-se também esta segunda-feira.
Na terça-feira, o assunto chega ao topo político europeu.

Os chefes de Estado e de Governo da Zona Euro reúnem-se numa cimeira extraordinária convocada por Donald Tusk, a pedido de Angela Merkel e François Hollande. Também na terça-feira, o Eurogrupo deve reunir-se.

É uma Europa que procura reerguer-se de um resultado que não aguardava.

“O ‘oxi’ não era o esperado. Agora é preciso reagir”, resumia ao início da noite António Esteves Martins, correspondente da RTP em Bruxelas.

Tem agora início uma semana que promete ser decisiva e que é, neste momento, imprevisível.
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