Embaixador russo em Portugal responde a Cravinho e nega ambição de Moscovo de destruir UE

por RTP
Olivier Matthys - EPA

Em resposta a uma entrevista do ministro português dos Negócios Estrangeiros, o embaixador da Rússia em Lisboa, Mikhail Kamynin, negou, esta quinta-feira, que Moscovo pretenda destruir a União Europeia e acusou os líderes europeus de "desperdiçar mil milhões de euros" para militarizar Kiev. Kamynin acusa ainda o Ocidente de ser responsável pela situação atual na Ucrânia.

“A Rússia nunca procurou ‘destruir o projeto europeu”, do que se convenceram erradamente funcionários na UE”, escreveu o embaixador russo em Portugal numa publicação no Facebook da Embaixada da Rússia em Portugal.

O comentário surge em resposta às declarações de João Gomes Cravinho à agência Lusa, na terça-feira, que acusou Putin de “não querer apenas um pedaço de território ucraniano”, mas também “destruir o projeto europeu”.

"A história das nossas relações com Bruxelas, as iniciativas russas dedicadas à construção de um espaço único da cooperação e segurança de Lisboa a Vladivostok [maior cidade portuária da Rússia no oceano Pacífico], bem como o cumprimento consciente por Moscovo de compromissos de parceria no âmbito tanto político como económico, são provas ilustrativas disto", frisou o embaixador russo.

Mikhail Kamynin acusa ainda os líderes europeus de estarem "envolvidos diretamente no atual conflito na Ucrânia" e de estarem a “desperdiçar mil milhões de euros” para militarizar Kiev.

"Não escondem que desejam uma `derrota estratégica` da Rússia no campo de batalha ao não conseguir abafar Moscovo pelas sanções económicas ilegais e isolá-lo no palco internacional. Esta aspiração é tão forte que estão prontos para desperdiçar mil milhões de euros dos contribuintes a fim de militarizar Kiev, ao ignorar ao mesmo tempo os seus numerosos problemas internos", escreveu o diplomata russo no comunicado.

Na mesma publicação em resposta a Cravinho, o embaixador russo afirma ainda que “foram as ações hostis do Ocidente coletivo contra a Rússia que provocaram a situação atual na Ucrânia”, recuando aos protestos entre 2013 e 2014, que culminaram numa onda de agitação civil que levou à demissão do então presidente ucraniano pró-russo Viktor Yanukovych e do seu governo.

"É óbvio que o golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014, que exatamente hoje faz dez anos, não teria sido possível sem a participação direta dos Estados Unidos e de alguns membros da União Europeia", realçou.

Para Mikhail Kamynin, Washington e Bruxelas apoiaram "o empenho determinado de neonazis, que chegaram ao poder, na rutura dos laços historicamente estreitos com Moscovo".
Dois anos desde o início da invasão russa
O embaixador russo salientou ainda que "a política das novas autoridades ucranianas tem sido acompanhada por assassinatos de líderes de opinião pró-russos, discriminação linguística e opressões religiosas".

"Por fim, em 2014, o regime de Kiev desencadeou um genocídio da população do Donbass chamada ‘operação antiterrorista’, cujas vítimas mortais foram mais de 13 mil pessoas, inclusive crianças", vincou.

No sábado assinalam-se dois anos sobre a ofensiva militar russa no território ucraniano que mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial.

Na entrevista à Lusa, João Gomes Cravinho disse ainda acreditar numa vitória ucraniana, afirmando que Kiev “já demonstrou que quando está dotada dos meios necessários, consegue repelir os invasores”.


Para além disso, o ministro dos Negócios Estrangeiros ressalvou que “a Rússia já demonstrou também a sua elevada incompetência militar e os ganhos territoriais que tem conseguido são, aliás, muito pequenos, que foram feitos a um custo que nenhum regime decente aceitaria de milhares e milhares de mortos por cada metro quadrado de território”.
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