Shell justifica "decisão difícil" de comprar petróleo russo

Após comprar 100 mil toneladas de petróleo bruto à Rússia, por um valor com desconto, a Shell tentou justificar "decisão difícil" e garantiu que o lucro seria remetido para um fundo dedicado à ajuda humanitária na Ucrânia. A gigante petrolífera confirmou que na sexta-feira comprou petróleo russo, apesar da ofensiva ao país vizinho, mas que "não tinha alternativa".

Inês Moreira Santos - RTP /
Numa declaração pública, a Shell disse continuar "chocada com a guerra na Ucrânia" e ter interrompido a maioria das atividades que envolviam petróleo russo. Etienne Laurent - EPA

“Ontem tomámos a decisão difícil de comprar uma carga de petróleo bruto russo”, declarou a Shell, num comunicado no sábado. “Não tomamos esta decisão de ânimo leve e entendemos os sentimentos que gerou”.

Na declaração pública, a empresa disse que continua "chocada com a guerra na Ucrânia" e que interrompeu a maioria das atividades que envolviam petróleo russo, mas acrescentou que a situação com os fornecimentos é "altamente complexa".



Já deixámos clara a nossa intenção de encerrar as joint ventures [alianças entre empresas] com a Gazprom – que é maioritariamente de propriedade russa – e com entidades associadas, assim como pretendemos pôr fim ao nosso envolvimento num projeto significativo para transportar gás da Rússia”, recorda a petrolífera.

A empresa petrolífera britânica justificou, então, não ter tido alternativa e ter comprado o petróleo à Rússia, que atualmente está a apenas 28,50 dólares por barril.

"Para sermos claros, sem um fornecimento ininterrupto de petróleo bruto para as refinarias, o setor de energia não pode garantir o fornecimento contínuo de produtos essenciais para as pessoas em toda a Europa nas próximas semanas".

As remessas de fontes alternativas, segundo a Shell, “não teriam chegado a tempo de evitar interrupções no abastecimento do mercado”.

A empresa acrescentou que tentará escolher alternativas ao petróleo russo "sempre que possível" e que os lucros do petróleo russo irão para um fundo dedicado destinado a ajudar as pessoas na Ucrânia.

Além disso, a petrolífera assegurou manter conversações com governos e continuar “a seguir as suas orientações quanto à questão da segurança do abastecimento” de energia e as consequências da guerra.
"O petróleo russo não cheira a sangue ucraniano?"

O petróleo russo representa atualmente cerca de oito por cento da quota da empresa. Uma das refinarias da Shell, que produz diesel, gasolina e outros produtos, também está entre as maiores da Europa.

Mas a decisão da petrolífera, ao comprar petróleo russo numa altura em que as concorrentes assumem que vão suspender os negócios com a Rússia, gerou consternação internacional.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, criticou a empresa de energia, questionando no Twitter: "O petróleo russo não vos cheira a sangue ucraniano?"



Embora a compra não viole quaisquer sanções introduzidas pelos países ocidentais, Kuleba pediu às empresas que continuem a pressionar a Rússia.

Até agora, os países ocidentais não impuseram sanções às importações de petróleo russo, temendo que isso aumente os preços da energia já a ascender a valores recorde em todo o mundo.

Mas, no domingo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, declarou que a Casa Branca estava em "discussões ativas" com parceiros europeus sobre a possível proibição, ao mesmo tempo em que mantêm uma "oferta global estável".

A Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo bruto depois da Arábia Saudita, e fornece cerca de um terço das necessidades da Europa. Já na sexta-feira, a Shell afirmou que a empresa está a tentar manter o fornecimento de combustíveis e, neste momento, não tinha fornecedores alternativos de petróleo para chegarem à Europa a tempo.

A recente compra ocorreu após a Shell anunciar que encerraria todas as "joint ventures" com a empresa de energia russa Gazprom após a invasão da Ucrânia - o que envolverá a venda da sua participação de 27,5 por cento numa grande central de gás natural liquefeito e uma participação de 50 por cento em dois projetos de campos petrolíferos na Sibéria. Além disso, vai terminar o envolvimento no gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha.
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