Em Gaza, as bombas dão lugar aos bulldozers

O que sobrou na Faixa de Gaza dos ataques israelitas está agora a ser completamente obliterado da paisagem palestiniana pelos bulldozers de Israel. Imagens de satélite mostram a enorme destruição em diversas áreas que o exército israelita afirma ter sob "controlo operacional".

Cristina Santos - RTP /
Bulldozer israelita em manobras dentro da Faixa de Gaza, no dia 25 de junho. Foto: Amir Cohen - Reuters

Israel já demoliu milhares de prédios na Faixa de Gaza desde o fim do cessar-fogo com o Hamas em março.

Nas últimas semanas, cidades e subúrbios inteiros, onde antes viveram dezenas de milhares de pessoas, foram completamente arrasados.São demolições planeadas para deitar por terra edifícios atingidos pelas bombas israelitas e os prédios que pareciam praticamente intactos.

Imagens verificadas e validadas por fontes independentes mostram grandes explosões e enormes nuvens de poeira e detritos. As forças israelitas vão demolindo o que já foram prédios de habitação, escolas e outras infraestruturas palestinianas.

À BBC Verify ((iniciativa da estação pública britânica BBC dedicada à verificação de factos), diversos especialistas jurídicos afirmam que Israel voltou a cometer crimes de guerra. Isto porque a Convenção de Genebra proíbe categoricamente a destruição de infraestruturas por uma potência ocupante.

Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) justifica as demolições porque o Hamas ocultou "ativos militares" em áreas civis.  Este porta-voz, citado pela BBC, assegura que a "destruição de infraestruturas só é realizada perante uma necessidade militar imperativa".

O Estado hebraico não está a deixar pedra sobre pedra na Faixa de Gaza. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, anunciou os planos para criar uma "cidade humanitária" sobre as ruínas de Rafah. Uma aérea para 600 mil palestinianos numa fase inicial. 

O plano foi condenado por inúmeras vozes, incluindo dentro de Israel. Por exemplo, o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert referiu-se ao projeto “como semelhante a um campo de concentração".

Precisamente em Rafah, as imagens de satélite de um dos bairros que outrora foi dos mais concorridos mostram como a destruição se intensificou desde 13 de julho. Isto porque os prédios que as bombas danificaram foram demolidos

As demolições israelitas também são visíveis em outras partes da Faixa de Gaza. A cidade agrícola de Khuza'a, a cerca de 1,5 quilómetros da fronteira com Israel tinha, antes da guerra, uma população de 11 mil habitantes. Era conhecida pela fertilidade da terra e pelas plantações de tomate, trigo e azeitonas.

As Forças de Defesa de Israel revelam ter demolido 1.200 prédios em Khuza'a, porque, alegadamente, faziam parte de "infraestruturas terroristas" administradas pelo Hamas.

Não há sinais de redução no ritmo das demolições e, na semana passada, as Forças de Defesa de Israel (IDF) receberam dezenas de tratores D9 dos EUA. A BBC Verify identificou dezenas de anúncios a oferecer trabalho em demolições na Faixa de Gaza.

Um dos empreiteiros que procura mão-de-obra para as demolições quando foi contactado pela BBC Verify para comentar: "Vá [palavrão] você e Gaza".

Quanto à ajuda humanitária, na quinta-feira, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários admitiu que "não temos vocabulário suficiente para descrever as condições em Gaza".
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