"Não temos provas disso". EUA contrariam acusações de genocídio em Gaza

por Graça Andrade Ramos - RTP
O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, perante a Comissão do Serviço Militar do Senado norte-americano Amanda Andrade-Rhoades - Reuters

O secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, garantiu esta terça-feira que os Estados Unidos "não têm provas" de que Israel esteja a cometer um genocídio em Gaza.

Questionado pela Comissão do Serviço Militar do Senado dos EUA, esta terça-feira, Austin defendeu Israel das acusações de que estará a conduzir um extermínio em massa na Faixa de Gaza.

"Não temos provas disso", afirmou. O secretário da Defesa alertou apesar disso que, se Israel fracassar na distinção entre povo palestiniano e o Hamas, isso "irá apenas criar mais terrorismo".

Também uma fome mortal generalizada na Faixa de Gaza irá prolongar o atual conflito, reconheceu, em resposta a perguntas sobre o impacto desta ocorrência. "Irá acelerar a violência e terá como efeito garantir que o conflito se prolongue", respondeu Lloyd Austin.

Tal "não tem de suceder", acrescentou. "Deveríamos continuar a fazer tudo o que podemos, e vamos fazê-lo, para encorajar os israelitas a providenciar assistência humanitária".

Israel tem sido acusado de não estar a garantir o acesso em Gaza a alimentos, medicamentos e outros bens de primeira necessidade urgentes.

O responsável pela política externa da União Europeia, Josep Borell, acusou mesmo os israelita de usarem a fome como "arma de guerra".

Completaram-se seis meses desde o ataque relâmpago de 7 de outubro no sul de Israel, por parte do Hamas, no qual este adquiriu cerca de 250 reféns e onde matou 1.200 pessoas. 

Neste período, a ofensiva de Israel, para libertar os reféns e destruir de vez o grupo islamita palestiniano, reduziu a escombros áreas inteiras da Faixa de Gaza e fez mais de 33.000 mortos de acordo com o Hamas.

Milhares de habitantes de Gaza vivem na rua, sem cuidados médicos e em risco crescente de fome, devido ao cerco estabelecido por Israel para impedir que o Hamas seja reabestecido de armamento a partir do exterior, através de comboios pretensamente humanitários.

O secretário norte-americano da Defesa confirmou esta terça-feira a necessidade de garantir que a ajuda chegue de forma mais rápida e sustentada.
Armamento para Israel
Enquanto responsável pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, Lloyd Austin irá ser crescentemente confrontado com a venda de armamento a Israel, uma questão levantada na última semana por grupos humanitários e que tem sido levada também junto dos governos da Alemanha e do Reino Unido.

A representante democrata Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara Baixa e uma aliada chave do presidente Jor Biden, foi uma das signatárias de uma carta enviada por dezenas de congressistas democratas a apelar pela cessação do fornecimento de armas a Israel.

A pressão internacional sobre Israel tem-se acentuado, devido não só às condições desastrosas vividas na Faixa de Gaza, mas também à ameaça de ofensiva militar contra Rafah, uma cidade no sul de Gaza onde se refugiaram cerca de um milhão de habitantes.

Israel mantém que na cidade se encontram quatro unidades do Hamas, que quer eliminar e não desiste do ataque, apesar da oposição dos Estados Unidos.

Washington está a por todas as fichas na tentativa de forçar ambas as partes a um cessar-fogo que impeça a ofensiva a Rafah.

Em cima da mesa nas negociações que decorrem no Cairo, está uma proposta dinamizada pelos norte-americanos, que prevê a troca dos reféns israelitas por prisioneiros palestinianos e seis semanas de tréguas.

O Hamas já lamentou que a proposta não responda às suas exigências, que incluem a retirada total de Israel, mas concedeu que está a estudá-la.
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