Ex-relator da ONU propõe envio de força da ONU para Gaza
O jurista norte-americano Richard Falk, ex-relator da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinianos, propôs hoje o envio de uma "força armada protetora" legitimada pelas Nações Unidas para proteger os civis de Gaza.
Falk, 94 anos, fez a proposta como presidente do Tribunal de Gaza, uma iniciativa internacional criada por uma centena de especialistas em novembro de 2024, em Londres, segundo a agência de notícias espanhola EFE.
Numa conferência de imprensa em Istambul, Turquia, onde o Tribunal de Gaza se reunirá em novembro, Falk descreveu a guerra de Israel em Gaza como um "genocídio em tempo real" que disse ser "um desafio moral histórico" travar.
Falk admitiu a legitimidade do envio de uma força internacional para Gaza mesmo sem uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, no qual os Estados Unidos usam o poder de veto contra qualquer iniciativa contrária aos interesses de Israel.
O professor emérito da Universidade de Princeton, no estado norte-americano de Nova Jérsia, disse que a iniciativa poderia basear-se na chamada "Responsabilidade de Proteger".
Trata-se de um conceito adotado pelos governos dos países das Nações Unidas em 2005 que proclama a "responsabilidade de proteger as populações contra o genocídio, os crimes de guerra, a limpeza étnica e os crimes contra a humanidade".
Além disso, uma resolução de 1950 autoriza a Assembleia-Geral das Nações Unidas a agir para manter a paz quando o Conselho de Segurança não cumpre essa responsabilidade, lembrou o jurista veterano.
Falk disse que o Tribunal de Gaza pretende levar uma proposta nesse sentido à agenda da 80.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, que se realiza em setembro, em Nova Iorque.
Admitiu, no entanto, a necessidade de "exercer pressão suficiente sobre os Estados Unidos e Israel" para que permitam o envio de uma força militar internacional para Gaza.
Segundo Falk, "já existe uma mudança dramática na opinião pública, incluindo a da população judaica", nos Estados Unidos, mas certos interesses particulares, entre eles os das empresas de armamento, continuam a exercer uma grande influência no Congresso norte-americano.
Falk propôs como ação prioritária pôr fim ao envio de armas para Israel e suspender toda a cooperação nas áreas do desporto, da cultura e da ciência com o país.
Considerou também importante o papel que podem desempenhar iniciativas como a "Frota da Liberdade", que consiste no envio de navios para Gaza para protestar contra o bloqueio imposto por Israel.
Falk disse que o desenho da ONU, ao conceder às cinco potências (Estados Unidos, China, França, Rússia e Reino Unido) o direito de veto e, com isso, uma isenção ao cumprimento do direito internacional, leva à ineficácia da organização face a uma crise como a de Gaza.
Mesmo assim, a ONU "fez mais do que qualquer outra instituição oficial" para conscientizar o mundo sobre o que está a acontecer na Palestina, acrescentou.
Além de Richard Falk, a iniciativa Tribunal de Gaza inclui os professores israelitas Ilan Pappe e Avi Shlaim, a escritora canadiana Naomi Klein, o paquistanês Tariq Ali e o político britânico Jeremy Corbyn.
A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo grupo extremista palestiniano Hamas no sul de Israel em 07 de outubro de 2023, que fez 1.200 mortos e 250 reféns.
A resposta israelita causou até agora mais de 62.000 mortos em Gaza, uma catástrofe humana e acusações contra Israel de genocídio e uso da fome como arma de guerra, bem como a destruição de muitas infraestruturas do território.
O Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, é classificado como uma organização terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.