Flotilha aproxima-se de Gaza. Ativistas admitem riscos "mas é necessário fazer isto"

A flotilha internacional de ajuda humanitária, que tenta dirigir-se a Gaza, entrou numa zona de alto risco. O ativista Miguel Duarte confirmou esta quarta-feira à RTP que os navios estão a pouco mais de 100 milhas náuticas de distância do território.

Inês Moreira Santos - RTP /
Stefanos Rapanis - Reuters

"Neste momento diria que estamos a cerca de 110 milhas náuticas de Gaza, portanto, bastante próximos", afirmou o ativista português que participa, juntamente com coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e a atriz Sofia Aparício, nesta missão humanitária.De acordo com Miguel Duarte, as embarcações de ajuda internacional já passaram "alguns dos pontos onde flotilhas anteriores foram paradas".


Esta zona "só é uma zona de risco", quis salientar Miguel Duarte, "porque Israel mantém um bloqueio ilegal, um cerco ilegal a Gaza".


Na noite passada, houve relatos de embarcações não identificadas e sem iluminação que se aproximaram da flotilha e que, segundo o ativista português, "começaram a fazer manobras muito perigosas" e que "quase resultaram numa colisão com os navios principais da flotilha".

"Começaram a fazer alguns círculos à volta destes navios e notámos que todas as comunicações dos navios ficaram bloqueadas imediatamente", contou à RTP.

As referidas embarcações não estavam identificadas, mas Miguel Duarte referiu que aparentavam ser navios militares.

"Mas restam poucas dúvidas sobre quem tem interesse em fazer isto".

Sobre os relatos de ataques com drones, o ativista confirmou que também esteve quase a ser atingido "por um dispositivo incendiário atirado por um drone, ao largo da costa da Tunísia".

"Tivemos de apagar um fogo. No dia seguinte, houve um outro navio que foi atingido. E (...) tivemos uma noite em que houve cerca de 14 incidentes, 11 dos quais foram explosões que destruíram algumas das velas dos nossos navios", continuou.

As ameaças de Israel aos ativistas e entidades de 44 países que embarcaram nesta missão ainda antes da flotilha ter partido de Barcelona, mas "têm mudado muito".

"Nós nunca sabemos muito bem o que vai acontecer", admitiu Miguel Duarte. "É preciso que haja responsabilização. É preciso que os Estados façam muito mais para proteger a flotilha e acabar com o genocídio em Gaza".

A entrar numa zona considerada de risco, os ativistas sabem "que os riscos são altos, mas é necessário fazer isto". E acrescentou: "Não devíamos estar aqui. Só estamos aqui porque os Estados não estão a cumprir a sua responsabilidade de fazer tudo ao seu alcance para acabar com o genocídio".

Ainda assim, Miguel Duarte reforça que o estado de espírito na flotilha é de "esperança de chegar a Gaza", visto que esta é a maior flotilha "alguma vez tentada".

"Por outro lado, sabemos daquilo que Israel é capaz. E, portanto, temos algum receio do que se pode passar hoje (...) mas estamos absolutamente determinados a prosseguir com a missão".
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