Governo libanês aprova plano do Exército para desamar Hezbollah
O Exército libanês vai começar a implementar o seu plano para desarmar o Hezbollah, anunciou esta sexta-feira o ministro da Informação, Paul Morcos, após uma reunião governamental marcada pelo abandono dos membros pertencentes ao movimento xiita apoiado pelo Irão.
O Conselho de Ministros libanês "acolheu com satisfação o plano" apresentado pelo Exército "sobre a limitação de armas às autoridades legítimas", afirmou o ministro da Informação, em conferência de imprensa após a reunião.
Paul Morcos indicou que o Exército libanês "vai começar a implementar o plano, mas dentro dos limites dos recursos disponíveis", ressalvando que são "limitados em termos de logística, equipamento e pessoal".
O Governo decidiu manter a confidencialidade sobre os detalhes do plano e as deliberações que tomou e pediu ao comandante das forças armadas, Rodolphe Haykal, que apresente um relatório mensal sobre a sua execução.
O chefe militar foi encarregado de apresentar hoje aos membros do Governo um roteiro para o desarmamento do Hezbollah, após a aprovação há cerca de um mês desta decisão, tomada sob pressão dos Estados Unidos e da reiterada oposição do movimento xiita.
Durante a sessão de hoje, o comandante do Exército alertou que o lançamento do processo de desarmamento deve ser acompanhado por outras medidas paralelas, incluindo a interrupção dos ataques israelitas contra o território libanês.
Segundo Morcos, o Exército vai trabalhar dentro da estrutura decidida pelo Conselho de Ministros há um mês, quando estabeleceu o final deste ano como data limite para a conclusão do processo de desarmamento, mas reconheceu que alguns aspetos militares vão exigir tempo ou mais apoio para ultrapassar as limitações existentes.
O enfraquecido Exército libanês sobreviveu aos últimos cinco anos de crise económica no país graças sobretudo a donativos dos Estados Unidos e do Qatar, e a comunidade internacional está a considerar formas adicionais de apoio às autoridades de Beirute, para que possa expandir a soberania estatal em todo o território, ameaçada pela influência paralela do Hezbollah.
A sessão de hoje do executivo libanês ficou marcada pelos abandonos dos cinco ministros do Hezbollah e do seu aliado Amal, após a chegada do comandante do Exército para apresentar o seu roteiro.
Fadi Makki, ministro da Reforma Administrativa, confirmou na rede social X a sua saída da reunião do Governo e anunciou que se ofereceu para renunciar ao cargo "se for do interesse nacional", durante a primeira parte do encontro.
"Mais uma vez, apelo aos meus colegas ministros e autoridades políticas para que discutam o plano sob a égide da declaração ministerial com a qual todos concordámos (...) com ponderação e colocando os interesses da nação, do sul e da paz civil acima de todas as outras considerações", declarou.
O Hezbollah rejeitou tanto a proposta de plano dos Estados Unidos para o seu desarmamento como a iniciativa libanesa, considerando que servem os interesses de Israel e que minariam as capacidades defensivas do Líbano enquanto o país continua a ser alvo de repetidos ataques.
Apesar do cessar-fogo acordado por ambos os países em novembro passado, Israel continua a bombardear alegados alvos do Hezbollah no sul do Líbano quase diariamente e mantém as suas tropas em cinco posições na região.
O grupo libanês exige pelo seu lado o fim destas violações antes de iniciar o diálogo.
O Irão é considerado o principal patrocinador do Hezbollah, tendo alegadamente estado na origem da criação do grupo xiita, e de o financiar e equipar com armamento durante décadas.
A par do Hamas na Palestina e dos Huthis do Iémen, o Hezbollah constitui o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão, e que se envolveu em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão de 2024, que decapitou a liderança do movimento xiita, incluindo o seu líder histórico, Hassan Nasrallah, e vários outros altos membros da sua hierarquia política e militar.
Desde o cessar-fogo em vigor desde novembro que o Estado libanês tem procurado concentrar todo o armamento do país nas mãos das forças de segurança oficiais, num processo inicialmente voluntário.
Ao mesmo tempo, o Exército foi destacado para o sul do país, numa região de influência do Hezbollah e junto da fronteira com Israel, em apoio à missão das Nações Unidas (FINUL), que terminará o seu mandato em 2026, após quase cinco décadas no terreno.