Montenegro com Guterres. "Conflitos abertos" no Médio Oriente, Ucrânia e África dominaram encontro
O primeiro-ministro português recebeu esta quarta-feira em São Bento o secretário-geral das Nações Unidas, a quem transmitiu o empenho do Governo português em ajudar a prosseguir o foco na paz, nos Direitos Humanos e no multilateralismo num contexto de "conflitos abertos" a nível global. António Guterres aproveitou para classificar o cessar-fogo no Líbano como "o primeiro raio de esperança de paz" nos últimos meses.
Luís Montenegro lembrou a atual circunstância em que “há conflitos abertos – uns de onde vêm notícias, apesar de tudo, encorajadoras, como o cessar-fogo que ontem mesmo se obteve no conflito no Líbano – mas, ainda assim, com a guerra aberta no Médio Oriente, a manutenção da agressão da Rússia à Ucrânia, com focos de tensão no continente africano”.
“Aquilo que acontece ao nível do funcionamento do Conselho de Segurança [da ONU] é objetivamente um problema. Há bloqueios na capacidade decisória e na capacidade de implementar decisões”, justificou.
“Vivemos uma situação paradoxal, nunca foram tão sérios os desafios que se põem à humanidade: as alterações climáticas, uma Inteligência Artificial que se desenvolve sem o mínimo de controlo à escala global (…), as profundas desigualdades a que assistimos em todo o mundo e a multiplicação de conflitos. Tudo isto mostra que as instituições que temos a nível global estão hoje profundamente desatualizadas pela sua profunda incapacidade de responder a estes desafios”, considerou.
“Estaremos na linha da frente para ser construtores de pontes entre nações, entre blocos de nações, e também estaremos na linha da frente das forças destacadas no terreno para garantir a paz e a preservação dos Direitos Humanos, como fazemos hoje em vários locais, particularmente na República Centro-Africana”, declarou perante os jornalistas e lado a lado com António Guterres.
O chefe do Governo transmitiu ainda ao chefe da ONU a preocupação particular com "uma situação concreta que diz muito a Portugal e aos portugueses, que é a situação que se vive em Moçambique".
Junto ao primeiro-ministro português, o secretário-Geral das Nações Unidas expressou a sua “gratidão e apreço pela contribuição exemplar de Portugal” não apenas ao funcionamento das Nações Unidas, mas “a toda a perspetiva de multilateralismo no mundo”.
Guterres destacou o papel ativo de Portugal na promoção da paz, a capacidade de influência e o respeito que o país merece a nível internacional, referindo o exemplo da missão na República Centro-Africana.
“Deixo uma palavra de enorme elogio à coragem, à determinação e extraordinária eficácia da força portuguesa na República Centro Africana”, afirmou Guterres. “E, por isso, muitíssimo obrigada por este contributo”, acrescentou.
"É com o maior interesse que nós vemos o contributo que Portugal vai continuar a dar nos momentos que se vão seguir (...) Estou convencido que com o apoio de Portugal e daqueles que pensam como Portugal será possível enfrentar os desafios que temos pela frente e construir um mundo melhor do que todos necessitamos", afirmou Guterres.