Organizações pedem a Portugal que retire bandeira de navio com armamento para Israel
Quatro organizações, incluindo a CGTP, apelaram hoje ao Governo português para que retire a bandeira portuguesa de um navio que transporta material militar destinado a Israel e que "não seja cúmplice do genocídio do povo palestiniano".
A posição foi transmitida hoje por quatro organizações ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), reclamando que Portugal "proceda à inspeção da carga do navio `Holger G` e, confirmando-se que há um transporte de material militar para Israel, determine de imediato a retirada da bandeira portuguesa".
Além disso, os movimentos pedem ao Governo que proíba o trânsito do navio em águas territoriais portuguesas e, de futuro, não permita a sua entrada em portos portugueses.
A posição, dirigida ao ministro Paulo Rangel, é assinada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN), pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e pelo Projeto Ruído - Associação Juvenil.
Pedem que "Portugal não seja cúmplice da continuação de um genocídio, porque este material militar vai ser certamente utilizado por Israel na continuação da agressão do genocídio e dos ataques da ocupação nos territórios palestinianos", disse à Lusa Isabel Camarinha, presidente do CPPC, que esteve hoje no Palácio das Necessidades, sede do MNE, para entregar este documento.
Segundo várias organizações, o navio, registado na Madeira, partiu da Índia em 02 de novembro com 440 toneladas de material militar com destino a Haifa, Israel, onde tem chegada prevista no próximo dia 31.
"O Governo português, que reconheceu o Estado da Palestina, nada faz para respeitar o Estado palestiniano e os direitos daquele povo, que continua a ser alvo de um genocídio e de uma ocupação que viola todas as leis do Direito internacional", considerou Isabel Camarinha.
As organizações pedem ao Governo português que "cumpra as suas obrigações perante o Direito internacional, o Direito internacional humanitário e os tratados, pactos e convenções de que Portugal faz parte".
"O que nos preocupa principalmente é que o Governo português não queira ser amigo de Israel e amigo da Palestina, porque neste momento o povo palestiniano continua a sofrer", acrescentou a representante do CPPC.
Em declarações à Lusa por telefone, a partir de Varsóvia, onde se encontra hoje em visita oficial, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, disse ter conhecimento deste navio, mas escusou-se a comentar.
Os quatro movimentos tinham pedido uma audiência ao ministro e deram conta da intenção de entregar a tomada de posição, mas não tiveram resposta do MNE e deslocaram-se hoje ao Palácio das Necessidades.
"Estranhamente, aconteceu-nos o insólito que foi falarmos com um adjunto [do ministro] do lado de fora da porta do Ministério dos Negócios Estrangeiros", relatou Isabel Camarinha, lamentando "uma demonstração de desrespeito pelas organizações e pelo assunto gravíssimo".
A comitiva era composta ainda por Carlos Almeida, do MPPM, Dinis Lourenço, da CGTP, e Inês Jorge, do Projeto Ruído.