"Todos estão felizes". Mundo celebra acordo que promete pôr fim à guerra de dois anos em Gaza

Em todo o mundo, surgem reações de júbilo à notícia da assinatura da primeira fase do plano de paz para Gaza, anunciada pelo presidente norte-americano na noite de quarta-feira. Os palestinianos e os familiares dos reféns israelitas explodiram em intensas celebrações. O Exército israelita anunciou que já iniciou os preparativos e está a estabelecer um protocolo para recuar em breve para a linha que foi estabelecida para a primeira fase da sua retirada após acordo.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Jovens palestinianos celebram acordo em Khan Yunis AFP

Em Gaza, onde a maioria dos mais de dois milhões de pessoas foi deslocada pelos bombardeamentos israelitas, os jovens saíram à rua para celebrar o acordo, mesmo com a continuação dos ataques israelitas em algumas partes do enclave.

"Graças a Deus pelo cessar-fogo, o fim do derramamento de sangue e da matança", disse Abdul Majeed Abd Rabbo em Khan Yunis, no sul de Gaza, citado pela Reuters.

"Não sou o único feliz, toda a Faixa de Gaza está feliz, todo o povo árabe, todo o mundo está feliz com o cessar-fogo e o fim do derramamento de sangue. Obrigado e todo o amor àqueles que estiveram connosco", acrescentou.


"Mal podemos esperar para voltar para as nossas casas, mesmo depois de destruídas, voltar para a Cidade de Gaza, dormir sem medo de sermos bombardeados, tentar reconstruir as nossas vidas", disse à Reuters Tamer Al-Burai, um empresário deslocado da Cidade de Gaza.
Em Telavive também se ouviram gritos de celebração. Na chamada Praça dos Reféns, os familiares dos israelitas raptados pelo Hamas no ataque que desencadeou a guerra há dois anos, reuniram-se para celebrar a libertação dos reféns.

"Não consigo respirar, não consigo explicar o que estou a sentir... é de loucos", disse Einav Zaugauker, mãe de um refém.

O Fórum de Familiares de Reféns e Desaparecidos, que representa os familiares da maioria dos reféns em Gaza, convidou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para um encontro em Israel.

"Seja um discurso na praça, um lugar que se tornou um símbolo de esperança e resiliência do espírito humano, uma visita privada às famílias ou qualquer encontro que se enquadre na sua agenda, faremos o que for necessário para o tornar possível", afirmou esta quinta-feira o Fórum em comunicado.

Alguns familiares dos reféns, que residem nos EUA, receberam um telefonema do presidente Donald Trump. O momento foi publicado pela Casa Branca nas redes sociais.

O presidente dos EUA deve visitar o Médio Oriente no final desta semana. Segundo o jornal israelita Yedioth Ahronot, Donald Trump chegará a Israel no domingo.

As reações ao acordo
O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, saudou o anúncio de Donald Trump de um acordo para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, manifestando a esperança de que possa conduzir à criação de um Estado palestiniano.

“Espero que estes esforços sejam o prelúdio para uma solução política permanente (...) que conduza ao fim da ocupação israelita do Estado da Palestina e ao estabelecimento de um Estado palestiniano independente", disse Abbas numa declaração publicada nas redes sociais.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também saudou anúncio de cessar-fogo em Gaza, pedindo a Israel e ao grupo islamita Hamas que "respeitem integralmente" o acordado.

"Louvo os esforços diplomáticos dos Estados Unidos, do Catar, do Egito e da Turquia para alcançar este avanço. Sinto-me também encorajada pelo apoio do Governo de Israel e da Autoridade Palestiniana", reagiu a líder do Executivo comunitário.

"Agora, todas as partes devem respeitar integralmente os termos do acordo: todos os reféns devem ser libertados em segurança e deve ser estabelecido um cessar-fogo permanente [para] o sofrimento acabar", exortou.


"A oportunidade de hoje deve ser aproveitada", salientou ainda Von der Leyen numa declaração em Bruxelas.

Também a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, reagiu no X dizendo que "o acordo sobre a primeira fase do acordo de paz em Gaza representa um avanço significativo".

"Trata-se de uma importante conquista diplomática e de uma oportunidade real para pôr fim a uma guerra devastadora e libertar todos os reféns. A UE fará tudo o que estiver ao seu alcance para apoiar a sua implementação", assinalou.

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também elogiou “os esforços do presidente dos Estados Unidos e dos Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia para chegar a este ponto” e salientou que agora “o acordo deve ser respeitado e implementado”.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, também louvou o cessar-fogo em Gaza, falando numa "oportunidade crucial" para a paz na região.

“A sua implementação abre caminho para a tão esperada libertação de todos os reféns israelitas, um cessar-fogo em Gaza e o fim da grave crise humanitária no terreno", reagiu o antigo primeiro-ministro português numa publicação na rede social X. 

Em Portugal, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também saudou o acordo de cessar-fogo. Marcelo diz que "este primeiro passo (...) deverá poder conduzir a uma paz justa e duradoura assente na solução de dois Estados, Israel e Palestina, ambos reconhecidos por Portugal".

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, saudou a libertação dos reféns pelo Hamas e felicitou Donald Trump "por este sucesso e por todo o empenho na obtenção da paz no Médio Oriente". 

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, destacou o papel principal do presidente norte-americano para o acordo de cessar-fogo.

Em declarações à Lusa, o também ministro de Estado manifestou "alegria" e "alívio", sobretudo pela libertação de reféns, designadamente dois cidadãos "com ligações a Portugal, embora um, já seguramente, falecido".

"Abre-se aqui caminho para um período de estabilização em que possa chegar ajuda humanitária e começar-se a reconstrução", disse, salientando que Trump foi "a figura decisiva, no sentido de sentar toda a gente à mesa das negociações", sem esquecer Catar, Egito, Arábia Saudita e Turquia.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que o acordo de cessar-fogo em Gaza entre Israel e o Hamas representa "um profundo momento de alívio" que se vai fazer sentir em todo o mundo.

Starmer pediu ainda que o acordo seja implementado integralmente e acompanhado pelo levantamento imediato de todas as restrições à ajuda humanitária para Gaza.

Em Roma, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, disse que o acordo entre Israel e Hamas é uma "grande notícia" tendo afirmado que o Exército italiano está disponível para atuar como uma eventual força de manutenção da paz.

O chefe da diplomacia italiana e vice-primeiro-ministro do Governo de Roma disse que "a Itália está pronta para consolidar o cessar-fogo", garantir a chegada de ajuda humanitária e participar na reconstrução de Gaza.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse estar "muito satisfeito" com o acordo de cessar-fogo para Gaza e agradeceu a Donald Trump, ao Catar e ao Egito.


Numa mensagem difundida pelas redes sociais, Erdogan disse que a Turquia também contribuiu no processo.
Israel inicia preparativos para a primeira fase da retirada de Gaza
O Exército israelita anunciou esta quinta-feira que iniciou os preparativos e está a estabelecer um protocolo para recuar em breve para a linha que foi estabelecida para a primeira fase da sua retirada após acordo.

"O Exército iniciou os preparativos operacionais para implementar o acordo [de cessar-fogo]. Como parte deste processo, estão a ser implementados preparativos e um protocolo de combate para avançar rapidamente para as linhas de projeção ajustadas", anunciaram as Forças Armadas. Esta retirada deverá ocorrer antes de segunda-feira, dia em que Donald Trump anunciou que as milícias de Gaza, lideradas pelo Hamas, vão libertar os 48 reféns ainda mantidos em Gaza.

De acordo com o jornal Haaretz, esta primeira fase da retirada vai garantir que o Hamas localize os reféns, mantidos pelo seu braço armado (as Brigadas Al Qassam), mas também por outros grupos, como a Jihad Islâmica Palestiniana. De acordo com as autoridades israelitas, cerca de 20 reféns ainda estarão vivos.
Assinatura no Egito
O acordo de cessar-fogo deverá ser assinado esta quinta-feira, no Egito.

Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vai reunir o Governo esta quinta-feira para também aprovar esta primeira fase do acordo, com vista à paz.


O ministro israelita das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou que votará contra este acordo. Por um lado, o ministro disse sentir "imensa alegria" com a libertação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza, mas, ao mesmo tempo, manifestou "grande medo" sobre as "consequências de esvaziar as prisões e libertar a próxima geração de líderes terroristas, que farão todo o possível para continuar a derramar rios de sangue judeu".

"Só por esta razão, não podemos aderir às comemorações míopes nem votar a favor do acordo", acrescentou o ministro, sublinhando que Israel tem a "tremenda responsabilidade" de "continuar a lutar com todas as suas forças" após o regresso dos reféns.

Segundo o ministro, o objetivo a alcançar é a "erradicação do Hamas" e o "desarmamento de Gaza", para que deixe de representar "uma ameaça a Israel".

c/ agências
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