2020 torna-se o ano com mais tempestades de sempre

por RTP
Marco Bello - Reuters

A tempestade Theta, que se formou no Oceano Atlântico na noite de segunda-feira, levou 2020 a superar o recorde da temporada de tempestades do Atlântico Norte, com o maior número de ciclones tropicais que foram suficientemente fortes para serem "batizados" com um nome.

O recorde anual para o número de grandes tempestades que se formam no Atlântico foi ultrapassado, com a tempestade subtropical Theta a tornar-se o 29º furacão nomeado na temporada de tempestades ativas, superando o ano de 2005, que teve 28 tempestades nomeadas.

Na análise técnica do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês), a tempestade tropical Theta estava sobre o Oceano Atlântico, mas não estava próxima de nenhuma região habitada.

Esta tempestade, com rajadas de aproximadamente 24 km/h para leste/nordeste pode ainda ganhar mais força nas próximas 12 ou 24 horas e tornar-se um furacão. E, segundo o NHC citado pelo Guardian, pode estar a formar-se outra tempestade, também com força suficiente para ser nomeada, perto das Caraíbas, tornando-se a 30ª do ano.

A tempestade Theta não deve chegar a terra, mas a tempestade tropical Eta já atingiu no domingo a ilha de Lower Matecumbe Key, na Flórida, e segue em direção ao Golfo do México, estando previsto que provoque chuvas e inundações no sul da Florida.

Houve tantas grandes tempestades em 2020 que os meteorologistas esgotaram a lista de nomes em inglês e tiveram de recorrer ao alfabeto grego, passando rapidamente de Alfa para Eta. Só em setembro, houve cinco tempestades alinhadas no Atlântico de uma vez.

"Acho que todos estão surpreendidos com o número de tempestades que vimos"
, disse Jill Trepanier ao jornal britânico, especialista em clima extremo na Louisiana State University. "O grande número superou as minhas expetativas".

As tempestades são nomeadas assim que o vento atinge velocidades acima dos 60 km por hora, havendo ainda 12 das tempestades nomeadas em 2020 perto de se tornarem furacões. Até agora e desde o início do ano, os Estados Unidos já foram atingidos por um recorde de 12 tempestades e seis furacões, com algumas regiões habitadas a serem afetadas repetidamente por ventos fortes e inundações.

A temporada de furacões de 2020, que começou oficialmente em junho, já matou dezenas de pessoas e deixou danos em dezenas de milhões de dólares em casas, linhas de energia e locais de trabalho. Embora já tenha superado o recorde de tempestades, 2020 não superou ainda o ano de 2005 em número de furacões.

"São as comunidades mais vulneráveis ​​que provavelmente serão atingidas com mais força, as mesmas comunidades que estão tentando recuperar das tempestades e de devastações anteriores à Covid-19", afirmou Robert Bullard, um especialista em política ambiental da Texas Southern University, que relembrou que o país já enfrenta uma crise social e económica devido à pandemia, para além dos danos causados pelas repetidas tempestades.

A verdade é que esta temporada de tempestades vai muito além dos limites das expetativas normais, com uma média de 11 tempestades nomeadas por ano entre os anos 1980 e 2010. Não se tem a certeza se a crise climática e o aquecimento global são as principais causas para a ocorrência de mais tempestades, embora a comunidade cientifica esteja a descobrir mais evidências de que o aumento das temperaturas da atmosfera e do oceano está a potenciar furacões mais fortes.

A água mais quente fornece mais energia aos furacões e o calor extra no ar potencia a maior acumulação de humidade, que acaba por se transformar em chuva e provoca inundações. Além disso, segundo os especialistas o calor está a estimular a rápida intensificação das tempestades como aconteceu na tempestade Laura, quando a velocidade do vento passou dos 100 quilómetros por hora para os 170 quilómetros por hora em apenas um dia.

"A rápida intensificação parece ser o nome do jogo agora", disse Trepanier. "Estando as condições tão quentes como estão actualmente, devíamos contar com a rápida intensificação destes fenómenos".

Os cientistas têm alertado para o facto de haver cada vez mais tempestades e furacões à medida que o mundo aquece globalmente. A ciência é "bastante clara sobre devermos esperar mais furacões de alta intensidade e muito mais chuva", alertou Kerry Emanuel, professor de meteorologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

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