"A flexibilidade necessária". Hamas disponível para continuar a negociar cessar-fogo
O grupo palestiniano Hamas afirmou esta quarta-feira que vai continuar a trabalhar para conseguir alcançar um cessar-fogo em Gaza, apesar da ausência dos negociadores israelitas na última ronda de conversações no Cairo. O projeto de solução do Conselho de Segurança da ONU, apresentado pelos EUA, prevê um cessar-fogo de seis semanas e a libertação dos reféns.
Os negociadores do Hamas, do Catar e do Egito - mas não de Israel - estão no Cairo a tentar garantir um cessar-fogo de 40 dias na guerra entre Israel e o grupo islamita a tempo do mês do Ramadão, que começa no próximo domingo.
A violência nos territórios palestinos ocupados aumenta frequentemente durante o Ramadão, assim como a hostilidade em relação a Israel no mundo árabe e muçulmano, criando um forte incentivo para os líderes fecharem um acordo antes disso.
Segundo a Associated Press, fonte egípcia afirmou que a última ronda de negociações terminou na terça-feira e que o Hamas apresentou uma proposta que vai ser discutida com Israel nos próximos dias. A delegação do Hamas mantém-se no Cairo onde se vai reunir com os mediadores.
Bassem Naim, alto funcionário do Hamas, disse que o grupo palestiniano apresentou o seu próprio projeto de acordo e que aguarda uma resposta de Israel, acrescentando: "Benjamin Netanyahu não quer chegar a um acordo e a bola agora está no campo dos americanos".
Naim acrescentou que era impossível chegar a um acordo sem um cessar-fogo, uma vez que os reféns estavam espalhados pela zona de guerra.
Na terça-feira, em Beirute, Osama Hamdan, responsável do Hamas, reiterou as principais exigências do seu grupo: o fim da ofensiva militar israelita, a retirada das forças israelitas e o regresso de todos os habitantes de Gaza às casas de que foram forçados a fugir. "A segurança e a proteção do nosso povo só serão alcançadas com um cessar-fogo permanente, o fim da agressão e a retirada de cada centímetro da Faixa de Gaza", disse Hamdan aos jornalistas em Beirute.
Hamdan afirmou ainda que qualquer troca de prisioneiros só poderá ter lugar após um cessar-fogo permanente, em vez de uma pausa de algumas semanas, e uma “retirada completa” das forças israelitas da Faixa de Gaza. Israel, por seu lado, quer apenas uma pausa nos combates para que os reféns saiam de Gaza e que mais ajuda entre, insistindo que não terminará o conflito antes de o Hamas ser "eliminado".Biden coloca o cessar-fogo nas mãos do Hamas
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou na terça-feira que estava nas mãos do Hamas aceitar ou não um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza em troca da libertação de reféns israelitas.
"Neste momento, está nas mãos do Hamas. Os israelitas têm estado a cooperar. Tem havido uma oferta racional", disse Biden aos jornalistas. "Se chegarmos à circunstância de que isso continua no Ramadão, será muito perigoso."
"Temos de fazer chegar mais ajuda a Gaza", disse Biden. Washington, o principal apoiante político e militar de Israel e patrocinador das conversações, também colocou o ónus diretamente sobre os governantes de Gaza.
Segundo a Reuters, os Estados Unidos reviram na terça-feira a formulação de um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU para apoiar "um cessar-fogo imediato de cerca de seis semanas em Gaza, juntamente com a libertação de todos os reféns".
A terceira revisão do texto - proposto pela primeira vez pelos Estados Unidos há duas semanas - reflete as observações contundentes da vice-presidente Kamala Harris, apelando a Israel para fazer mais para aliviar a "catástrofe humanitária" em Gaza.
No acordo apresentado, o Hamas libertaria alguns reféns capturados por militantes palestinianos no ataque de 7 de outubro a Israel, que desencadeou a guerra, enquanto a ajuda a Gaza seria aumentada para tentar evitar a fome, uma vez que os hospitais tratam crianças gravemente subnutridas, e o Hamas forneceria uma lista de todos os reféns detidos em Gaza.
A libertação de doentes, feridos, idosos e mulheres reféns resultaria num cessar-fogo imediato em Gaza de pelo menos seis semanas, salientaram o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, numa reunião na terça-feira, disse a Casa Branca.
"Esta primeira fase de um cessar-fogo também permitiria uma onda de assistência humanitária ao povo de Gaza, e forneceria tempo e espaço para garantir acordos mais duradouros e calma sustentada", lê-se no comunicado da Casa Branca.
Os EUA também instaram Israel a fazer mais para aliviar a catástrofe humanitária em Gaza, onde mais de 30 mil palestinianos foram mortos pelo ataque de Israel, lançado após os ataques do Hamas que mataram 1.200 pessoas em outubro.
ONU condena “massacre” israelita
Os peritos das Nações Unidas condenaram a violência desencadeada pelas forças israelitas, na passada semana, contra os palestinianos reunidos na cidade de Gaza para recolher ajuda humanitária que consideram um "massacre".
Em comunicado, um grupo de relatores especiais da ONU acusou Israel de "matar intencionalmente à fome o povo palestiniano em Gaza desde 8 de outubro": "Agora tem como alvo os civis que procuram ajuda humanitária e os comboios humanitários".
"Israel tem de pôr termo à sua campanha de fome e de ataque a civis", afirmaram os peritos da ONU, que alertaram para o facto de existirem cada vez mais provas de fome na Faixa de Gaza.Pelo menos 112 pessoas morreram e 760 ficaram feridas na quinta-feira, quando multidões desesperadas se reuniram para recolher ajuda humanitária.
Testemunhas em Gaza e alguns dos feridos disseram que as forças israelitas abriram fogo contra a multidão, provocando o pânico. Israel afirmou que as pessoas morreram num esmagamento ou foram atropeladas por camiões de ajuda humanitária, embora tenha admitido que as suas tropas dispararam contra aquilo a que chamou uma "multidão".
"O ataque ocorreu depois de Israel ter negado a entrada de ajuda humanitária na Cidade de Gaza e no norte da Faixa de Gaza durante mais de um mês", afirmaram os peritos das Nações Unidas, que descreveram "um padrão de ataques israelitas contra civis palestinianos que procuram ajuda".
c/ agências internacionais