A "irmã" da Ponte Morandi que preocupa os venezuelanos

por RTP
Especialistas insistem nas diferenças de construção das duas pontes e sublinham que a ponte General Rafael Urdaneta é mais segura do que a de Génova Isaac Urrutia - Reuters

A Ponte General Rafael Urdaneta. em Maracaibo, na Venezuela, foi projetada por Riccardo Morandi, o mesmo arquiteto responsável pela construção do viaduto que desabou na cidade italiana de Génova. A infraestrutura venezuelana também foi palco de um desastre em 1964 e a população mostra-se agora preocupada. Já esta semana a travessia esteve fechada depois de um curto-circuito ter provocado um incêndio.

A Ponte General Rafael Urdaneta, na Venezuela, apresenta o mesmo estilo arquitetónico da Ponte Morandi, em Génova. Desenhadas pelo mesmo arquiteto, Riccardo Morandi, as semelhanças entre as infraestruturas são evidentes.O Governo venezuelano defende que o curto-circuito se tratou de um ato de sabotagem – argumento frequentemente usado para as recorrentes falhas elétricas no país.

A ponte venezuelana foi a primeira a ser projetada por Morandi, em 1962. Apenas dois anos depois, parte da ponte desabou depois de um petroleiro ter colidido com dois pilares. O incidente provocou sete mortos.

No último fim de semana, o trânsito na Ponte General Urdaneta esteve interdito depois de uma das redes de eletricidade que ali passam se ter incendiado. O viaduto com 8,6 quilómetros é o único eixo que atravessa o lago de Maracaibo.

A estrutura é o ponto de passagem da rede que alimenta Maracaibo, a segunda maior cidade de Venezuela. Segundo o jornal francês Le Monde, cerca de quatro milhões de residentes ficaram sem eletricidade.

A população mostra-se revoltada, com falhas de eletricidade que duram entre 14 a 16 horas por dia. O calor é a principal queixa, com temperaturas que excedem os 40º. “Estamos a dormir no terraço há seis noites para resistir ao calor. Não se pode comprar alimentos que precisam de se manter refrigerados, estamos a fazer compras diárias num estabelecimento que tem uma instalação elétrica”, testemunhou Lilia Urdaneta, habitante de La Floresta, em declarações à France Presse.
Relatório em curso
Especialistas da Universidade de Zulia, em Maracaibo, juntamente com o Centro de Engenharia e a Câmara de Construção, estão a compor um relatório sobre a situação da infraestrutura que será entregue ao Governo.

“Não faremos um diagnóstico irresponsável (…) e não cairemos no sensacionalismo”, disse Enrique Ferrer, presidente da Câmara de Construção. Acrescenta que o objetivo é “tranquilizar a população”.

Os venezuelanos mostram-se preocupados depois do colapso do viaduto em Génova, na passada terça-feira, que provocou pelo menos 39 mortos. Questionam se a Ponte General Urdaneta corre perigo.

As mesmas instituições que estão a desenvolver o relatório rejeitam comparações com a Ponte Morandi e comentários de engenheiros europeus sobre falhas estruturais acerca da infraestrutura construída há 56 anos. “São duas estruturas completamente diferentes. Esta ponte não vai cair”, garante Oladis Troconis de Rincón, professora na Universidade de Zulia.

O presidente da Câmara de Construção de Zulia, Enrique Ferrer, admite semelhanças entre as duas pontes relativamente à aparência, mas nega qualquer relação a nível estrutural.
Pilares não são inspecionados
O antigo presidente da Câmara de Construção de Zulia, Marcelo Monot, não é da mesma opinião. Revela que os pilares da Ponte General Rafael não são inspecionados há mais de duas décadas e que o controlo de peso deixou de existir: “O sistema de pesagem não funciona há anos, o peso dos camiões não é verificado, o que representa um grande risco”.

Antonio Brenchic, engenheiro estrutural e professor da Universidade de Génova, alertou para possíveis problemas em ambas as estruturas. Na sua opinião, Riccardo Morandi falhou no cálculo da durabilidade do betão armado. Outro problema apontado é o desgaste do aço.

Especialistas insistem nas diferenças de construção das duas pontes e sublinham que a Ponte General Rafael Urdaneta é mais segura do que a de Génova.

Defendem que a diferença fundamental entre as duas pontes é o facto de a italiana ser feita de betão armado, ao passo que a venezuelana é construída em aço, tornando-a resistente à corrosão.

Acrescentam a diferença de comprimento: a Ponte Morandi estende-se por 1,2 quilómetros, a venezuelana é sete vezes maior; os 8,7 quilómetros de extensão fazem da Ponte General Rafael a segunda mais longa da América.

“A ponte sobre o lago de Maracaibo é uma estrutura bem construída”, afirma Roberto Ramírez, construtor civil. Sublinha que “não vai entrar em colapso”.
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