"A Rússia está a tentar travar uma guerra energética global" ao atingir as centrais elétricas ucranianas

por RTP
Ataque russo à central elétrica de Trypilska, na região de Kiev Reuters

Andriy Kobolyev, antigo presidente-executivo da empresa petrolífera estatal da Ucrânia afirmou que se a Rússia continuar a atingir o setor energético ucraniano, as consequências mundiais serão muito sérias. O aumento dos preços da energia na Europa será uma dessas repercussões.

A central de Trypilska era a maior fornecedora ucraniana de energia para as regiões de Kiev, Cherkasy e Zhytomyr. Foi destruida na semana passada, a 11 de abril, após um ataque russo de mais de 80 mísseis e drones que incendiou as intalações, nomeadamente o transformador, turbinas e geradores. 

Para além desta gigante central elétrica, os drones Shahed e bombas guiadas de fabrico iraniana danificaram outras infraestruturas energéticas do país.

Estes ataques fazem parte da mais recente campanha russa que visa causar graves dados ao setor energético ucraniano, argumenta Andriy Kobolyev, antigo presidente-executivo da empresa petrolífera estatal da Ucrânia, a Naftogaz.

“A Rússia está a tentar travar uma guerra energética global e a Ucrânia faz parte dessa guerra e se os mercados perceberem que a Rússia está a vencer essa guerra, as consequências serão muito sérias. Veremos um aumento nos preços em todo o mundo”, sublinhou Kobolyev.

Numa entrevista à publicação britânica “The Guardian”, Kobolyev vinca que “não faz sentido realizar mais conferências de reconstrução da Ucrânia” até que Kiev receba mais armas para se defender das investidas de Moscovo porque poderá “não haver economia ucraniana para reconstruir”.

O ex-presidente da Naftogaz, que esteve à frente da empresa durante sete anos, entre 2014 e 2021, deixa claro que o impacto dos ataques russos nos preços da energia terá pelo menos duas implicações: “um aumento potencial na procura ucraniana de gás e eletricidade na Europa e uma resposta global do mercado à probabilidade de Vladimir Putin estar a vencer a guerra na Ucrânia”.

E acentua: “Se os mercados energéticos europeus começarem a acreditar que os russos estão a vencer esta guerra, isso terá um efeito negativo dramático nos preços da energia”.
Novo modus operandi na distribuição  da energia
Desde 2022 que grande parte dos países europeus aumentaram as suas importações e consequentes reservas de gás natural liquefeito.

Os recentes ataques às instalações de armazenamento de gás da Ucrânia, no oeste do país, acabaram por causar um aumento nos preços na Europa. Enquanto não for restabelecido as ligações da infraestrutura ucraniana os comerciantes de gás recorrem às reservas e controlam os preços. 

Porém, se as instalações de gás passarem a  “estar sob controlo russo – ou forem totalmente destruídas – os comerciantes enfrentarão um quadro de oferta mais apertado”.

Desde o início de 2024, que os ataques russos parecem “ter aumentado a intensidade e diminuíram o número de alvos que tentam atingir. Por ser mais intensivo e mais focado, está a causar danos maiores”, declara Kobolyev.

O ex-diretor explica que os recentes ataques tentaram destruir a capacidade de produção em grande escala, especialmente a capacidade de gás e carvão ucraniana. “Veremos apagões extensos – essa é a realidade e é porque não temos acesso a defesas aéreas e aviões de combate para intercetar as bombas voadoras russas”, adverte.

“Atualmente estamos a enfrentar uma crise muito maior do que a que a Ucrânia teve há um ano. O problema é tão crítico para a nossa economia que são precisas de soluções agora”, afirma Kobolyev.

E propõe algumas possibilidades para reverter o caminho da guerra: “As soluções são duplas. Primeiro, deveria haver um fornecimento imediato de componentes de defesa aérea e munições para proteger o sistema. Em segundo lugar, precisamos de desenvolver um novo sistema de distribuíção e protegê-lo em todo o país, que deverá substituir a geração destruída”.

“Portanto, agora é a hora de criar uma nova geração, diversificada e espalhada pela Ucrânia, porque não resta outra opção. Muitas destas estações necessitarão de ser protegidas com bunkers de betão. Requer um novo modus operandi para o Ocidente porque exigirá um investimento agora, de preferência através de uma agência que angarie dinheiro para investimento agora em tempo de guerra, apesar dos riscos de ataques militares”, argumenta
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