Administração Trump ganha forma entre a polémica e a normalidade

por Andreia Martins - RTP
Donald Trump com o antigo mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani, um dos nomes mais falados para os cargos de topo na futura administração do Presidente eleito. Mike Segar - Reuters

O Presidente eleito reúne-se esta terça-feira em Nova Iorque com Mike Pence, o seu vice-presidente, para discutir a composição da Administração, a tomar posse no próximo dia 20 de janeiro.

Segundo a CNN, as negociações para a nomeação dos vários cargos estão a gerar grande discórdia, com o próximo Presidente. Donald Trump vê-se dividido entre as promessas da campanha e a tarefa de encontrar republicanos dispostos a aceitar nomeações, entre gerar uma enorme mudança em Washington e a necessidade de encontrar uma equipa de profissionais com contactos no Capitólio, entre corresponder à voz anti-establishment que lhe garantiu votos e apaziguar quem não lhe atribui o seu voto.

Nos próximos dois meses, Donald Trump terá de apontar cerca de quatro mil nomes que formarão a sua equipa próxima na Casa Branca a partir do próximo ano. Entre eles, estão alguns dos mais importantes cargos na política e diplomacia norte-americana, incluindo chefes de gabinete. 

Por ter sido polémico durante grande parte da campanha, Washington e o Partido Republicano sempre mantiveram distância com o candidato. Vários antigos chefes de gabinete e responsáveis reiteraram mesmo estar indisponíveis para participar numa eventual governação liderada por Donald Trump. 

Sem contar com os responsáveis que condenaram publicamente o presidente eleito e agora procuram um lugar na sua administração, a tarefa não se avizinha fácil. A própria escolha de Kris Kobach para a equipa de transição na temática das migrações foi amplamente criticada.

Kobach é o atual secretário do Estado do Kansas e é conhecido em Washington pelas posições polémicas face à imigração, tendo estado na origem de leis anti-imigração em várias regiões, incluindo a Pensilvânia, Texas, Missouri e o Alabama. 
A primeira escolha controversa
Menos de uma semana após ter sido eleito o próximo presidente dos Estados Unidos, a Administração Trump está a ser desvendada aos poucos. Reince Priebus e Stephen Bannon, as duas escolhas vindas a público no domingo passado, enviam sinais contraditórios e foram recebidos de forma díspar pelos políticos e media norte-americanos.
 
Mas é sobretudo a nomeação de Bannon como conselheiro de Trump. Stephen Bannon é alvo das críticas ferozes por parte de democratas e até mesmo de vários republicanos. A principal crítica é que essa nomeação eleva e aproxima o movimento nacionalista xenófobo à Casa Branca. 

Isto porque Stephen Bannon é presidente executivo da Breibart News, um site noticioso associado a vários movimentos de direita, desde o Alt-right, neo-nazis, supremacistas brancos e antissemitas, bem como a comentários misóginos.

Numa entrevista no passado domingo, Alexander Marlow, editor-chefe do Breibart News, resume numa frase o sentimento da redação, cuja interação com o público nas redes sociais durante a noite das eleições foi superior à do New York Times, Fox News ou mesmo a CNN: “Os media gozaram connosco, riram-se de nós, chamaram-nos todo o tipo de nomes. E agora, sermos vistos como parte integrante da eleição de um presidente, apesar de todo esse ódio, é algo que certamente apreciamos e saboreamos”.  

Marlow diz que Brannon “compreende os eleitores melhor do que ninguém”, mas garante que o Breibart não se vai tornar numa versão norte-americana da Pravda, a revista de propaganda soviética.

Sobre Stephen Bannon, Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara dos Representantes, referiu que a nomeação era "um sinal alarmante" de que o Presidente eleito "continua comprometido com a visão odiosa e divisiva que definiu a sua campanha".

Nos últimos dez anos, o Breibart News acusou Barack Obama de estar “a importar mais muçulmanos odiosos”, comparou o sistema Planned Parentood ao Holocausto e deixou passar vários comentários antissemitas. 

Bem mais pacífica foi a escolha de Reince Priebus para chefe de gabinete. A nomeação de Priebus é vista por muitos como um sinal conciliatório da vontade de Trump em trabalhar com o Congresso. Priebus é presidente do Comité Nacional do Partido Republicano. 

Segundo o New York Times, a reputação do chefe de gabinete escolhido por Donald Trump poderá instituir um elo de ligação com os republicanos “do sistema”, nomeadamente Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, de quem Priebus é amigo de longa data.

O anúncio simultâneo dos dois homens não terá sido inocente, refere o mesmo jornal. Repete-se o “estilo de gestão” que adotou em várias décadas de negócios: criar rivalidades nas estruturas que o sustentam e encorajá-las ao combate de ideias.
Quase todos por nomear
Enquanto a imprensa reage aos primeiros nomes confirmados para a administração Trump, a equipa de transição trabalha para chegar a um acordo na escolha de membros para os diversos gabinetes e agências federais

O antigo mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani, é um dos principais nomes apontados para o cargo de secretário de Estado, o mais alto cargo da diplomacia norte-americana, equivalente ao cargo do ministro dos Negócios Estrangeiros. O cargo poderá também ser ocupado ficar para John Bolton, antigo embaixador dos Estados Unidos na ONU, uma escolha que seria menos polémica para um cargo de tão elevada importância. 

De resto, Giuliani é apontado para os mais diversos cargos. Tornou-se num dos mais próximos conselheiros de Donald Trump e foi um grande defensor do candidato durante a campanha, com idas frequentes à televisão e com a participação ativa em vários comícios. 

Rudy Giuliani, com 72 anos, poderá ser também indicado para os cargos de procurador-geral, atualmente ocupado por Loretta Lynch, ou mesmo o cargo de secretário para a segurança interna. 

Jeff Sessions, senador do Alabama, é apontado para o cargo de secretário da Defesa ou procurador-geral, cargo para o qual Chris Christie, governador de Nova Jérsia, também é falado. Michael Flynn poderá ser escolhido como conselheiro para a Segurança Nacional e Richard Armitage, antigo secretário de Estado adjunto de Colin Powell na primeira administração Bush, e que preferiu apoiar Clinton em vez de Trump, é outro dos nomes apontados para o cargo de secretário de Estado. 

Na equação também entra a família de Trump. As leis federais proíbem o Presidente de nomear membros da família para servir na sua administração, mas a família foi determinante para o candidato durante a campanha.

Ivanka Trump, a filha mais velha de Trump, foi uma das principais conselheiras e intervenientes, bem como o marido, Jared Kushner, que surgiu na campanha em várias ocasiões e é um dos homens de confiança do novo presidente dos Estados Unidos. Os analistas referem que Kushner, que nunca ocupou qualquer cargo político, terá um enorme impacto na sua governação, seja ou não eleito para um cargo formal.  
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