Afeganistão. Taliban advertem contra retirada incompleta das forças ocidentais

por Carla Quirino - RTP
Base militar norte-americana de Bagram Mohammad Ismail - Reuters

Os afegãos enfrentam a retirada das tropas estrangeiras com apreensão. A operação das forças militares norte-americanas e da NATO em solo afegão chegou ao fim. O prazo simbólico de 11 de setembro para a saída do contingente dos Estados Unidos, anunciado por Joe Biden, deverá ser encurtado para o fim de agosto. O porta-voz dos taliban avisa que os militares que forem deixados para trás não estarão em segurança.

Depois de duas décadas de guerra, a presença militar norte-americana deixa marcas contraditórias na população afegã. Ora acusados por terem agenda própria, ora vistos como protetores, os norte-americanos já deixaram Bagram, a principal base das Forças Armadas dos Estado Unidos, perto de Cabul.

Em troca da saída das forças da NATO e norte-americanas, a guerrilha taliban comprometeu-se a não permitir ou apoiar operações de grupos extremistas no território que controla.

Para um porta-voz das forças taliban, a partida dos militares estrangeiros já vem tarde. Suhail Shaheen expressa num tweet a vontade de ver o povo afegão decidir o futuro do país sem imposições vindas do exterior.


"Quaisquer tropas estrangeiras deixadas no Afeganistão após o prazo de retirada da NATO, em setembro, estarão em risco como ocupantes
", diz Shaheen à BBC. E acrescenta que tomar Cabul não será um objetivo taliban. Todavia, se o acordo de Doha não for cumprido, "caberá à liderança decidir como proceder".

Shaheen destaca que civis estrangeiros, ONG e diplomatas não são alvos para os taliban. "Somos contra as forças militares estrangeiras, não diplomatas. As ONG, trabalhadores e embaixadas a funcionar é algo de que o nosso povo precisa. Não representaremos qualquer ameaça", esclareceu Suhail Shaheen.

Em setembro de 2020, a cidade de Doha, no Qatar, foi palco de negociações históricas. Representantes do Governo afegão e dos taliban estabeleceram um acordo de paz. O documento previa a saída das tropas norte-americanas e da NATO no prazo de um ano.

O então Presidente norte-americano Donald Trump, durante a campanha eleitoral, prometeu trazer os militares para casa o mais depressa possível.

O atual inquilino da Casa Branca, Joe Biden, reagenda a saída das tropas para 11 de setembro de 2021, data simbólica que assinala os 20 anos do ataque da Al Qaeda às Torres Gémeas, em Nova Iorque.

Segundo a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, a operação de retirada poderá terminar em agosto.

Para Biden, a presença norte-americana garantiu que o Afeganistão não se tornasse território de jihadistas.
Força de segurança governamental - Mohammad Ismail - Reuters

O Governo do Afeganistão prepara-se para assumir sozinho o futuro de Cabul. O Presidente afegão, Ashraf Ghani, afirma que as forças de segurança do país estão preparadas para manter os rebeldes afastados.

Para muitos afegãos, a retirada das tropas estrangeiras pode lançar o país de volta ao extremismo dos taliban.

Razwan Murad, porta-voz do Governo afegão, disse à BBC que Cabul está pronta para negociações e um cessar-fogo. E acrescenta que "os taliban têm agora de provar que estão empenhados em manter a paz".
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