Os afegãos enfrentam a retirada das tropas estrangeiras com apreensão. A operação das forças militares norte-americanas e da NATO em solo afegão chegou ao fim. O prazo simbólico de 11 de setembro para a saída do contingente dos Estados Unidos, anunciado por Joe Biden, deverá ser encurtado para o fim de agosto. O porta-voz dos taliban avisa que os militares que forem deixados para trás não estarão em segurança.
Depois de duas décadas de guerra, a presença militar norte-americana deixa marcas contraditórias na população afegã. Ora acusados por terem agenda própria, ora vistos como protetores, os norte-americanos já deixaram Bagram, a principal base das Forças Armadas dos Estado Unidos, perto de Cabul.
Em troca da saída das forças da NATO e norte-americanas, a guerrilha taliban comprometeu-se a não permitir ou apoiar operações de grupos extremistas no território que controla.
Para um porta-voz das forças taliban, a partida dos militares estrangeiros já vem tarde. Suhail Shaheen expressa num tweet a vontade de ver o povo afegão decidir o futuro do país sem imposições vindas do exterior.
We urge the International Community to let the Afghans decide their fate and that of their country themselves because Afghans have worst memories from systems imposed on them from outside. #m_baradar
— Suhail Shaheen. محمد سهیل شاهین (@suhailshaheen1) June 21, 2021
"Quaisquer tropas estrangeiras deixadas no Afeganistão após o prazo de retirada da NATO, em setembro, estarão em risco como ocupantes", diz Shaheen à BBC. E acrescenta que tomar Cabul não será um objetivo taliban. Todavia, se o acordo de Doha não for cumprido, "caberá à liderança decidir como proceder".
Shaheen destaca que civis estrangeiros, ONG e diplomatas não são alvos para os taliban. "Somos contra as forças militares estrangeiras, não diplomatas. As ONG, trabalhadores e embaixadas a funcionar é algo de que o nosso povo precisa. Não representaremos qualquer ameaça", esclareceu Suhail Shaheen.
Em setembro de 2020, a cidade de Doha, no Qatar, foi palco de negociações históricas. Representantes do Governo afegão e dos taliban estabeleceram um acordo de paz. O documento previa a saída das tropas norte-americanas e da NATO no prazo de um ano.
O atual inquilino da Casa Branca, Joe Biden, reagenda a saída das tropas para 11 de setembro de 2021, data simbólica que assinala os 20 anos do ataque da Al Qaeda às Torres Gémeas, em Nova Iorque.
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, a operação de retirada poderá terminar em agosto.
Para Biden, a presença norte-americana garantiu que o Afeganistão não se tornasse território de jihadistas.
Força de segurança governamental - Mohammad Ismail - Reuters
O Governo do Afeganistão prepara-se para assumir sozinho o futuro de Cabul. O Presidente afegão, Ashraf Ghani, afirma que as forças de segurança do país estão preparadas para manter os rebeldes afastados.Para muitos afegãos, a retirada das tropas estrangeiras pode lançar o país de volta ao extremismo dos taliban.
Razwan Murad, porta-voz do Governo afegão, disse à BBC que Cabul está pronta para negociações e um cessar-fogo. E acrescenta que "os taliban têm agora de provar que estão empenhados em manter a paz".