Alemanha descobre segundo espião dos EUA em poucos dias

Depois de ser apanhado um agente dos serviços secretos alemães a fornecer informações e a receber dinheiro da concorrência norte-americana, foi agora a vez de um militar alemão, investigado por contactos suspeitos com espiões norte-americanos. O porta-voz do Governo alemão comentou que os EUA não precisavam de espiar para saberem o que queriam: bastava-lhes ter perguntado.

RTP /
Steffen Seibert, porta-voz do Governo alemão, que aconselha os EUA a perguntarem em vez de espiarem Fabrizio Bensch, Reuters

Segundo Der Spiegel, a BKA (equivalente da PJ) e a Procuradoria-Geral confirmaram a realização de buscas na residência e num escritório do militar em causa, bem como no Ministério da Defesa. No entanto, não o suspeito não foi detido, ao contrário do que sucedera com o agente da BND (serviço secreto alemão) acusado de espionagem a favor dos Estados Unidos.

A detecção, em poucos dias, deste segundo caso de espionagem norte-americana na Alemanha já levou à convocação, para amanhã, quinta feira, de uma reunião de emergência da comissão parlamentar de controlo dos serviços secretos.

A chanceler Angela Merkel, em visita oficial à China, manifestou o seu desagrado pelos indícios recorrentes de espionagem a favor dos EUA, dizendo que "se trata-se de um procedimento muito grave".

O porta-voz do Governo de Angela Merkel afirmou hoje que existem "profundas divergências" com os Estados Unidos sobre o modo de compatibilizar segurança com direitos democráticos, acrescentando que os norte-americanos podiam ter perguntado directamente ao Governo alemão aquilo que queriam saber, e que teriam obtido os esclarecimentos desejados.

O líder parlamentar social-democrata, Thomas Oppermann, classificou as revelações sobre este segundo caso de espionagem, segundo Der Spiegel, como "um espectáculo indigno, isto de os serviços secretos dos EUA agora serem apanhados semanalmente a espiar". E acrescentou: "Aconselho aos americanos que ponham tudo em pratos limpos, que revelem tudo e que parem com as actividades de espionagem".

Já o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, afirmou ao Saarbrücker Zeitung: "Seria altamente inquietante que a espionagem continuasse imperturbável, precisamente quando estamos a debruçar-nos sobre as actividades de escutas da NSA e criámos uma comissão parlamentar de inquérito para isso". Steinmeier acrescentou ainda que "a tentativa de ficar a saber alguma coisa sobre a atitude da Alemanha com métodos conspirativos é não só imprópria como completamente supérflua".

Do lado dos EUA, regista-se uma tentativa de limitar os danos: o chefe da CIA, John Brennan, telefonou para a chancelaria federal, tendo falado com Klaus-Dieter Fritsche, o coordenador dos serviços secretos no gabinete de Angela Merkel. Sobre o teor da conversa, não houve quaisquer declarações nem resposta às perguntas da imprensa.

Também o embaixador norte-americano em Berlim, John Emerson, fora chamado no princípio da semana ao AA (Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão). Ontem voltou a deslocar-se ao AA, para uma conversa com o secretário de Estado Stephan Steinlein, mas desta vez aparentemente por iniciativa própria.
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