Alemanha: Merkel com menos avanço, extrema-direita sobe

por RTP
Axel Schmidt, Reuters

Uma sondagem do instituto de estudos de opinião Civey confirma a vantagem confortável da CDU sobre o SPD, mas indica também uma perda significativa das intenções de voto no partido de Merkel durante a última semana. Os pequenos partidos são os beneficiários desta perda, com especial destaque para a AfD, de extrema-direita, e com a excepção dos verdes.

A sondagem hoje publicada confirma a elevada probabilidade de Angela Merkel ser reconduzida no cargo de chanceler, muito à frente do seu rival social-democrata Martin Schulz. Merkel estará, contudo, mais longe de uma maioria absoluta que desde o início sempre foi dada como improvável.

A confirmar-se a tendência apontada nesta sondagem a três dias do fecho da campanha, Merkel teria de buscar novamente o apoio do SPD, com a fórmula recorrentemente utilizada da "Grande Coligação"; ou poderia, em alternativa, fazê-lo com dois pequenos partidos (os verdes e os liberais do FDP), com a fórmula da "Coligação Jamaica", até aqui sem qualquer exemplo de aplicação prática na história da Alemanha, mas ainda assim aritmeticamente possível e por isso pasto de frequentes especulações.
Sondagem Civey
CDU/CSU - 35,9%
SPD - 21,9%
Esquerda - 9,6%
Verdes - 7,6%
Liberais - 9,6%
AfD - 11,1%
Outros - 4,3%

O bloco democrata-cristão/social-cristão (CDU/CSU) permanece assim bem à frente do SPD, com 14 pontos percentuais de vantagem. Mas, de uma semana para a outra, a CDU/CSU perde nada menos de 2,3 pontos da vantagem que tinha.

O SPD só ganha em termos relativos, porque não parecem existir transferências de votos da CDU em seu benefício. Em geral, os beneficiados são os partidos parlamentares mais pequenos, com a excepção dos Verdes. Estes passariam ainda folgadamente a fasquia dos 5 por cento necessários a entrar no parlamento, mas ficariam relegados ao lugar de bancada mais pequena do Bundestag.

A perda de apoio da CDU - tal como a dos Verdes - é especialmente notória nas regiões da antiga RDA, onde o ambiente geral se traduziu nas últimas semanas em recepções hostis à chanceler. Na região de Mecklenburg-Vorpommern, Merkel chegou a ser recebida com o arremesso de tomates em comícios de propaganda eleitoral.

Nas regiões leste-alemãs, sobem especialmente a AfD (Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita) e Die Linke (Partido da Esquerda). A AfD sobe 2,5 por cento. Neste cenário, a AfD poderia obter um grupo parlamentar com 80 deputados ou mais, e passaria a ter orçamento para colocar no Bundestag cerca de quatro centenas de funcionários.
Antecedentes

Nos anos 1950, dois outros partidos da extrema-direita aelmã tiveram representação parlamentar: o "Partido Alemão (DP) e a "Liga dos Repatriados e Despojados"

Já antes, na história da República Federal da Alemanha, a extrema-direita esteve representada no parlamento. Mas o ministro social-democrata dos Negócios Estrangeiros, Sygmar Gabriel, considera que a eventualidade de uma forte representação da AfD levaria a que "pela primeira vez desde há 70 anos haveria nazis a discursar no Reichstag".

Nos parlamentos regionais onde está representada, a AfD tem introduzido um estilo original, truculento e por vezes caótico, disparando em todas as direcções sem proveito para si própria nem para o debate político.
AfD: a direita da extrema-direita no comando
Mas as referências históricas ao nazismo continuam a ser um dos testes mais significativos sobre a originalidade do estilo AfD. Mesmo a líder de até há pouco, Frauke Petry, habitualmente considerada uma figura pragmática do partido, surgiu recentemente a preconizar a reabilitação de um termo tipicamente hitleriano - o adjectivo "völkisch", utilizado para designar características populares consideradas puramente germânicas.

Um outro candidato destacado na lista da Saxónia, Jens Maier, tem-se destacado por uma ainda mais notória relativização dos crimes nazis, ao investir contra o que chamou o "culto da culpa" e ao vituperar a chamada "criação de povos mestiços". Maier, acusado também de ter enaltecido o massacre terrorista de Anders Breivik na Noruega, arcou com um processo de expulsão por prejudicado a imagem a do partido. Mas, pelos vistos, continua a representar esse mesmo partido numa eleição importante.

Os observadores mais atentos da realidade política alemã fazem notar, entretanto, um predomínio da ala mais radical nas listas da AfD. Em caso de eleição, será a direita da extrema-direita a predominar na sua bancada parlamentar, com umas 25 pessoas fortemente influenciadas por Björn Höcke, originário da Turíngia e líder dessa ala mais radical.

Outras duas tendências, mais institucionais, teriam francamente menos força que a de Höcke: a já citada Frauke Petry veria eleitos apenas seis dos seus apoiantes e a cabeça de lista Alice Weidel veria eleitos nove.

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