Pelo menos 100 membros de forças leais ao regime de Bashar al-Assad morreram esta quinta-feira na sequência de ataques desencadeados pela coligação internacional que combate o Estado Islâmico na Síria. Os Estados Unidos dizem que foi uma ação em "legítima defesa". Para o Governo da Síria tratou-se de um "massacre" e de um "crime de guerra".
"Exigimos [à comunidade internacional] que condene este massacre e responsabilize por ele a coligação", refere o texto. Na mesma carta, Damasco considera a coligação liderada pelos EUA "ilegal" e afirma que ela deveria ser desmantelada.O ataque liderado pelas forças de Washington esta madrugada contra o exército sírio leal a Damasco fez mais de 100 mortos na província de Deir Ezzor. O executivo sírio descreve-o como "um crime de guerra".
"Esta nova agressão constitui um crime de guerra e um crime contra a humanidade e confirma as intenções ignóbeis dos americanos quanto à Síria e a sua soberania", diz ainda a carta enviada pelos responsáveis da diplomacia de Damasco.
Também a Rússia, aliada do Governo do Presidente Bashar al-Assad, disse que o ataque a coligação liderada pelos Estados Unidos contra as forças governamentais sírias era "lamentável" e disse que iria levantar a questão durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria ainda esta quinta-feira.
"É muito lamentável e iremos levantar a questão, vamos perguntar-lhes [aos americanos] o que se passou", disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, aos jornalistas. O embaixador acrescentou acreditar que não se encontravam russo na área na altura do ataque da coligação.
Nebenzia afirmou ainda que a proposta de cessar-fogo exigida pela ONU para a Síria, que deverá ser proposta durante a reunião do Conselho de Segurança, "não é realista".
"Gostaríamos de ver um cessar-fogo, o fim da guerra, mas os terroristas, não penso que estejam de acordo", reagiu o embaixador russo em Nova Iorque.
Mais de 100 mortos
Mais de 100 elementos das forças do pró-regime terão morrido “numa situação de confronto com as Forças Democráticas da Síria e forças da coligação”, referiu esta manhã uma autoridade militar norte-americana.
É um ataque raro em solo sírio, palco onde os Estados Unidos têm optado pelo apoio e auxílio às forças militares curdas e árabes que combatem o Estado Islâmico, às quais o regime de Damasco se opõe de forma a assegurar a sua sobrevivência.
Bastante mais interventiva tem sido a Rússia, que nos quase sete anos de guerra civil tem desencadeado vários ataques contra o Estado Islâmico em defesa do aliado alauita.
A informação do ataque à larga escala desencadeado esta quarta-feira confirma as notícias avançadas pela televisão estatal síria, que dão conta de um ataque contra forças pró-governamentais na província de Deir al-Zor, provocando “dezenas de mortos e de feridos”.
Segundo a agência de notícias SANA, a ação constitui “uma agressão” da coligação internacional contra as “forças populares” que lutavam contra o Estado Islâmico e as Forças Democráticas da Síria, apoiadas pelos Estados Unidos.
De acordo com a coligação internacional, este foi um ataque realizado “em legítima defesa”, uma vez que o quartel general das Forças Democráticas da Síria em Deir al-Zor, onde estavam estacionados vários militares norte-americanos, tinha sido alvo de um recente ataque desencadeado pelas forças afetas ao regime de Bashar al-Assad.
"Contacto regular" com os russos
Em declarações à agência Reuters, sob condição de anonimato, um responsável norte-americano refere que o ataque anterior, promovido pelas forças pró-regime, envolveu mais de 500 elementos, apoiados por “artilharia, tanques, morteiros e sistemas de lançamento múltiplo de mísseis”.
Em resposta, os combatentes apoiados pelos Estados Unidos e as forças da coligação lançaram “uma combinação de ataques aéreos e de artilharia contra os agressores”.
Segundo os responsáveis, não há registo de feridos entre os soldados norte-americanos. Um combatente das Forças Democráticas Sírias ficou ferido.
“Suspeitamos que as forças do regime sírio estavam a tentar recuperar território que as Forças Democráticas da Síria conquistaram ao Estado Islâmico em setembro de 2017, incluindo os campos de petróleo em Khusham, que foram uma grande fonte de rendimento para o Daesh entre 2014 e 2017”, disse ainda o responsável.
O ataque inicial desencadeado pelas forças pró-regime ocorreu a apenas oito quilómetros da linha de demarcação fixada entre a Rússia e os Estados Unidos ao longo do rio Eufrates, com os russos a operar a oeste e os americanos a leste.
“Os responsáveis da coligação estão em contacto regular com os homólogos russos antes, durante e depois” dos ataques, garantiu o responsável norte-americano.
Em declarações à CNN, outro responsável norte-americano sublinhou que não há “evidência direta” de que os russos tenham participado no ataque às instalações Forças Democráticas Sírias, onde também se encontravam conselheiros norte-americanos.
A mesma fonte refere que os Estados Unidos não descartaram a hipótese de envolvimento de combatentes apoiados por forças iranianas neste ataque.
Este ataque e contra-ataque entre Washington e Damasco acontece num momento de tensão entre os dois países, com os Estados Unidos a acusarem o regime de Bashar al-Assad de novos ataques com recurso a armas químicas.
Em território sírio mantêm-se cerca de 2.000 combatentes norte-americanos, em contacto e colaboração com as Forças Democráticas da Síria, uma coligação com mais de 50 mil homens, entre combatentes árabes e curdos, que tem sido decisiva no combate ao Estado Islâmico nos últimos meses.
Ao longo de quase sete anos de guerra civil na Síria, os Estados Unidos apenas desencadearam ataques diretos a forças pró-regime por duas vezes, em junho e em abril do ano passado.