Alterações climáticas. "Cobardia política" é travão para proteger o clima

Não há meias palavras para a vice-presidente executiva da Comissão Europeia para a Transição Limpa, Justa e Competitiva. Teresa Ribera afirma que a "cobardia política" está a prejudicar os esforços europeus para enfrentar os efeitos da crise climática. Apesar da onda de calor que está a sufocar o continente europeu, sublinha a comissária.

Cristina Santos - RTP /
Markus Spiske - Unsplash

Em entrevista à edição online do britânico The Guardian, a comissária espanhola afirma não entender por que razão não há ações, atitudes adequadas, quando os efeitos da crise climática são cada vez mais evidentes. "Quando olhamos para o mapa da Europa, o que vemos é terrível", admitiu Teresa Ribera. 

Uma referência à onda de calor em junho, que levou os termómetros a registarem temperaturas inéditas (no mês de junho), desde Espanha e Portugal até o Reino Unido.

“São temperaturas absolutamente terríveis, com um impacto muito grave nos ecossistemas, na economia e na saúde”, avisa a comissária espanhola.


Teresa Ribera | Foto: Yves Herman - Reuters

Ainda não houve uma verdadeira mudança [de estratégia] para preparar as pessoas para fenómenos meteorológicos extremos, nem para saberem o que devem fazer perante alguns destes eventos” climáticos.

Teresa Ribera aponta o dedo a vários partidos políticos que são uma parte importante do problema. “Continuam a insistir, veementemente, que as alterações climáticas não existem”, ou então afirmam que "é demasiado dispendioso tomar decisões" para nos adaptarmos à realidade imposta pelas alterações climáticas.

Será muito mais caro se não agirmos. Todos sabemos disso”, defende a ex-ministra espanhola do Ambiente. “Não se pode dizer às pessoas que a mudança climática é o grande problema da nossa geração e depois dizer: ‘Desculpe, não vamos fazer nada’. É isso que eles estão a fazer”.

Dois exemplos da retórica de muitos partidos de extrema-direita na Europa e em outras zonas do globo são os casos espanhol e húngaro.

Em Espanha, o partido Vox quer rasgar a lei de transição energética e mudanças climáticas do governo socialista.

Na Hungria, o primeiro-ministro, Viktor Orbán, descreveu os planos da UE para combater o colapso climático como uma "fantasia utópica" que só aumentaria os preços da energia.


Foto: Juan Medina - Reuters (Madrid, 1 julho)

A questão, acredita Teresa Ribera, é que muitos políticos temem perder eleitorado se exigirem ações em defesa do clima

“Muitas vezes, é preciso coragem política para entender que existe uma dificuldade e que, em vez de nos encolhermos, é preciso erguer e ser firme para encontrar uma solução para todos”.
Proteger a natureza é uma estratégia de segurança
Ao lado de Teresa Ribera estava Jessika Roswall, comissária europeia do Ambiente, Resiliência da Água e Economia Circular Competitiva.

Roswall afirmou que um dos principais desafios da preparação para a nova realidade climática é mudar a forma como as pessoas utilizam a água.
 

Jessika Roswall | Foto: Hans Lucas - AFP

Perante o aumento das temperaturas e as secas, a água tem que ser vista, mais do que nunca, como um recurso vital e estratégico, lembra a comissária. “Há muito tempo que damos a água por garantida. Nunca a consideramos como um recurso finito”.

“Quando falamos de segurança – eu e todos nós – é claro que não se trata apenas de armas, tanques e outras coisas, é também a natureza que nos protege”, referiu Jessika Roswall.

“Pode ser água, podem ser fronteiras... Investir na natureza também é uma questão de segurança”.

Em Portugal, esta quarta-feira, cinco distritos de Portugal continental estão sob aviso laranja até às 18h00. Bragança, Évora, Guarda, Vila Real e Beja continuam debaixo de tempo quente. 

Quanto ao risco de incêndio, o IPMA colocou no nível máximo, durante esta quarta-feira, cerca de 40 concelhos, de norte a sul de Portugal continental.
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