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Amazónia. Política de Bolsonaro permite "exploração económica brutal", acusa cientista demitido

por RTP
O ex-diretor do INPE disse temer uma "enorme" degradação e admitiu estar "a rezar aos céus" para que o chefe do executivo alterasse a sua política ambiental Ricardo Moraes - Reuters

Após a divulgação de dados que asseguram que a desflorestação na Amazónia aumentou 80 por cento, o Presidente brasileiro demitiu o diretor do organismo responsável por monitorizar esta evolução, Ricardo Galvão. Agora, o ex-diretor, em entrevista ao Guardian, acusa Jair Bolsonaro de uma política ambiental baseada na "exploração económica rápida e brutal".

Ricardo Galvão era o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o organismo público responsável pelo sistema de monitorização de satélite que examina a desflorestação na Amazónia. Na semana passada, foi demitido por Bolsonaro, porque as suas declarações sobre o Presidente "geraram constrangimento", diz.

Em entrevista ao Guardian, Galvão avisa que a floresta da Amazónia ficará destruída se o líder brasileiro não alterar o rumo adotado.

Pedro Sá Guerra, correspondente da Antena 1 no Brasil

O cientista começa por apontar a política ambiental de Bolsonaro a favor de proprietários de terras e das explorações mineira e agrícola como um dos motivos para a rápida desflorestação: "É uma questão de exploração económica rápida e brutal".

"O que está a acontecer é que o Governo passou a mensagem de que não haverá nenhuma sanção [por crimes ambientais] como antes. Este Governo está a passar uma mensagem muito clara de que o controlo da desflorestação não será como no passado e que, quando os madeireiros ilegais ouvirem esta mensagem de que não serão monitorizados como no passado, vão trespassar a floresta", diz Galvão.

O ex-diretor do INPE disse ainda temer uma "enorme" degradação e admitiu estar "a rezar aos céus" para que o chefe do executivo altere a sua política ambiental naquela que é a maior floresta tropical do mundo.
"Aumento enorme" da desflorestação

Na semana passada, o INPE revelou que, sete meses volvidos sobre o início da presidência de Jair Bolsonaro, a Amazónia perdeu mais de 1330 quilómetros quadrados, representando um aumento de 39 por cento face a 2018.

O mês de junho foi também um mês negro – a desflorestação aumentou aproximadamente 80 por cento comparativamente ao mesmo mês do ano passado.

Foram destruídos 920,4 quilómetros quadrados de floresta, contra 488,4 em junho de 2018. Foi o pior recorde mensal alguma vez registado pelo INPE.

Contudo, o presidente brasileiro desvalorizou as críticas à política ambiental adotada, intitulando-as de "psicose ambientalista", acusando o INPE de dizer "mentiras".

Bolsonaro negou os dados fornecidos pelo INPE, acusando o órgão público de mentir para denegrir a imagem do Governo. O INPE assegura que os seus dados possuem 95 por cento de precisão.

"Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estarmos a fazer e de termos feito no passado, a Amazónia já se teria extinguido", replicou o Presidente do Brasil.


Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, assumiu que a desflorestação estava a aumentar, mas criticou o que denominou de "falta de precisão nos dados" e as interpretações "erradas" dos jornalistas. "A correlação nós sabemos que existe, o problema é que as percentagens divulgadas têm sido usadas para criar polémica mediática", frisou.

O ministro disse ainda que o Governo pretendia desenvolver um novo sistema de monitorização.

Após o ataque "infantil" ao INPE, Ricardo Galvão afirmou ter sentido "grande indignação e grande tristeza". Acusou também Ricardo Salles e o General Augusto Heleno, o chefe de segurança, de desacreditar o organismo público e assim permitir a exploração da floresta.

"Não há nenhuma dúvida em relação a isso. Eles têm relações muito mais próximas com os exploradores [do que os Governos anteriores]. O Presidente disse explicitamente que quer fazer negócios com empresas norte-americanas para explorar os minerais das reservas indígenas", disse Galvão.

E acrescentou: "É um plano negativo com a intenção de reduzir o controlo sobre a Amazónia porque eles acreditam que, explorando a floresta, vão conseguir obter um desenvolvimento económico mais rápido. Isto é completamente falso".
"A Amazónia é nossa, não vossa"

Durante a campanha presidencial em 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro afirmou que o território protegido constituía um obstáculo ao crescimento económico do país e prometeu utilizá-lo para exploração comercial e torná-lo "a alma económica" do Brasil.

Recentemente, o chefe de Estado brasileiro garantiu que, para tal, são necessárias menos regulamentações e mais empreendimentos agrícolas e mineiros. "Temos [na Amazónia] biodiversidade, temos riquezas e minerais, água potável, grandes espaços vazios, áreas turísticas inimagináveis. Temos tudo para alavancar a nossa economia partindo aqui da região amazónica", disse Bolsonaro.

A pressão internacional surgiu, com ameaças dos Governos da Alemanha e da Noruega para deixarem de financiar o Fundo da Amazónia, um projeto de cooperação internacional para preservar a floresta, uma vez que o Governo brasileiro eliminou dois dos comités responsáveis pela gestão das verbas.

Porém, para Bolsonaro, a floresta da Amazónia é um tema que apenas concerne ao Brasil: "A Amazónia é nossa, não vossa".

Ainda em resposta às críticas do Presidente francês, Emmanuel Macron e da Chanceler alemã, Angela Merkel, Bolsonaro disse que "eles ainda não perceberam que o Brasil está sob uma nova administração".



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