Brasil. Política ambiental de Bolsonaro ameaça Amazónia

por RTP
Reuters

Na Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, a desflorestação aumentou aproximadamente 80 por cento, de acordo com dados oficiais. O New York Times aponta a política ambiental de Bolsonaro a favor de proprietários de terras e das explorações agrícola e mineira como um dos motivos.

Sete meses volvidos sobre a presidência de Jair Bolsonaro e a Amazónia já perdeu mais de 1330 quilómetros quadrados, representando um aumento de 39 por cento face a 2018. O mês de junho foi também um mês negro – a desflorestação aumentou aproximadamente 80 por cento comparativamente ao mesmo mês no ano passado, de acordo com dados oficiais.
Floresta da Amazónia, o "pulmão do mundo"

Foram destruídos 920,4 quilómetros quadrados de floresta, contra 488,4 em junho de 2018. Foi o pior recorde mensal alguma vez registado pelo sistema de monitorização de satélite, gerido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Nos últimos trinta anos, a floresta da Amazónia perdeu pelo menos 953 mil hectares de áreas protegidas, segundo o G1, da Globo.

Um dos motivos? A presidência de Bolsonaro, de acordo com o New York Times.

O jornal norte-americano adianta que a destruição da floresta tem aumentado rapidamente desde o início da presidência de Bolsonaro e desde as políticas do seu Governo a favor dos proprietários de terras e da exploração agrícola e mineira.

A proteção da floresta da Amazónia tem sido um dos principais debates ambientais do Brasil nos últimos anos. Porém, a rota parece ter mudado.

"Com a eleição do Presidente Jair Bolsonaro, um populista que foi pessoalmente multado por violar as regulamentações ambientais, o Brasil mudou substancialmente de rota, recuando nos esforços que fez para desacelerar o aquecimento global ao preservar a maior floresta tropical do mundo", escreveu o jornal.

Durante a campanha presidencial em 2018, o então deputado federal afirmou que o território protegido constituía um obstáculo ao crescimento económico do país e prometeu utilizá-lo para exploração comercial e torná-lo "a alma económica" do Brasil.

Na semana passada, o chefe de Estado brasileiro garantiu que, para tal, são necessárias menos regulamentações e mais empreendimentos agrícolas e mineiros. "Temos [na Amazónia] biodiversidade, temos riquezas e minerais, água potável, grandes espaços vazios, áreas turísticas inimagináveis. Temos tudo para alavancar a nossa economia partindo aqui da região amazónica", disse Bolsonaro

"Psicose ambientalista", diz Bolsonaro
Contudo, o presidente brasileiro desvalorizou as críticas à política ambiental adotada, intitulando-as de "psicose ambientalista".

Após as críticas, o Governo brasileiro agendou uma reunião especial com o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, e algumas agências responsáveis pela proteção florestal. Na reunião, Bolsonaro negou os dados fornecidos pelo INPE, acusando o órgão público de mentir para denegrir a imagem do Governo. O INPE assegura que os seus dados possuem 95 por cento de precisão.

Depois da reunião, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, assumiu que a desflorestação estava a aumentar, mas criticou o que denominou de "falta de precisão nos dados" e as interpretações "erradas" dos jornalistas. "A correlação nós sabemos que existe, o problema é que as percentagens divulgadas têm sido usadas para criar polémica mediática", disse.

O ministro disse ainda que o Governo pretendia desenvolver um novo sistema de monitorização.

A pressão internacional também surgiu, com ameaças dos Governos da Alemanha e da Noruega para deixarem de financiar o Fundo da Amazónia, um projeto de cooperação internacional para preservar a floresta, uma vez que o Governo brasileiro eliminou dois dos comités responsáveis pela gestão das verbas.

Porém, para Bolsonaro, a floresta da Amazónia é um tema que apenas concerne ao Brasil: "A Amazónia é nossa, não vossa".

"Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estarmos a fazer e de termos feito no passado, a Amazónia já se teria extinguido", disse Bolsonaro.

O Observatório do Clima disse que o Governo falhou em explicar porque a desflorestação tinha atingido o pior valor mensal desde que o sistema de satélite foi estabelecido, em 2004.

"O que é ainda pior é que [Ricardo Salles] reafirmou a intenção de utilizar dinheiro público para contratar mais um sistema de monitorização remota, quando o que está a faltar na Amazónia agora é supervisão e investimento em atividades sustentáveis", disse a organização.
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