Ambiente arrefecido em 1,5 graus. Estudo avalia tinta exterior no combate ao calor urbano

por Carla Quirino - RTP
Pavimento da estrada do local da experiência em Singapura com revestimentos de pintura NTU Singapura

Recorrer a um revestimento de tinta fria pode ajudar as cidades a combater o efeito de "ilha de calor urbana" e reduzir até 1,5 graus Celsius o ambiente. É o que diz um novo estudo da Universidade Tecnológica de Nanyang de Singapura, que experimentou pintar telhados, paredes e ruas para fazer medições da temperatura do ar.

É o primeiro estudo que analisa o impacto do uso da tinta fria em escala e cenário real e a experiência tem o objetivo de reduzir a absorção de calor pelos materiais de construção e a subsequente libertação de calor para o ambiente urbano.

Os investigadores da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU) definiram duas áreas da cidade de Singapura para a análise.

A equipa selecionou quatro edifícios retangulares que criaram dois quarteirões paralelos com ruas estreitas ladeadas por prédios e revestiu os telhados, paredes e pavimentos de ruas de metade dessa área industrial com tinta fria, deixando a área adjacente não revestida.

Recorrendo a sensores ambientais, os cientistas monitorizaram o movimento do ar, a temperatura da superfície e do ar, a humidade e a radiação ao longo de dois meses.

Depois de compararem os dados das duas áreas, descobriram que durante um ciclo de 24 horas a zona revestida com a tinta registava uma redução de até 30 por cento do calor libertado pelas superfícies construídas, correspondendo a 2º C mais frio na hora mais quente do dia, comparativamente com a zona não pintada.
Tinta fria no pavimento da rua
A tinta fria é então uma tecnologia refletora de calor para superfícies exteriores de edifícios. Este estudo permite traduzir em números os benefícios, nomeadamente em termos de aumento da sustentabilidade e mitigação do efeito de "ilha de calor urbano".

Os ensaios sobre o uso de tinta para refrigerar o ambiente já foram feitos mas em modelo reduzidos. A nova experiência feita em espaço urbano real vem agora trazer mais dados sobre a eficácia do revestimento, sobretudo nos centros das cidades.

Contendo aditivos que refletem o calor do sol, a tinta conseguiu reduzir a absorção e emissão de calor superficial. 

Os telhados com pintura fria refletiram 50 por cento mais luz solar e, como resultado, absorveram 40 por cento menos calor, durante o período mais quente de um dia de sol, em comparação com os telhados convencionais.

Em termos de ambiente de rua, a área pedestre refrescou cerca de 1,5º C.  

Colocação do revestimento no telhado para a experiência | NTU Singapura

O coautor Bing Feng, da NTU School of MAE, conclui que “o estudo mostrou que o revestimento de tinta fria na estrada ajudou significativamente a reduzir as temperaturas mais quentes no quarteirão pintado, confirmando que o revestimento de tinta fria pode ser um caminho promissor para tornar as áreas urbanas mais frescas e confortáveis, especialmente durante o tempo quente”.

O nível de conforto térmico foi medido através do Índice Universal de Clima Térmico - um indicador da sensação humana de temperatura exterior que tem em conta a temperatura, a humidade relativa, a radiação térmica e a velocidade do vento.

“O nosso estudo fornece evidências de que revestimentos de tinta fria reduzem a acumulação de calor e contribuem para a refrigeração do ambiente urbano”, afirma o principal autor do estudo, Kiran Kumar Donthu.

Desta forma os investigadores acreditam que as cidades que procuram uma forma rápida e não dispendiosa para combater os efeitos devastadores das ondas de calor, poderão recorrer a tinta fria.
Refrigeração urbana
“Esta é uma solução minimamente intrusiva para refrigeração urbana que tem um efeito imediato, em comparação com outras opções que muitas vezes requerem uma grande remodelação urbana para serem implementadas”, sublinha Donthu.

Ao diminuir a quantidade de calor absorvido nos materiais de contrução, também pode tornar os edifícios mais frescos e reduzir a utilização de ar condicionado, acrescenta.

“Com o aquecimento global, as pessoas procurarão cada vez mais formas de se manterem frescas”, observa o investigador Wan Man Pun, da Escola de Engenharia Mecânica e Aeroespacial (MAE) da NTU.

Man Pun defende que “as descobertas do estudo não são relevantes apenas para cidades de Singapura, onde faz calor o ano todo, mas também para outras áreas urbanas por todo o mundo".

E salienta:“O nosso estudo valida como os revestimentos de pintura frios podem ser uma estratégia para reduzir o efeito de ilha de calor urbano no futuro”.

“Esperamos que as descobertas do nosso estudo encorajem mais os administradores urbanos a adotarem revestimentos de pintura frios em superfícies  construídas, em grande escala", remata Feng.

A investigação, conduzida no verão passado, foi publicada na revista Sustainable Cities and Society mas os estudos sobre o uso da tinta exterior continuam. Vão agora centrar-se em perceber como e quanto tempo o revestimento de tinta fria permanece na área intervencionada para a experiência.
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