Ameaçadas de extinção quase metade das plantas com flores e frutos

por Rosário Salgueiro - RTP
Foto: Jardim Real Botânico de Kew, UK

Quase metade das plantas com flores e frutos, já conhecidas, estão ameaçadas de extinção: 77% das plantas estão ameaçadas mesmo antes de terem nome científico. O alerta chega de duzentos cientistas, de 30 países, depois de se juntarem num esforço comum: verificar o que sabem e o que não sabem sobre as plantas e os fungos. As conclusões desse trabalho científico foram apresentadas nos arredores de Londres, no Real Jardim Botânico de Kew. Um santuário para plantas, com e sem flores, e fungos de todo o mundo.

A bióloga Matilda Brown, que se dedica há mais de duas décadas a quantificar os riscos de extinção das plantas, apresentou os principais resultados, poucos animadores, desta grande investigação: “quase metade, 45%, de todas as plantas com flores e frutos, que conhecemos estão ameaçadas de extinção”, avisa e acrescenta: “das que não conhecemos pelo nome a situação é ainda pior: 77% de plantas ainda não formalmente nomeadas ou recentemente descritas pelos cientistas já estão ameaçadas”. 

Um dos exemplos de planta em risco ou quase extinção vem de uma pequena localidade da Nova Guiné. Ali, uma planta, descoberta em 2022, “está quase de certeza extinta”, admite a professora Brown, porque “o local onde essa planta se encontra está alagado. Por isso dizemos que foi extinta mesmo antes de ser descrita e nomeada.”

Se estamos a falar de espécies que não existem cientificamente como podemos dizer que estão ameaçadas? Matilda Brown, bióloga, explica que chegam “a este número de 77% partindo do número de plantas que são descritas em cada ano e estão ameaçadas. É por extrapolação que sabemos que pelo menos ¾ das plantas que descrevemos nos anos e décadas seguintes já estão ameaçadas”.

Plantas em risco, Humanidade ameaçada

Matilda Brown alerta ainda para o risco que a espécie humana corre quando as mais de 100.000 plantas com flores e frutos arriscam a extinção: “É mais do que todos os mamíferos, répteis e peixes juntos. Podemos dizer que 9 em cada 10 medicamentos provêm das plantas. Pode ser muito perigoso perder metade dos nossos medicamentos futuros. É uma situação muito séria em termos de possíveis impactos para a humanidade”.

Registar e documentar 3 milhões de espécies de plantas não é tarefa fácil. Apenas 20%, 60 mil, estão recolhidas, verificadas, nomeadas em publicações cientificas. Demora em média 16 anos entre a descoberta e a nomeação pela ciência de uma planta. As que correm mais risco são as que nascem e tentam crescer em áreas confinadas e as que vivem em zonas de maior pegada humana.

Há fungos (cogumelos e míscaros) em extinção

Estas quase duas centenas de investigadores, de 110 instituições académicas e científicas, também estudaram os fungos, como cogumelos e míscaros. Ester Goya, investigadora, revela-nos que estimam a existência de 2,5 milhões de fungos. 

Para completar a catalogação e nomeação de todos seriam necessários mil anos: “não conhecemos todas as espécies de fungos, mas sabemos onde eles aparecem”, explica Goya, acrescentando a importância dos fungos para a preservação da própria humanidade: “Estamos a falar de organismos que são essenciais para o nosso ecossistema, importantes para o sequestro de carbono. E fundamentais também para a humanidade, já que comemos cogumelos. O mercado global de cogumelos comestíveis e medicinais ascende os 60 mil milhões de dólares. Muitos dos nossos medicamentos têm fungos na sua composição. Para além disso os fungos matam-nos. O ano passado a OMS – Organização Mundial de Saúde – elaborou uma lista de 10 fungos com resistência a fármacos. Precisamos, por isso, de os conhecer. Muitos são microscópicos, estão na água e no ar”.

Cientistas pedem plano de emergência para salvar espécies

Dada a gravidade da situação os cientistas pedem aos governos mundiais um plano de emergência que passa por considerar que todas as espécies novas descritas sejam logo consideradas como ameaçadas. Deste modo, os investigadores e os governos podem por “em prática ações de conservação para que essas espécies possam ser protegidas. Temos de as ter avaliadas, verificadas e alinhadas numa lista vermelha”, admite a professora britânica.

Identificado maior nenúfar do mundo

Todos os dias são identificadas e nomeadas cientificamente 20 novas plantas. “Desde 2020, 18.800 espécies de plantas receberam nomes”, revela o diretor científico do Real Jardim Botânico de Kew. Para Alexandre Antonelli, o conhecimento pode reverter a perda da biodiversidade e reforçar a proteção do planeta.

Nesta constante busca pelo conhecimento uma equipa, multidisciplinar e internacional, descobriu um novo nenúfar. Investigadores trouxeram para os arredores de Londres umas sementes do nenúfar Victoria Amazónia, nomeado há mais de 100 anos em homenagem à Rainha britânica, já identificado e catalogado na Colômbia. 

Quando o viram germinado no jardim botânico suspeitaram ser de uma espécie diferente. As suspeitas deram certezas científicas. O nenúfar de um verde vivo é, agora, o maior nenúfar do mundo, tem a maior folha simples, sem veio a dividi-la. São precisos seis adultos de braços abertos e de mãos dadas para rodear o diâmetro do novo nenúfar nomeados pelos cientistas Victoria Boliviana. As suas flores podem chegar a 36 centímetros, mas só abre uma de cada vez e apenas durante duas noites. Esta raridade da natureza existe em grande número no Parque de La Riconda, na Bolívia.

Os cientistas admitem que há uma corrida contra o tempo para salvar estas maravilhas ameaçadas pelo aquecimento global.
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