Antecipação das eleições na Baixa Saxónia agrava desvantagem de Schulz

por RTP
O chefe social-democrata do Governo da Baixa Saxónia, Stephan Weil (à dir.): fragilizado pela promiscuidade com a Volkswagen. Fabian Bimmer, Reuters

O Land da Baixa Saxónia, governado até agora por uma coligação entre social-democratas e verdes, vai para eleições antecipadas. O Governo cai com estrondo e a queda é mais um contratempo entre tantos que já parecem condenar as hipóteses de Martin Schulz, de suceder a Angela Merkel na chancelaria federal da Alemanha.

O caminho de Angela Merkel para um quarto mandato não está forrado com uma passadeira vermelha: as sondagens mostram-na em perda, embora mantendo a dianteira. De qualquer modo, a certeza da reeleição advém-lhe muito mais da baixa ainda mais rápida das intenções de voto no seu challenger mais directo, o candidato social-democrata Martin Schulz. Um dos factores que jogam em desfavor de Schulz é a inesperada queda do Governo da Baixa Saxónia.
Acusações de suborno político
A queda do Governo regional teve como causa imediata a espectacular conversão de uma deputada verde à democracia cristã. A maioria tangencial, de apenas um voto, que sustentava a coligação verde-social-democrata no Parlamento regional, desmoronou-se com a deserção de Elke Twesten.

A reacção dos dois partidos derrubados foi iracunda: ambos acusaram a deputada de ter virado a casaca por não ter garantias de entrar nas próximas listas em lugar reelegível, e por ter recebido promessas de carreira por parte da CDU democrata-cristã.

Elke Twesten e a CDU têm desmentido a existência de tais promessas, mas o desmentido apenas será verificável nos próximos meses e não, em qualquer caso, já nas próximas eleições regionais, a realizar em 15 de Outubro. Uma neófita democrata-cristã com um peso político limitado não poderá, aí, passar à frente dos barões e baronesas do partido.
Acusações de promiscuidade com a VW
Seja qual for o futuro político da deputada trânsfuga, a antecipação das eleições vem no pior momento para o líder social-democrata regional e chefe do Governo, Stephan Weil. Está ainda fresca na memória do público a revelação de um incidente que pode ser-lhe fatal.

Quando foi conhecida a manipulação pela Volkswagen do software para controlo da emissão dos gases de escape, Weil preparou um discurso de crítica àquele procedimento da multinacional. Era normal que o chefe do Governo se pronunciasse sobre um facto envolvendo a Volkswagen, num Land em que a empresa mantém a grande fábrica de Wolfsburg. O que não era normal era a solicitude do político, que enviou o discurso à Volkswagen. Quando o pronunciou, em 13 de Outubro de 2015, tinha feito várias alterações sugeridas pela empresa.

De pouco lhe servirá esgrimir agora um facto verdadeiro, revelado pelo insuspeito diário conservador Süddeutsche Zeitung: os partidos da oposição local - CDU democrata-cristã e FDP liberal - encenam agora uma indignação que não expressaram de todo em Agosto de 2016, quando a submissão do rascunho à VW foi admitida com toda a naturalidade na Comissão de Economia do Parlamento regional.

Segundo o Süddeutsche Zeitung, o líder parlamentar liberal, Jörg Bode, congratulou-se mesmo pela transparência com que Weil dera a conhecer à Comissão as diligências empreendidas junto da VW, embora ressalvando que estas não teriam sido necessárias.
Promiscuidade com uma longa história
A Weil, também lhe servirá de pouco argumentar que o Governo anterior, da actual oposição democrata-cristã-liberal, fazia exactamente a mesma coisa e consultava a VW, como potentado local, sobre comunicados seus, antes de torná-los públicos.

O então presidente do Governo regional, David McAllister (CDU) e o já citado Jörg Bode (FDP), então ministro da Economia, encontravam-se à frente do Governo quando, em 14 de Setembro de 2011, este enviou à VW um e-mail, submetendo-lhe um projecto de comunicado do próprio Governo sobre uma reunião do Conselho Fiscal da VW.

Segundo o mesmo Süddeutsche Zeitung, consultas destas por parte do Governo liberal-democrata-cristão ocorreram pelo menos 14 vezes entre 2010 e 2013, nomeadamente aquando da fusão entre Porsche e VW, olhada com desconfiança e suspeição pelo Ministério Público. Nessas mensagens, os políticos da direita chamavam a atenção dos dirigentes empresariais para a utilidade que poderiam ter excertos determinados dos seus comunicados para salvaguardar a posição da empresa perante a Justiça.

Em todo o caso, para Stephan Weil e para os Verdes, todos estes antecedentes dos indignados opositores actuais terão pouca utilidade, a dar crédito às sondagens, que colocam a direita à frente das intenções de voto para 15 de Outubro. Com efeito, o deslize de Weil é o mais recente e a antecipação das eleições vem num momento em que ele ainda não teve tempo de dissipar-se nas brumas da memória popular.Eleições regionais: um trauma do SPD
Para Martin Schulz, a antecipação das eleições também surge no pior momento possível. Embora as eleições federais (24 de Setembro) precedam de três semanas as regionais da Baixa Saxónia (15 de Outubro), não é possível ignorar que os social-democratas saxões sofreram um profundo revés com a queda do seu Governo e se encaminham para um provável desaire eleitoral.

A experiência recente de eleições regionais tem sido sempre um factor de enfraquecimento da campanha de Schulz, mesmo quando as condições pareciam mais favoráveis. Em Maio deste ano, sofreu duas catástrofes sucessivas: uma, em Schleswig-Holstein, onde democratas-cristãos, liberais e verdes, todos coligados, lhe arrebataram a maioria; outra, logo a seguir, quando a CDU surpreendeu arrebatando aos social-democratas o lugar de partido mais votado no tradicional baluarte da Renânia-Norte Vestefália.

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