Apoio aos agricultores: Greta Thunberg, Rihanna e outros irritam Governo indiano

por Inês Moreira Santos - RTP
Harish Tyagi - EPA

Milhares de agricultores têm-se manifestado na Índia, há mais de dois meses, contra as recentes leis agrícolas por considerarem que representam uma ameaça à sua subsistência. Depois de o Governo indiano ter pedido ao Twitter para suspender várias contas de manifestantes e agricultores, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país criticou o "sensacionalismo" do apoio de personalidades como Greta Thunberg e Rihanna.

Os protestos decorrem desde novembro - com milhares de manifestantes a acamparem nos arredores de Nova Deli e a protestarem na capital, apelando à revogação das novas leis agrícolas -, mas têm vindo a ganhar maior notoriedade mundial com a manifestação pública de apoio de várias personalidades e figuras públicas internacionais.

Depois de, na segunda-feira, o Governo indiano ter pressionado o Twitter para tomar medidas contra cerca de 250 utilizadores indianos, por representarem uma "séria ameaça à ordem pública", os agricultores receberam o apoio de algumas personalidades - o que parece não ter sido do agrado do executivo indiano.

A "estrela Pop" Rihanna e a jovem ativista Greta Thunberg, na terça-feira, partilharam um artigo da CNN , no Twitter, sobre as manifestações com a hashtag "Farmers Protest". Com milhares de visualizações, partilhas e comentários em ambas as contas, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia criticou, esta quarta-feira, as "personalidades internacionais" pela interferência "sensacionalista".

"Por que não estamos a falar sobre isto? #FarmersProtest", escreveu Rihanna, que tem mais de 100 milhões de seguidores no Twitter.



A publicação da "estrela Pop" foi partilhada mais de 230 mil vezes, teve quase 80 mil comentários e mais de meio milhão de "gostos". Mas gerou um alvoroço na Índia, levando os apoiantes do Governo a criticar a cantora, acusando-a de apoiar os manifestantes em troca de dinheiro.

Embora tenha provocado uma onda de críticas dos apoiantes do Governo, foram muitos os indianos que comentaram, a agradecer a Rihanna por chamar a atenção internacional para o problema.

Ao tweet de Rihanna seguiram-se mais uns quantos, incluindo figuras políticas britânicas e norte-americanas, tornando a hashtag uma tendência na rede social.



A sueca Greta Thunberg, uma das principais ativistas do meio ambiente no mundo, partilhou a mesma notícia que a cantora e escreveu: "Estamos solidários com os #FarmersProtest na Índia".


Também uma sobrinha de Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos de origem indiana, escreveu sobre o assunto na rede social.

"Devíamos estar todos indignados com os bloqueios da Internet na Índia e a violência paramilitar contra os agricultores que protestam", escreveu no Twitter Meena Harris.

A verdade é que as publicações de várias personalidades internacionais despoletaram uma onda de agitação online na Índia, na terça-feira.
Governo critica "sensacionalismo" nas redes sociais
O Governo da Índia não gostou dos comentários internacionais sobre os protestos e afirmou que eram "assuntos internos" e que havia "grupos de interesses pessoais" que estavam a tentar mobilizar apoio contra o Governo.

Num comunicado publicado esta quarta-feira, com as hashtags #IndiaTogether (Índia unida) #IndiaAgainstPropaganda (Índia contra a propaganda), o Ministério dos Negócios Estrangeiros pediu às figuras públicas que "antes de se apressarem a comentar estas questões (...) compreendam bem o que está em jogo".

Segundo o Ministério, as celebridades deviam abster-se da "tentação de escrever hashtags e comentários sensacionalistas nas redes sociais" sem total conhecimento do assunto.

"Gostaríamos de enfatizar que esses protestos devem ser vistos no contexto da política e ethos democráticos da Índia e dos esforços do Governo e dos grupos de agricultores interessados ​​para resolver o impasse", lê-se na declaração.



Recorde-se que, desde 26 de novembro, dezenas de milhares de agricultores, a maioria de Punjab (norte), protestam em acampamentos instalados nas principais estradas da periferia de Nova Déli.

Os trabalhadores rurais protestam contra as reformas do Governo, que liberalizam os mercados agrícolas, e exigem sua revogação total.
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