AR-15, a arma de eleição dos autores dos maiores massacres na América

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Marco Bello - Reuters

Por si só, a AR-15 será responsável por mais de duas centenas e meia de mortes nos maiores massacres levados a cabo nos Estados Unidos nas duas últimas décadas. Designada por “DDM4 Rifle”, a espingarda desportiva semiautomática do fabricante Daniel Defense que vem da M4 usada pelo exército americano há décadas, foi a arma escolhida também por Salvador Ramos, o atirador de 18 anos que esta terça-feira matou 21 pessoas numa escola em Uvalde, Texas, estando 19 crianças entre as vítimas. A partir dos 18 anos, qualquer pessoa pode comprar uma AR-15 no Estado, bastando para tal que apresente um documento de identificação.

Um documento de identificação bastará para o interessado adquirir a AR-15 no Estado do Texas.

Uma espingarda automática da família das armas de guerra, esta é também a arma de eleição dos atiradores envolvidos nos maiores massacres ocorridos nas últimas décadas nos Estados Unidos: Uvalde (2022 – 21 mortos), Buffalo (2022 – dez mortos), Boulder (2021 – dez mortos), Orlando (2016 – 49 mortos), Parkland (2018 – 17 mortos), Las Vegas (2017 – 58 mortos, 546 feridos), Aurora (2012 – 12 mortos), Sandy Hook (2012 – 27 mortos), Waffle House, Tennessee (2018 – 4 mortos), San Bernardino (2015 – 14 mortos), Midland/Odessa (2019 – sete mortos), Sutherland Springs (2017 – 26 mortos) e Tree of Life Synagogue (2018 – 11 mortos).Nos Estados Unidos, a segunda emenda da Constituição salvaguarda o direito à posse de armas.

Numa contabilidade por alto, tendo em conta as características tidas em conta para a designação de tiroteio em massa (quando há quatro ou mais vítimas mortais), a AR-15 é “responsável” por mais de duas centenas e meia de mortos nos massacres ocorridos nestas últimas décadas.

Trata-se de uma espingarda tão popular que há dezenas de empresas a produzir a sua própria versão da AR-15.
A semiautomática AR-15
A NRA (National Rifle Association – Associação Nacional de Espingardas) diz da AR-15 que é a “espingarda americana”. Trata-se de uma arma inicialmente dita para a caça. No entanto, além da precisão, esta espingarda é conhecida pela rapidez de recarga e pela capacidade de disparar oito balas por segundo, o que aumenta a sua letalidade em situações como as que exigem os tiroteios em massa.

As potencialidades deste tipo de arma, altamente letal num massacre, tornando os atiradores capazes de fazer um número elevado de vítimas, levaram o Congresso a proibi-las em 1994. A proibição acabaria, no entanto, por expirar dez anos depois, em 2004, não sendo renovada, muito fruto do trabalho de lobbying da NRA, o poderoso grupo pró-armas no país e que agora se encontra ele próprio debaixo de fogo na ressaca da morte das crianças na escola primária de Uvalde.


Foto: danieldefense.com

A proibição das armas não chega nunca a estar em cima da mesa dos legisladores norte-americanos. Quando muito, são questionadas as circunstâncias em que os cidadãos podem ter acesso à aquisição, as condições que devem apresentar quando se apresentam num supermercado que disponibilize espingardas e pistolas de maior ou menor calibre. A chamada verificação de antecedentes, por exemplo.

As razões para os políticos temerem avançar com uma legislação mais restritiva no que se refere ao porte de armas está ligado a pelo menos dois fatores: o poder da NRA e a sua implementação nos corredores de Washington, por um lado, e a tradição belicista e clara devoção às armas dos americanos, por outro.

Não é, portanto, de estranhar que nesta idiossincrasia muito própria da grande parte dos americanos – não podemos esquecer que circulam no país mais armas em mãos privadas do que o total da população, um número próximo dos 400 milhões face aos 329 milhões de habitantes – a escolha de uma arma seja um aspeto levado a sério no país. E a proximidade dos modelos usados pelos militares terá aqui um ponto a favor da AR-15.

Designada por “DDM4 Rifle”, a espingarda desportiva semiautomática do fabricante Daniel Defense espelha tanto quanto possível para uso civil a M4 usada pelos militares norte-americanos, que por sua vez é uma versão mais curta e mais leve do que a M16A2.

Entre a AR-15 e a M4 há muitas semelhanças e será isso o que torna a primeira tão atrativa para o americano que procura uma espingarda fiável e letal. A diferença é que esta última pode mudar para modo totalmente automático.

Com base no projeto Colt AR-15, depois de em 1977 as patentes terem expirado, foram vários os fabricantes a adotar e produzir a sua própria versão para comercialização. Uma oferta que na Daniel Defense pode estar à distância de pouco mais de 1500 euros. Quando fez 18 anos, Salvador Ramos terá comprado duas destas armas, de acordo com posts que o próprio colocou nas redes sociais.

"Não existe uma diferença significativa entre esses fuzis e armas militares", explica o centro de estudos Violence Policy Center, organização envolvida na luta pelo controlo das armas nos Estados Unidos.
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