Arábia Saudita liberta norte-americano detido por tweets críticos

por Cristina Sambado - RTP
Mandel Ngan - Reuters

Foi libertado um cidadão norte-americano condenado a 19 anos de prisão na Arábia Saudita, por ter criticado as autoridades do reino no Twitter, revelou o filho, que está agora a tentar o regresso de Saad Ibrahim Almadi aos Estados Unidos.

Saad Ibrahim Almadi, um norte-americano de 72 anos de origem saudita, foi detido em 2021, quando chegou a Riade para visitar a família, por tweets contra a monarquia do país do Golfo. Desde a sua detenção, confirmada pelo Departamento de Estado norte-americano, as autoridades sauditas permaneceram em silêncio.

Almadi foi condenado em outubro de 2022 a 16 anos de prisão, uma sentença que, em fevereiro de 2023, foi prorrogada para 19 anos. No entanto, um recurso de surpresa apresentado na passada segunda-feira ditou a sua libertação.

Para já, nem os Estados Unidos nem a Arábia Saudita comentaram a libertação de Almadi.


Segundo o filho, Ibrahim Almadi “foi libertado e está em casa, em Riade”.

No entanto, Saad Ibrahim Almadi não pode abandonar o território saudita devido a uma proibição de viagem que foi imposta em 2022, acrescentou.

Ibrahim Almadi revelou ainda que vai insistir no regresso do pai aos Estados Unidos para que possa ser tratado, na Florida, por problemas de saúde, como a diabetes.

O filho entregou, no ano passado, à AFP uma lista de tweets que foram usados como provas contra o pai.
Entre estes, incluíam-se posts sobre protestos contra aumentos de impostos, críticas à demolição de partes antigas das cidades de Meca e Jeddah, na Arábia Saudita, e o assassinato em 2018, por agentes sauditas em Istambul, do jornalista e crítico do regime Jamal Khashoggi.

As autoridades encontraram também uma caricatura pouca lisonjeira do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman no telefone de Saad Ibrahim Almadi.


O filho revelou ainda que o pai se tinha comprometido, perante as autoridades sauditas, a não prestar declarações sobre o caso após ser libertado.

Segundo Ibrahim Almadi, as autoridades "obrigaram Saad Ibrahim Almadi a assinar um documento no qual se comprometia a não falar publicamente sobre a sua libertação": "Portanto, sou eu que falo sobre o caso porque quero pressioná-lo a ir para casa”.

A detenção de Saad Ibrahim Almadi aconteceu numa altura em que as relações entre Riade e Washington estavam tensas, devido a desacordos sobre política energética e os Direitos Humanos.

Em 2022, o Departamento de Estado revelou “preocupação” ao Governo saudita sobre o norte-americano, frisando que o “exercício da liberdade de expressão nunca deveria ser criminalizado”.


Joe Biden revelou que tinha levantado o caso de Almadi e de outros cidadãos norte-americanos que permanecem proibidos de sair da Arábia Saudita, durante reuniões com o rei Salman e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman que teve em julho de 2022, quando visitou o país do Golfo.
"A pressão estratégica funciona"

O diretor saudita da ONG Iniciativa da Liberdade, Abdullah Alaoudh, revelou que Almadi tinha sido detido injustamente foi libertado na sequência de uma campanha incansável do seu filho e de pressão internacional.

Há muitas pessoas detidas na Arábia Saudita que não têm o benefício da cidadania dos EUA para chamar a atenção dos seus casos”, acrescentou Abdullah Alaoudh.

Para a Iniciativa da Liberdade, “a libertação de Almadi mostra que a pressão estratégica funciona e que os funcionários norte-americanos devem continuar a pressionar para a libertação dos prisioneiros e o levantamento das proibições de viagem”.

O Reino Saudita é regularmente criticado por organizações de Direitos Humanos por graves violações, incluindo a repressão contra dissidentes políticos e ativistas feministas.

Nos últimos meses, o regime tem sido particularmente julgado pelas duras sentenças que profere contra quem o critica nas redes socias.

Em agosto de 2022, ativistas revelaram que Nourah al-Qatani, mãe de cinco filhos, foi condenada a 45 anos de prisão por “desafiar” o rei e o príncipe herdeiro em tweets.

Já Salma al-Shehab, mãe de dois estudantes que frequentam a Universidade de Leeds no Reino Unido, foi condenada a 34 anos de prisão por um tribunal de recurso por “prestar auxílio àqueles que procuram perturbar a ordem pública” e publicar “falsos rumores” no Twitter.
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