Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Assalto ao Capitólio. Relatório alertou três dias antes que "o próprio Congresso" podia ser o alvo

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Joshua Roberts - Reuters

O Washington Post teve acesso a um relatório dos serviços de inteligência da Polícia do Capitólio que previa um cenário de violência como se veio a verificar no dia 6 de janeiro, o que vem alimentar as acusações de falhas de segurança. O documento alertava, três dias antes, que "o próprio Congresso" poderia ser o alvo dos milhares de manifestantes pró-Trump que se esperava que se reunissem em Washington naquele dia.

Passaram dez dias desde aquele que ficou conhecido como o dia em que a democracia norte-americana sofreu um ataque sem precedentes. São agora cada vez mais as peças que completam o puzzle do ataque ao Capitólio e à medida que os acontecimentos vão ficando mais nítidos, descobrem-se grandes falhas de segurança e de atuação das forças policiais.

Este sábado, o jornal The Washington Post avança que três dias antes do assalto ao Capitólio, um relatório interno dos serviços de inteligência da Polícia do Capitólio alertava para um cenário violento no qual “o próprio Congresso” poderia ser alvo de milhares de apoiantes do presidente Donald Trump.

“Os defensores do atual presidente olham para o dia 6 de janeiro de 2021 como a última oportunidade para inverter os resultados das eleições presidenciais”, lê-se num excerto do relatório de 12 páginas, ao qual o Washington Post teve acesso.

“Essa sensação de desespero e deceção pode vir a ser mais um incentivo para se tornar violento. Ao contrário dos protestos pós-eleições anteriores, os alvos dos manifestantes pró-Trump não são necessariamente os contra-manifestantes como eram anteriormente, mas sim o próprio Congresso. Esse será o alvo no dia 6 de janeiro”, alertava a unidade de inteligência da força policial do Capitólio no dia 3 de janeiro.

O relatório incluía descrições assustadoras do ataque que os manifestantes pareciam estar a planear em fóruns onde os supremacistas brancos e seguidores do movimento “Alt-right” se reúnem. Segundo o documento, os organizadores da manifestação estavam a pedir aos apoiantes de Trump para que fossem munidos com armas e equipamentos de combate especializados, incluindo máscaras de gás e coletes à prova de bala. As imagens do assalto ao Capitólio mostram muitos manifestantes com estes equipamentos.

“O protesto ‘Stop the Steal’, em particular, não tem uma licença, mas vários oradores de relevância, incluindo membros do Congresso, devem falar no evento”, dizia o documento. “Isso, combinado com a probabilidade de o ‘Stop the Steal’ atrair supremacistas brancos, membros da milícia e outros que promovem ativamente a violência, pode levar a uma situação significativamente perigosa para as autoridades policiais e para o público em geral”, alertava.

Duas pessoas familiarizadas com o documento disseram ao Washington Post que o relatório foi transmitido a todo o pessoal de comando da Polícia do Capitólio pelo diretor da unidade de inteligência, Jack Donohue. No entanto, não terá sido, segundo o jornal, amplamente divulgado a outros ramos das forças de segurança, como o FBI.

O ex-chefe da Polícia do Capitólio, Steven Sund, que anunciou a sua demissão dois dias após o ataque, disse durante uma entrevista na sexta-feira que seria impróprio discutir publicamente um documento interno da inteligência, mas garantiu estar familiarizado com os relatórios do departamento, que, segundo ele, orientaram o planeamento de segurança.
Outros alertas ignorados
Os responsáveis pela segurança do Capitólio reconheceram que não estavam preparados para conter uma multidão, mas muitos críticos têm apontado que a manifestação pró-Trump que juntou milhares de norte-americanos naquele dia estava já marcada há várias semanas e era motivo suficiente para que as forças policiais ativassem medidas preventivas mais robustas.

O relatório interno dos serviços de inteligência da Polícia do Capitólio é apenas um entre uma série de avisos que os especialistas em segurança afirmam que deveriam ter sido suficientes para alertar as autoridades sobre os altos riscos à segurança a 6 de janeiro, quando o Congresso estava reunido para ratificar a vitória do presidente eleito Joe Biden.

Um dia antes do ataque que provocou cinco mortos, o Washington Post noticiava a existência de um relatório do departamento do FBI na Virgínia onde era emitido um aviso explícito de que alguns extremistas estavam a preparar-se para viajar até Washington e ameaçavam cometer “atos de guerra”.

O departamento do FBI em Washington disse que, assim que recebeu o aviso de 5 de janeiro, a informação foi rapidamente compartilhada com outras agências, através dos mecanismos das agências de combate ao terrorismo nos EUA.

Dois dias antes de o Congresso se reunir para formalizar a vitória de Biden, o chefe da polícia do Capitólio estava preocupado com a necessidade de medidas de segurança adicionais e pediu a altos funcionários de segurança do Congresso para declarar emergência e ativar a Guarda Nacional. No entanto, segundo revelou Sund ao Washington Post, o pedido foi rejeitado.

No dia do ataque, Sund renovou o pedido de apoio de emergência da Guarda Nacional, depois de a multidão de manifestantes ter derrubado as barricadas erguidas pelos agentes de segurança, por volta das 13h00 locais. Os reforços acabariam por chegar mais de quatro horas depois, quando os manifestantes estavam já dentro do edifício e deixavam um rasto de destruição.

Quatro agências federais anunciaram na sexta-feira que vão investigar como os agentes de segurança se prepararam e responder ao comício pró-Trump que precedeu o ataque ao Capitólio.

Estas e outras agências estão agora a preparar-se para outros protestos armados que poderão ocorrer a 20 de janeiro, dia em que Joe Biden e a sua vice-presidente Kamala Harris tomam posse. Milhares de soldados da Guarda Nacional dos Estados Unidos estão destacados para este dia.

c/agências
pub