Astronauta da ESA quer ser o próximo a pisar a lua

por RTP
Nuno Patrício - RTP

Entre crianças e estudantes do ensino secundário, Andreas Mogensen partilhou histórias sobre o espaço e a sua profissão. O astronauta dinamarquês falou no Pavilhão do Conhecimento sobre a missão efetuada na Estação Espacial Internacional, e sobre curiosidades do planeta em que vivemos.

Com a plateia cheia, Andreas Mogensen falou sobre o espaço, naves espaciais e a possível existência de E.T.’s na palestra organizada pela Ciência Viva. Em conversa com os jovens, o astronauta dinamarquês deu a conhecer a vida na Estação Espacial Internacional (EEI) e o universo que nos rodeia.

"Nós somos uma espécie espacial há 18 anos. Há 18 anos que temos sempre, todos os dias, astronautas lá em cima na Estação Espacial Internacional", explicou Andreas Mogensen.

Inspirar as crianças e os jovens é o grande objetivo do primeiro astronauta dinamarquês. Ao desmistificar as ciências naturais e as engenharias, Mogensen pretende aumentar a curiosidade da plateia sobre estas áreas para que no futuro um deles se torne no primeiro astronauta português.

"Eu espero que seja muito inspirador para os jovens e para as crianças da mesma forma que eu fui inspirado em criança. Mostrar como são emocionantes as ciências naturais e as engenharias e como são as coisas técnicas para que alguns possam escolher uma educação e, mais tarde, uma carreira como um cientista ou engenheiro", disse o astronauta da ESA.

O astronauta lança ainda o mote: "seguirem os sonhos porque eles podem tornar-se realidade".

"Mais do que isso, diria que o meu conselho é encontrar algo que gostem, porque o sucesso, independentemente da área, requer sempre muito trabalho", reforçou Mogensen. "Acaba por não ser tão árduo quando tu gostas do que estás a fazer. Por isso, procura algo que gostes fazer".



O percurso de Andreas Mogensen até ao espaço começou em 2008, quando a Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou que estava à procura de novos astronautas e o engenheiro aeroespacial se candidatou. Escolhido para o programa, tornou-se no primeiro dinamarquês formado pela ESA.

Já com o objetivo na EEI, o treino para a missão de dez dias levou-o a vários pontos no mundo, como Rússia, Estados Unidos e Japão. Passou ainda pelo Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, de onde partiu, no segundo dia de setembro de 2015, para a Estação na missão IRISS com a finalidade de realizar estudos científicos executados por investigadores europeus, de alta tecnologia.

Como astronauta da ESA, Andreas Mogensen teve a oportunidade de ver o nosso planeta do espaço. Para Mogensen, "existe algo de muito especial ao ver a Terra do espaço". O astronauta descreveu que o contraste entre a visão diária e noturna do planeta o fascinou durante a estadia na Estação Espacial Internacional.

"Algo que notamos muito rapidamente é que não conseguimos ver sinais de vida humana, não conseguimos ver cidades, estradas, pontes, edifícios e não conseguimos ver guerras entre países. Temos uma sensação de que a Terra é um lugar inabitado e pacífico, muito calmo", explicou aos jovens.

No entanto, o panorama altera durante a noite. "De repente, percebemos quantas pessoas vivem no planeta, porque podemos ver todas as luzes das cidades a iluminarem o céu noturno", acrescentou o astronauta.

Mogensen revelou ainda que observar o planeta do espaço o fez aperceber que "a Terra e todos nós no planeta, somos todos uma parte muito pequena de algo muito maior".

"Para mim isso é um pensamento muito otimista, pois quando algo é tão grande quanto o universo, tenho a certeza de que devem existir tantas descobertas entusiasmantes, tantas oportunidades que nos esperam no futuro."
Já viu algum E.T.?

As crianças e jovens na plateia do auditório do Pavilhão do Conhecimento não hesitaram em procurar saber mais sobre a experiência de Andreas Mogensen no espaço.

"Já viu algum E.T.?", "já esteve do lado de fora da Estação Espacial Internacional?" e "sabe conduzir uma nave espacial?" foram algumas das questões das crianças para o astronauta durante a sessão. Os estudantes do secundário focaram-se na vida dentro da Estação Espacial Internacional, ao questionarem-no sobre situações de perigo experienciadas e se alguma vez ficou doente durante a missão.

Questionados se gostariam de ser astronautas no futuro, os jovens e as crianças revelam que, apesar de terem considerado esta hipótese, não pretendem seguir a profissão. No país sem astronautas até ao momento, os jovens argumentam que Portugal não tem recursos para possibilitar o alcance desta carreira.




O futuro do espaço

O astronauta dinamarquês revelou que gostaria de regressar ao espaço e ser o próximo a pisar a lua. Apesar de querer realizar este sonho, Andreas Mogensen explicou que o destino mais provável da sua próxima visita será a Estação Espacial Internacional.

"Todas as viagens espaciais vão para a Estação Espacial Internacional. Mas em breve, por volta do ano 2020, muito provavelmente vamos começar a ver viagens à Lua outra vez, não à superfície da Lua, mas em órbita em redor da Lua", explicou.

Sobre a data de regresso ao espaço, Mogensen espera voltar "nos próximos cinco anos".



Questionado sobre os avanços a nível das viagens espaciais, por parte de empresas como a SpaceX e a Virgin Galactic, o astronauta dinamarquês prevê que o mercado do turismo espacial cresça no futuro, caso o preço das viagens diminua. Para Andreas Mogensen, "a questão é: quando é que vai ser barato o suficiente para mais pessoas participarem?".

"Acredito que nos próximos anos, talvez nos próximos cinco a dez anos, o preço poderá diminuir de forma a que mais pessoas possam tentar", referiu o astronauta.



O futuro do turismo espacial é incerto para o astronauta, pois as viagens ao espaço continuam "difíceis", "arriscadas" e "perigosas". Apesar dos riscos, Mogensen reforça os possíveis avanços na indústria que potenciem a redução dos custos de envio de carga para o espaço.

"Eu espero que a indústria turística espacial, possa contribuir para reduzir o custo de envio de carga para o espaço. É incrivelmente caro enviar neste momento qualquer coisa para o espaço. Por isso, qualquer coisa que possamos fazer para a indústria crescer e reduzir os custos de enviar satélites e humanos é uma boa opção", realçou.



Durante a passagem por Portugal, as histórias do astronauta dinamarquês foram também contadas na Conferência de Natal Ciência Viva. As conferências organizadas pela Ciência Viva seguem o formato das Christmas Lectures do Royal Institution de Londres.

Juntamente com o astronauta dinamarquês, marcou presença na palestra o autor do documentário “O Sentido da Vida”, Miguel Gonçalves Mendes. Andreas Mogensen participa no documentário, ao demonstrar a missão espacial irss e os treinos que o prepararam para a estadia na Estação Espacial Internacional.

O documentário aborda a viagem à volta do mundo de Giovane Brisotto, diagnosticado com a doença rara paramiloidose familiar. Para além do protagonista, marcam presença ainda personalidades como o escritor Valter Hugo Mãe, o ciberativista Julian Assange e a cantora Björk.
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