Ataque ucraniano à "tríade nuclear" russa aumenta risco de escalada da guerra

O risco de uma escalada na guerra aumentou muito depois do ataque de Kiev a bombardeiros com capacidade nuclear estacionados em várias bases no interior da Rússia, avisa o enviado norte-americano para o conflito. Keith Kellog alerta que quando se ataca parte do "sistema de sobrevivência nacional de um oponente, que é a tríade nuclear, isso significa que o nível de risco aumenta porque não se sabe o que o outro lado vai fazer".

Alexandre Brito - RTP /
Keith Kellogg e Volodymyr Zelensky fotografados a 20 de fevereiro durante uma reunião em Kiev Thomas Peter - Reuters

A Ucrânia atacou várias bases na Sibéria e no extremo norte da Rússia, numa operação realizada com pequenos drones lançados a partir de camiões estacionados perto do alvo. De acordo com Kiev, mais de 40 aviões foram destruídosAlguns dos alvos estavam a mais de quatro mil quilómetros das linhas de frente do conflito, o que demonstra a capacidade ucraniana e a incapacidade dos militares russos em defender estruturas militares cruciais.


"Estou a dizer que os níveis de risco aumentaram muito" com o que "aconteceu este fim de semana", disse o enviado de Trump, Keith Kellogg, à Fox News. "As pessoas têm que entender que, no âmbito da segurança nacional, quando se ataca parte do sistema de sobrevivência nacional de um oponente, que é a tríade nuclear, isso significa que o nível de risco aumenta porque você não sabe o que o outro lado vai fazer".

Ou seja, a Ucrânia deve estar preparada para uma resposta militar forte da Rússia nos próximos tempos.

Keith Kellog explicou que as potências nucleares têm três formas principais de atacar com ogivas nucleares, conhecidas como a tríade nuclear: bombardeiros estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais lançados de terra e mísseis balísticos lançados de submarinos. A operação ucraniana atingiu substancialmente parte dessa tríade, os bombardeiros estratégicos.

Apesar do sucesso da operação, Kellogg diz que os danos nos bombardeiros russos acabam por ser menos importantes do que o impacto psicológico sobre a Rússia, em particular sobre Putin. Disse ainda nesta conversa com a Fox News que estava particularmente preocupado com relatos não confirmados de um ataque ucraniano a uma base naval no norte da Rússia.

A Casa Branca reafirmou, esta terça-feira, que Donald Trump não foi informado com antecedência sobre os ataques de drones da Ucrânia contra os bombardeiros russos, que aconteceu na véspera de uma nova ronda de negociações em Istambul, na Turquia.

Sobre esse encontro, Kellogg afirmou que a Ucrânia apresentou uma "posição muito razoável" e a Rússia uma "posição muito maximalista" e que o objetivo agora era "tentar superar isso".
Como é que a Rússia vai responder?
Até agora o silêncio tem prevalecido. Até porque Putin sabe que um ataque desta dimensão não pode ter eco dentro da Rússia para que o seu poder não seja colocado em causa.

Mas em alguns blogues militares a fúria circula a grande velocidade, com exigências de uma resposta forte. Há quem esteja até a exigir uma resposta com armas nucelares estratégicas, o que seria um passo extremo, que nem Putin quererá para não ficar ainda mais isolado.

É preciso, no entanto, ter em atenção que, não há muito tempo, o Kremlin atualizou a doutrina nuclear que estabelece as condições para um ataque. E nessa doutrina existe a possibilidade de uma resposta nuclear a qualquer país que ataque infraestruturas militares de grande importância que possam afetar a capacidade de ação nuclear russa. O que na verdade aconteceu.

c/ Reuters
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