Ataques dos EUA na Síria aumentam receios de escalada no Médio Oriente

por Inês Moreira Santos - RTP
Lloyd Austin, secretário de Defesa dos Estados Unidos Johanna Geron - Reuters

Com a guerra entre Israel e Hamas como cenário de fundo e depois de os Estados Unidos lançarem dois ataques contra instalações da Guarda Revolucionária do Irão, no leste da Síria, a comunidade internacional começa a temer uma escalada do conflito no Médio Oriente.

Em comunicado emitido esta sexta-feira, o secretário de Defesa dos EUA confirmou que as forças norte-americanas foram responsáveis pelos bombardeamentos a dois locais, no leste da Síria, associados ao Corpo da Guarda Revolucionária do Irão (IRGC, na sigla em inglês) e a “grupos afiliados” na região. Segundo Lloyd Austin, estes ataques aéreos acontecem depois de o Pentágono ter confirmado que mais de duas dezenas de soldados norte-americanos já foram feridos em vários ataques de milícias pró-iranianas no Iraque e na Síria, desde 17 de outubro.

“Estes ataques de autodefesa e de precisão são uma resposta a uma série de ataques contínuos, na sua maioria falhados, contra militares norte-americanos no Iraque e na Síria por milícias apoiadas pelo Irão”, esclareceu Austin, que recordou ainda que um empreiteiro civil dos EUA morreu de ataque cardíaco enquanto se abrigava dos ataques pró-iranianos, nos últimos dias.

Ainda de acordo com a mesma nota, os bombardeamentos aéreos dos EUA atingiram um depósito de armas e outro de munições usado pelo IRGC e pelas milícias afiliadas, mas Washington garante não estar à procura de conflito e que não tem "intenção ou desejo de se envolver em mais hostilidades".

No entanto, o secretário da Defesa advertiu que “se os ataques de representantes iranianos contra as forças norte-americanas continuarem”, os EUA não hesitarão “em tomar as medidas necessárias para proteger” os próprios militares.

Apesar de estes ataques acontecerem numa altura em que a comunidade internacional receia uma escalada das tensões em todo o Médio Oriente, Austin esclareceu que estes ataques não estão relacionados com a resposta dos EUA, aliados assumidos de Israel, ao conflito entre forças israelitas e o Hamas, e apelou a todos os países para que evitem tomar medidas que possam contribuir para que a guerra se estenda a outras regiões.
Tensões entre EUA e Irão

A confirmação por parte Lloyd Austin, surge depois de Joe Biden ter advertido o líder supremo do Irão, o aiatolá Ali Khamenei, contra quaisquer ataques iranianos às forças norte-americanas

Na quinta-feira, perante as Nações Unidas, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, declarou que o Irão não queria que o conflito no Médio Oriente se disseminasse na região.

“Mas aviso que se o genocídio em Gaza continuar, eles não serão poupados", acrescentou, dirigindo-se aos Estados Unidos.

O presidente dos EUA já assegurou que estão disponíveis dois porta-aviões para enviar para o Mediterrâneo Oriental e que Washington enviou novas unidades antimísseis com centenas de soldados para proteger bases e aliados dos EUA na região.O Irão prepara-se para levar a cabo, nos próximos dias, manobras militares em larga escala na província central de Isfahan, segundo a agência Tasnim, conotada com a Guarda Revolucionária. Os exercício vão envolver blindados, artilharia, mísseis, helicópteros e drones.

Na semana passasa, um navio de guerra norte-americano intercetou mísseis disparados por rebeldes Houthi apoiados pelo Irão no Iémen, que se suspeita que eram dirigidos contra Israel. Além disso, os recentes ataques aos soldados dos EUA foram reivindicados por grupos controlados diretamente por Teerão ou que partilham a ideologia de outros grupos que lutam contra Israel.

Recorde-se ainda que Israel acusou o Irão de ter apoiado a operação do Hamas com treino militar, armamento e informações de inteligência. Por sua vez Teerão nega as acusações, mas apoia o Hamas e tem alertado para o risco de uma escalada se Israel não parar com os ataques contra Gaza.

O conflito alastrou-se já ao norte de Israel, com trocas de tiros entre as forças israelitas e a milícia libanesa Hezbollah, ligada ao Irão. E os Estados Unidos posicionaram meios navais na região como meio de dissuasão.

c/ agências
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