Autarca de Quelimane diz que agitação na Renamo é "entregar o ouro ao bandido"

por Lusa

O autarca de Quelimane, Manuel de Araújo, quadro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), considera que a agitação interna prejudica o principal partido da oposição em Moçambique, comparando a situação com "entregar o ouro ao bandido".

"Afinal o que se passa? Porquê tanta agitação numa altura em que temos tudo para tirar a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] do poder?", questionou Araújo, numa carta a que a Lusa teve acesso.

O político, que é também membro do Conselho Nacional da Renamo, indagou ainda sobre quem ganha com as divergências públicas entre a ala do atual presidente do partido, Ossufo Momade, e Venâncio Mondlane e Elias Dhlakama, deputados e membros da organização que já anunciaram a intenção de concorrer à liderança da força política.

"Entristece-me o tom e os insultos. Até não parece que pertencemos à mesma casa, a Renamo", disse.

"Queremos deitar tudo a perder e entregar o ouro que nos pertence aos `bandidos`?", questionou Manuel de Araújo.

Araújo criticou o facto de antigos guerrilheiros da Renamo, na província de Manica (oeste), terem rejeitado uma eventual candidatura de Venâncio Mondlane e Elias Dhlakama à presidência da Renamo, e o fato de dirigentes ilustres terem manifestado apoio à recandidatura de Ossufo Momade, "à margem dos estatutos do partido".

Elias Dhlakama é um dos mais destacados generais provenientes da antiga guerrilha da Renamo e irmão do falecido presidente e fundador do partido, Afonso Dhlakama,

Na carta, o autarca de Quelimane (centro) também condenou os "impropérios lançados" pelo porta-voz da Renamo, José Manteigas, em entrevista a um canal de televisão, contra Venâncio Mondlane.

Manuel de Araújo lamentou o facto da direção do principal partido da oposição e Venâncio Mondlane disputarem em público o mérito de duas providências cautelares intentadas por este deputado para a marcação do congresso da Renamo e para a anulação de atos praticados por Ossufo Momade, sob o argumento de o mandato do atual líder já ter terminado.

Na sequência da providência cautelar para a marcação do próximo congresso, a direção do principal partido da oposição e Venâncio Mondlane chegaram a acordo para que a reunião magna da Renamo seja realizada entre 15 e 16 de maio.

Sobre os atos de Ossufo Momade contestados por Mondlane, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo considerou não haver ilegalidade, recuando em relação a uma primeira decisão, em que anulava "atos estruturantes" praticados pelo dirigente.

Ossufo Momade dirige a Renamo desde 17 de janeiro de 2019, na sequência da morte de Afonso Dhlakama, em maio de 2018, tendo o mandato dos órgãos do partido expirado em 17 de janeiro último.

Na última semana, Ossufo Momade disse, num podcast da organização não governamental Centro de Integridade Pública que pretende avançar para a recandidatura à liderança da Renamo.

Além de Venâncio Mondlane, antigo cabeça de lista do partido nas eleições autárquicas em Maputo, e Elias Dhlakama, o antigo deputado Juliano Picardo também já manifestou a intenção de participar na corrida.

Manuel de Araújo já disse estar a estudar também essa possibilidade.

 

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