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Avião australiano intercetado. EUA criticam comportamento "agressivo e irresponsável" da China
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos disse esta quinta-feira que a recente "agressão" chinesa contra aviões militares australianos foi "irresponsável" e que representa mesmo “uma das ameaças mais significativas à paz e estabilidade da região”.
O incidente em causa ocorreu no final de maio, quando uma aeronave P-8 da Força Aérea Real Australiana (RAAF) foi intercetada por um caça chinês, obrigando a primeira a efetuar uma “manobra perigosa”, segundo Camberra.
Ely Ratner, secretário assistente de Defesa para assuntos de segurança do Indo-Pacífico, sublinhou esta quinta-feira que o incidente não foi um ato “isolado”.
“Nos últimos cinco anos, o número de interceções pouco seguras por parte do Exército de Libertação Popular aumentou de forma dramática, com dezenas de episódios apenas no primeiro semestre deste ano”, considerou o responsável norte-americano.
Os Estados Unidos vincam que esse comportamento “agressivo e irresponsável” representa “uma das ameaças mais significativas à paz e estabilidade da região” no Mar do Sul da China.
Incidente representou "ameaça" à segurança
A 26 de maio, um caça chinês obrigou uma aeronave de vigilância marítima P-8 da RAAF a uma “manobra perigosa”. O ministro australiano da Defesa, Richard Marles, adiantou na altura que a intervenção do Shenyang J-16 obrigou a aeronave australiana a uma manobra arriscada que representou uma “ameaça” à segurança.
O chefe da diplomacia australiana adiantou mais pormenores sobre o sucedido no início de junho, e explicou que o J-16 voou perto da aeronave P8 antes de se colocar à sua frente. A uma distância “muito próxima”, o caça chinês lançou contramedidas, tiras de metal com pequenos pedaços de alumínio, alguns dos quais “entraram no motor da P-8”.
Dois meses depois, os Estados Unidos alertam agora que este tipo de eventos pode potenciar “uma grave incidente ou acidente” e que Washington tem de demonstrar “vontade e capacidade para impedir qualquer agressão de forma adequada”.
Esse trabalho, explica Ely Ratner, implica o reforço de uma “presença avançada com credibilidade” na região e ainda o reforço das capacidades dos aliados, particularmente ao nível da vigilância e reconhecimento.
Os Estados Unidos “estão sempre prontos para prevalecer num conflito”, mas a prioridade continua a ser a dissuasão. “Não procuramos um confronto ou um conflito”, acrescentou o responsável do Departamento de Defesa esta quinta-feira.
Também esta quinta-feira, o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, considerou durante uma visita a Sydney que o comportamento da China no Pacífico tem sido “muito mais conflituante” e que parece evidenciar que pretende “intimidar ou dominar” outros países.
O mesmo general tinha afirmado no início da semana, também em Sydney - numa conferência para discutir a China e a estabilidade na região - que Pequim está numa postura “significativamente e visivelmente mais agressiva”, afirmou, numa declaração citada pelo jornal The Guardian.
Visita de Pelosi a Taiwan?
As críticas norte-americanas surgem numa altura em que também a China não esconde o desagrado perante as posições políticas adotadas em Washington.
Nos últimos dias, a possibilidade de uma visita de Nancy Pelosi a Taiwan está a instigar a fúria de Pequim, que já prometeu “adotar medidas e firmes e fortes” caso a viagem se concretize.
Na quarta-feira, o porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian indicou que Pequim se “opõe firmemente” à visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA.
“Se os Estados Unidos avançarem e desafiarem a China, o lado norte-americano irá arcar com todas as consequências”, alertou o responsável chinês em conferência de imprensa.
Pequim promete adotar “medidas firmes e fortes para salvaguardar a sua soberania nacional e integridade territorial”.
A realizar-se, esta seria a primeira visita de uma figura política norte-americana de relevo a Taipé desde 1997. A viagem ainda não foi confirmada, mas poderá ocorrer durante o mês de agosto.