Avião alegadamente pilotado por mercenário português abatido na Líbia

por RTP
O avião abatido é um caça Mirage que estava ao serviço do Governo Nacional da Líbia François Lenoir - Reuters

Um avião pilotado por um homem que alega ter passaporte português foi abatido na Líbia ao sobrevoar Tripoli. O piloto do caça sobreviveu, mas acabou capturado pelas forças do Exército Nacional Líbio, ENL, leais ao general Khalifa Haftar e antigo aliado de Kadhafi.

Num vídeo difundido pelas forças do general Haftar, o piloto que se diz português, reconheceu que a sua missão é "destruir estradas e pontes" e que se encontrava sob o comando de alguém chamado al-Hadi.

O piloto afirmou chamar-se "Jimmy Reis", ter "29 anos" e ser de "Portugal".

Já na altura da captura do homem, também filmada e difundida, um dos combatentes do ENL perguntou-lhe em inglês se era militar, ao que ele respondeu, Não. Sou um civil.

Em comunicado, o ENL identificou o homem como um "mercenário ao serviço do Governo de Acordo Nacional" (GAN), as forças lideradas pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, baseadas em Tripoli e reconhecidas pela comunidade internacional.

O comunicado afirmava ainda que o aparelho estava a atacar as suas posições no distrito de Hira a sul da capital. Após o avião ter sido abatido, “o piloto, de origem portuguesa, foi detido”, referiu o ENL.

Um porta-voz do grupo garantiu também que “o piloto português será bem tratado de acordo com a ética militar de tratamento de prisioneiros e de acordo com a Lei Humana Internacional”.

Afirmou que ele ficou com "ferimentos ligeiros" e que “foi recrutado pelo governo Sarraj como mercenário, para bombardear a Líbia em troca de dinheiro”. Um porta-voz das forças do GAN, contactado pela Agência Reuters, não teve qualquer comentário imediato sobre o incidente.
Libertação desmentida
A televisão Al Arabiya desmentiu entretanto a sua própria notícia, difundida ao início da tarde, segundo a qual o piloto iria ser "libertado".

A televisão reconheceu que as citações que difundiu foram publicadas por "uma conta de Facebook falsa".

A Al Arabiya citava um porta-voz do movimento militar, que garantia que o piloto "português" iria ser "libertado", por "fazer parte da Operação Sophia", de vigilância de rotas de migrantes ilegais no Mediterrâneo.

O ELN já tinha desmentido a libertação do piloto capturado.
Ministério não confirma
A RTP contactou o Ministério da Defesa, que refere que o homem capturado não é um militar no ativo. O Ministério não confirmou sequer que se trate de um cidadão português. 

O Estado Maior General das Forças Armadas acrescenta que Portugal não tem qualquer participação militar na Líbia, nem de forma autónoma, nem inserida nas missões da ONU ou NATO.

"A Força Aérea não tem nenhum meio na Operação Sophia", disse por seu lado à agência Lusa o porta-voz daquele ramo das Forças Armadas, acrescentando que Portugal também não possui "aquele tipo de avião", um caça Mirage.

Apontando que alguma da informação sobre este caso que tem sido divulgada "não faz sentido", o porta-voz indicou que a Força Aérea também "não tem ninguém" na missão Sophia, cujo objetivo é a identificação, captura e eliminação de navios usados ou suspeitos de serem usados para o tráfico de migrantes no Mediterrâneo.

"Nenhum avião da [Operação] Sophia foi abatido [hoje na Líbia]", disse igualmente à Lusa, Antonello de Renzis Sonnino, porta-voz daquela organização europeia, numa mensagem enviada a partir da sede, em Roma.Aparelho abatido
A informação da captura foi avançada por várias agências noticiosas, como a turca Anadolu e a italiana ANSA. Foi ainda publicada no Twitter pelo jornalista Duarte Levy.

Na rede Twitter foram publicadas fotos e vídeos do piloto mostrando a sua cara na totalidade, apesar da Convenção de Genebra proíbir a divulgação de imagens de prisioneiros de guerra.

Mostram um homem ensanguentado vestido com roupas de estilo militar sem identificações, rodeado de forças do ENL, incluindo um comandante, Abdulsalam al-Hassi.

Também imagens captadas logo após o momento do abate e dos destroços do aparelho circulam nas redes sociais.


O avião foi abatido sobre a área de Wadi al-Hira a sul de Tripoli. O piloto terá ficado com "ferimentos ligeiros", de acordo com o ENL.
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