Bancadas do Governo timorense querem recuar e permitir visita do PR ao Vaticano

por Lusa

As bancadas do Governo no parlamento timorense anunciaram hoje que querem voltar atrás na sua decisão de chumbar a autorização ao Presidente da República para visitar o Vaticano, que foi fortemente contestada na sociedade do país.

Um anúncio feito hoje no arranque da sessão plenária que suscitou forte críticas do maior partido da oposição, a Fretilin, que insistiu que uma nova votação só poderia ocorrer com novo pedido do Presidente.

O chefe da bancada do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Duarte Nunes, anunciou que a direção da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) tinha debatido o assunto e decidido "alterar a sua posição relativamente à visita".

O deputado disse que o Presidente ainda tinha tempo de realizar a visita - previa inicialmente sair do país a 17 de novembro - e poderia ainda levar a cabo a audiência prevista com o papa Francisco.

A posição do CNRT foi ecoada pelas duas outras bancadas da AMP, nomeadamente o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

Maria Angelina Lopes Sarmento (PLP) disse apoiar que o tema fosse incluído na agenda de hoje do plenário, "mesmo que a questão não tenha sido discutida na conferência de líderes de bancadas".

O chefe da bancada da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Aniceto Guterres Lopes, criticou fortemente a mudança posição das bancadas do Governo, afirmando que novo voto só poderia ocorrer no caso do Presidente enviar novo pedido.

"A não ser que o presidente volte a fazer pedido, não podemos agendar e debater e votar. Um órgão soberano tomou uma decisão. A decisão tomada é decisão tomada. Agora consultam e voltam para trás?", questionou.

"A visita de um chefe de Estado, não é uma visita qualquer", disse.

O líder da bancada da Fretilin questionou igualmente o que ocorreria com as outras viagens que o parlamento chumbou, nomeadamente a Portugal, à Indonésia e aos Estados Unidos, onde deveria participar na assembleia-geral da ONU.

E afirmou que se a maioria exercer o seu poder e agendar o assunto para nova votação, a Fretilin "abandonará o plenário".

Adriano Nascimento, do Partido Democrático (PD) também recordou que o pedido de autorização foi feito em conjunto com vários outros, que incluíam deslocações "importantes", e defendeu que a situação poderia justificar um "pedido de desculpa" ao Presidente.

O chumbo à visita do Presidente da República foi fortemente contestado na sociedade timorense, maioritariamente católica, suscitando amplo debate e críticas à postura das bancadas do Governo.

António da Conceição, do Partido Democrático (PD), disse que o assunto teve "reações públicas fortes" e insistiu que se deveria falar com o Presidente da República.

David Ximenes (Fretilin) contestou a alteração de posição e disse que o chefe de Estado já tinha escrito ao Vaticano a pedir desculpa por não ter sido autorizado a viajar.

"Isto não é ping pong", afirmou.

O presidente do Parlamento, Arão de Noé, ficou de falar com o chefe de Estado sobre o assunto.

Na semana passada o Parlamento Nacional timorense chumbou a deslocação do Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, ao Vaticano, devido à "situação do país", naquela que foi a quarta recusa a uma viagem ao estrangeiro do chefe de Estado.

As bancadas do Governo continuam a contestar o impasse em torno da nomeação de alguns membros do Governo que o primeiro-ministro indigitou e a quem o Presidente da República não deu posse, alguns por terem processos na justiça e outros por possuírem "um perfil ético controverso".

A oposição contestou o chumbo, afirmando que está em causa uma "questão de Estado" e não questões de política interna, e o Presidente timorense, numa mensagem lida pelo chefe da Casa Civil, lamentou "profundamente" a decisão da maioria do Governo.

O presidente da Conferência Episcopal timorense considerou que os consecutivos vetos do parlamento a deslocações ao estrangeiro do Presidente da República, incluindo o chumbo à visita ao Vaticano, "não ficam bem a Timor-Leste".

"Não sei o que está por detrás, o que os leva a vetar sistematicamente a saída do Presidente. Mas acho que isto não fica bem a Timor. Pelo menos não promove o nome de Timor na cena internacional. Acho que os órgãos de soberania não podem funcionar por ajuste de contas", disse Basílio do Nascimento.

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