Barragens na Líbia. Procurador ordena detenção de oito funcionários

por Cristina Sambado - RTP
Zohra Bensemra - Reuters

O procurador-geral da Líbia ordenou a detenção provisória de oito funcionários líbios no âmbito de uma investigação sobre o rebentamento de duas barragens, que provocou inundações em Derna a 10 de setembro.

As oito pessoas ocupam ou ocuparam cargos de responsabilidade no Departamento de Recursos Hídricos ou no Departamento de Gestão de Barragens da Líbia, são suspeitos de “má gestão e negligência”, revelou em comunicado o Ministério Público.

O Ministério Público líbio tinha aberto há uma semana uma investigação sobre a rutura das duas barragens, construídas na década de 1970, e sobre a atribuição de verbas para a sua manutenção.
O procurador-geral, al-Seddik al-Sour, revelou a 15 de setembro que as autoridades “tinham assinalado fissuras nas duas barragens em 1998”, mas que nada tinha sido feito para as reparar.

A investigação centrou-se, em particular, num contrato celebrado entre o Departamento de Águas da Líbia e uma empresa turca para a manutenção das duas barragens e no pagamento, em 2014, de "somas desproporcionadas" a esta última, "apesar de ter violado os compromissos estipulados no contrato", segundo o comunicado do procurador.

Num estudo realizado em novembro de 2022, o engenheiro e académico líbio Abdel-Wanis Ashour alertou para uma "catástrofe" que ameaçaria Derna se as autoridades não fizessem a manutenção das duas barragens.

Mas este aviso não teve qualquer efeito, apesar de a Líbia, que possui as reservas de petróleo mais abundantes de África, não ter falta de recursos.

No dia 18 de setembro, centenas de habitantes de Derna manifestaram-se para exigir responsabilidade às autoridades do leste do país, que consideravam responsáveis pela catástrofe.

A passagem da tempestade Daniel, na noite de 10 para 11 de setembro, provocou inundações e a destruição de duas barragens, no leste da Líbia, criando uma onda de água parecida com um ‘tsunami’, que inundou e destruiu a cidade de Drena. Mais de 3.800 pessoas morreram, segundo o mais recente balanço das autoridades.

Este número, que inclui apenas os corpos enterrados e registados pelo Ministério da Saúde, “prevê-se que aumente diariamente”. Os corpos enterrados à pressa pelos habitantes, nos primeiros dias após a catástrofe, não foram contabilizados.

Quase duas semanas depois do desastre, prosseguem as buscas para encontrar corpos, sob os escombros e também no mar, com a participação de pelo menos nove equipas estrangeiras.

Mais de 43 mil pessoas foram deslocadas devido às inundações, segundo os dados mais recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

c/Agências

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