Bashar Murad. Cantor palestiniano pode representar a Islândia na Eurovisão

por Carla Quirino - RTP
De origem palestiniana, o cantor Bashar Murad está entre os favoritos Página do Facebook

O cantor pop palestiniano Bashar Murad interpreta Wild West e está na final do festival Eurovisão da Canção da Islândia. Murad tem como objetivo representar o país no Festival, em maio, e afirma que quer levar "uma voz palestiniana ao palco principal".

Entre os concorrentes que chegaram à final, a Islândia deve escolher neste fim de semana a música para o concurso Festival da Eurovisão da Canção, que será realizado em maio na cidade sueca de Malmo.

De origem palestiniana, o cantor Bashar Murad está entre os favoritos. Compete com a música Wild West, co-escrita com Einar Stefansson, da banda islandesa Hatari, conhecida por ter exibido bandeiras palestinianas durante o concurso da Eurovisão, em 2019.
Cantar em islandês
Está estabelecido na Islândia que um cantor - de qualquer nacionalidade - pode participar na qualificação nacional se cantar a canção concorrente na primeira semifinal, em islandês.

Bashar Murad nasceu e mora em Jerusalém. A identidade de Bashar gerou grande apoio entre os fãs e ao mesmo tempo polêmica, tornando-o num dos favoritos para representar o país.

À Reuters declarou que foi “difícil aprender a música em islandês”, porém acabou por encontrar algumas “semelhanças com a língua árabe”. 

A música que Murad interpreta tem o título "Wild West" e descreve a capacidade de se desafiar limites e concretizar sonhos contra todas as probabilidades.

E explica: "É sobre desejar liberdade de movimento e não se deixar confinar pelas fronteiras físicas e imaginárias que nos unem. É sobre a minha viagem da Palestina à Islândia que começou como uma ideia no meu quarto e se tornou realidade graças à colaboração com a minha família islandesa".

Reflexos políticos?
“Todas as pessoas tem teorias sobre a minha participação. E todas essas pessoas estão a politizar a minha existência quando na verdade sou apenas um humano que teve um sonho e se inscreveu nesta competição de forma justa e honesta”, argumenta Murad.

"Eu queria ilustrar quantos obstáculos, como palestinianos, temos que enfrentar para sermos ouvidos. Somos excluídos de todas as plataformas convencionais", sublinha.

No entanto, numa outra entrevista à RUV, o Serviço Nacional de Radiodifusão da Islândia, Murad negou as acusações de que a sua participação se apresenta como um golpe político.

Quando questionado sobre se Murad quer que Israel participe na competição, responde: “É claro que não quero que o meu ocupante esteja lá”. "Mas o meu foco principal neste momento é conseguir levar, pela primeira vez na história, uma voz palestiniana ao palco principal".

De acordo com as regras da União Europeia de Radiodifusão (EBU), que organiza a competição, os participantes são escolhidos pelas emissoras membros da EBU para representar os seus países de toda a Europa e de outros lugares. Não há entrada palestiniana porque não há nenhuma emissora desse território membro da EBU.

O Festival da Eurovisão da Canção apresenta-se como um evento apolítico e pode desqualificar aqueles que considera violadores desta regra. Contudo, o concurso vai realizar-se entre um cenário político contorbado, protestos e boicotes à guerra em Gaza que afetam eventos culturais por toda a Europa.

Os organizadores do Festival Eurovisão da Canção resistiram aos apelos para que Israel fosse excluído da competição, mas disseram na semana passada que estavam a examinar as letras da representação, “pois poderiam referir-se ao ataque de 7 de outubro desferido pelo Hamas”. No entanto, em 2022, a Rússia foi banida da competição devido à invasão em grande escala da Ucrânia.
Um passo de cada vez
Bashar diz estar grato pelo apoio recebido nas vésperas da final e declara à RUV: “Agora dou um passo de cada vez e pensei assim desde o início. Estou a participar na competição na Islândia e viajei até aqui e fiz essa jornada”.

E acrescenta: “Acredito na minha voz e nas ferramentas que o universo me deu. A Eurovisão é uma das maiores plataformas do mundo e acredito no poder da minha voz em vez de ser silenciado".

"E quem sabe o que vai acontecer? Depende também da situação em que estamos. As coisas mudam dia após dia. Aproveito um dia de cada vez", remata.
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