Procuradores belgas estão a avaliar uma possível acusação de homicídio aos suspeitos da morte de Patrice Lumumba em 1961, o primeiro líder democraticamente eleito no Congo. De acordo com a justiça belga, estão ainda vivos dois suspeitos da morte do líder congolês.
“Estamos a proceder a um balanço dos processos que poderiam ser iniciados”, disse esta quarta-feira o procurador-federal da Bélgica, Frédéric Van Leeuw. “Os factos foram qualificados como crime de guerra, o que foi confirmado pelo Tribunal da Relação de Bruxelas. Isto significa que não há estatuto de limitação”, argumentou Van Leeuw.
As autoridades belgas tinham já anunciado uma investigação sobre o assassinato de Lumumba em 2012, a pedido da família. Van Leeuw disse agora que o inquérito permaneceu aberto, declarando que “ainda existem duas pessoas vivas” suspeitas do homicídio. “É simbolicamente importante que o sistema de justiça se preocupe com este caso”, defendeu o procurador-federal. Lumumba foi eleito primeiro-ministro da República Democrática do Congo dias antes de o país ter obtido independência da Bélgica, a 30 de junho de 1960.
Lumumba tornou-se um líder anti-colonial e irritou os superiores belgas com um discurso na cerimónia do dia da independência que condenava os “sarcasmos, insultos e golpes” que o povo congolês havia sofrido “de manhã à noite” durante o domínio colonial da Bélgica. O primeiro líder do Congo também prometeu acabar com a “opressão do livre pensamento”.
Lumumba acabaria por ocupar o cargo apenas por 12 semanas, uma vez que o seu Governo foi derrubado por um golpe de Estado. Durante uma tentativa de fuga, o líder congolês foi capturado e acabaria por ser assassinado em janeiro de 1961, com apenas 35 anos, por rebeldes congoleses.
Um inquérito parlamentar belga em 2001 acabaria por implicar o Governo da Bélgica no homicídio, revelando que alguns ministros tinham “responsabilidade moral” por incidentes que conduziram à morte de Lumumba.
A decisão sobre a investigação dos dois suspeitos surge um dia depois das celebrações do 60º aniversário de independência da RDC. Pela primeira vez na história do país, o rei da Bélgica apresentou o seu "mais profundo arrependimento pelas feridas" infligidas durante o período colonial belga no Congo.