Berlusconi condenado a quatro anos de prisão é amnistiado em três

por RTP
Berlusconi em março de 2012 à chegada a uma reunião do EPP em Bruxelas. O antigo primeiro-ministro italiano foi condenado pelo tribunal de Milão a quatro anos de prisão por fraude fiscal no caso Mediaset mas beneficiou de uma amnistia de três anos Julien Warnand/EPA

A sentença de quatro anos de prisão por fraude fiscal, aplicada ao ex-primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi, foi de imediato reduzida para um ano, em virtude do antigo chefe-de-governo ter beneficiado de uma amnistia, anunciou o tribunal de Milão que julgou Berlusconi no caso Mediaset. O ex-governante classifica a sentença como um "julgamento político intolerável" e volta a falar em perseguição judicial.

A lei de amnistia de que beneficiou Sílvio Berlusconi data de 2006 e foi promulgada pelo então governo de esquerda de Romano Prodi, para reduzir a população prisional.Berlusconi reagiu com indignação à sentença. "É um julgamento político, incrível e intolerável. É sem dúvida alguma um veredicto político como são políticos todos os processos inventados contra mim", afirmou aos microfones de uma das suas cadeias televisivas privadas, a Italia 1, denunciando ainda "uma intolerável perseguição judicial".

Berlusconi fica ainda proibido de exercer cargos públicos durante três anos. O ex-governante italiano afirmou há dois dias que não irá concorrer a um quarto mandato como primeiro-ministro.

Juntamente com três outros envolvidos no caso e também condenados, Sílvio Berlusconi terá de entregar ao tribunal 10 milhões de euros para um fundo decidido pelo tribunal como caução em caso de apelo, o qual poderá demorar anos.
O caso Mediaset
O tribunal de Milão condenou Berlusconi por fraude fiscal no caso Mediaset. O ex-primeiro-ministro era acusado de inflacionar o preço dos direitos televisivos de filmes, comprados a sociedades que lhe pertenciam e que depois eram revendidos ao seu império audiovisual.

O grupo teria ainda constituído contas paralelas no estrangeiro para fugir aos impostos em Itália. O processo acusou ao todo 11 suspeitos, três dos quais foram absolvidos e quatro outros dispensados devido à prescrição dos fatos investigados.

O ministério público tinha pedido três anos e seis meses de prisão para Berlusconi. Três outras pessoas foram também condenadas, entre elas um produtor de Hollywood, Frank Agrama, este a três anos de prisão.
"Absolutamente incrível"
Sílvio Berlusconi, de 76 anos, não assistiu à leitura da sentença. No tribunal estavam apenas os seus advogados que classificaram a sentença como "absolutamente incrível" e anunciaram que vão recorrer. Para já, Berlusconi permanece em liberdade e é pouco provável que venha a cumprir pena.

Os advogados de Sílvio Berlusconi no tribunal de Milão durante a leitura da sentença do caso "Mediaset"

Angelino Alfano, "herdeiro designado" de Berlusconi para a liderança do seu partido de centro-direita "Povo da Liberdade", considerou a sentença "incompreensível" e garantiu estar certo que ela será revogada por um tribunal de apelação.
Primeira condenação
Esta é aprimeira vez que Berlusconi é condenado à prisão, em vários anos de investigações criminais. Em 1997, o ex-governante recebeu uma pena suspensa por falsa contabilidade, sentença revogada em apelo.

Outras investigações criminais a diversas acusações incluindo corrupção, terminaram em absolvição ou prescrição. Berlusconi afirma repetidamente a sua inocência e diz-se vítima de procuradores simpatizantes com a esquerda.

Sílvio Berlusconi fez fortuna na comunicação social, tendo construído um verdadeiro império audiovisual. Dominou a cena política italiana nos últimos 20 anos, apesar da contestação.

Conhecido por sucessivas gaffes sociais e múltiplas brejeirices, Berlusconi ficou ainda ligado a diversos escândalos sexuais.

O mais recente envolveu uma jovem, Ruby, que seria ainda menor quando participou numa das célebres festas dadas por Berlusconi, tendo alegadamente tido depois um envolvimento com o ex-governante.
Cumprimento da pena "pouco provável"
Analistas consideram que será pouco provável Berlusconi vir a cumprir efetivamente alguma pena e acreditam que os processos contra o ex-primeiro-ministro de Itália irão prescrever.

"Os processos nos quais ele está implicado têm sido adiados indefinidamente graças a uma série de leis votadas pela sua maioria. Dessa forma, entre a qualidade dos seus advogados e as diligências processuais, deverá poder beneficiar da figura da prescrição", afirmou ao Le Monde um especialista, Fabio Liberti.

Liberti acredita que Berlusconi aceita agora não estar na linha da frente da política italiana mas que está a tentar assegurar um papel influente sobretudo através do seu partido.

Para além disso, diz Liberti, tentará ainda manter o seu vasto império para o legar à sua família.
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