Bielorrússia. Protestos contra Lukashenko intensificam-se com fuga de dados da polícia

por RTP
Uma mulher é detida por um agente da polícia bielorrusso durante os protestos de sábado Reuters

Dados pessoais de mil agentes policiais da Bielorrússia foram tornados públicos por hackers anónimos em retaliação à repressão sentida nas manifestações dos últimos dias. Centenas de mulheres foram detidas durante uma marcha nas ruas de Minsk em exigência da saída do presidente Alexander Lukashenko por suspeitas de fraude nas últimas eleições.

No sexto fim-de-semana consecutivo de protestos, dezenas de milhares de pessoas voltaram a juntar-se numa marcha em Minsk para exigir ao presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, que “vá embora”.

Pelo menos dez pessoas foram detidas este domingo, a juntar-se às 390 mulheres que foram presas no sábado pela polícia bielorrussa. Entre as mulheres que foram algemadas e levadas à força para carrinhas da polícia de choque, está uma conhecida ativista de 73 anos.

O país mergulhou numa agitação política depois de terem sido conhecidos os resultados das eleições presidenciais no mês passado, que atribuíram a vitória a Lukashenko com 80 por cento dos votos. No cargo há 26 anos, o presidente da Bielorrússia é conhecido como “o último ditador da Europa”.

Este domingo, a tensão entre manifestantes e agentes da polícia aumentou depois de terem sido divulgados dados pessoais de mil polícias da Bielorrússia, em resposta à repressão policial e às denúncias de muitos dos detidos que dizem ter sido vítimas de agressões e tortura na prisão. O Governo, por sua vez, nega qualquer tipo de abusos aos detidos nas prisões.

Numa mensagem anónima partilhada pelo canal de notícias da oposição, a ameaça foi clara: “À medida que as detenções continuam, nós vamos continuar a divulgar dados em grande escala”. “Ninguém vai continuar anónimo, mesmo sob uma máscara”, acrescentaram.

A lealdade das forças de segurança é crucial para a capacidade de Lukashenko se manter no poder. Por este motivo, os agentes da polícia normalmente apresentam-se com máscaras e gorros para esconder o rosto.

O Governo bielorrusso prometeu identificar e punir os responsáveis pela fuga de dados, que foram amplamente partilhados pela aplicação de mensagens Telegram.

“As forças, meios e tecnologias à disposição das autoridades de assuntos internos tornam possível identificar e processar a esmagadora maioria dos culpados pela fuga de dados pessoais na Internet”, disse Olga Chemodanova, porta-voz do Ministério da Administração Interna da Bielorrússia.
Vários países rejeitam vitória de Lukashenko e condenam repressão
Nos primeiros dias de protestos, a polícia deteve cerca de 7.000 pessoas e reprimiu centenas de forma musculada, suscitando protestos internacionais e ameaça de sanções.

Os Estados Unidos, a União Europeia e diversos países vizinhos da Bielorrússia rejeitaram a recente vitória de Lukashenko e condenaram a repressão policial, exortando Minsk a estabelecer diálogo com a oposição.

Na sexta-feira, o Conselho de Direitos Humanos da Nações Unidas aprovou uma resolução que pede ao Governo da Bielorrússia para pôr fim à violência contra os manifestantes que contestam o resultado das eleições presidenciais.

A resolução, aprovada com 23 votos a favor, dois contra e 22 abstenções, apela às autoridades bielorrussas para “cessarem o uso excessivo da força contra manifestantes pacíficos, incluindo tortura e outros tratamentos cruéis e desumanos”, bem como ao fim das detenções arbitrárias por motivos políticos.

Por sua vez, Alexander Lukashenko anunciou na quinta-feira que iria colocar as tropas em alerta máximo e fechar as fronteiras do país com a Polónia e Lituânia.

A decisão do presidente bielorrusso reforça a repetida mensagem de que a vaga de protestos é impulsionada pelo ocidente, já que enfrenta duras críticas da União Europeia e dos Estados Unidos.

“Somos forçados a (…) colocar o exército em alerta máximo e fechar as fronteiras no oeste, principalmente com a Lituânia e Polónia”, afirmou Lukashenko, num fórum oficial de mulheres celebrado em Minsk.

Lukashenko disse ainda que a fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia vai ser fortalecida.


“Não quero que o meu país esteja em guerra. Além disso, não quero que a Bielorrússia, Polónia e Lituânia se transformem num teatro de operações militares em que os nossos problemas não serão resolvidos”, apontou.

No mesmo fórum, Lukashenko disse que a Bielorrússia não precisa que nenhum país reconheça as suas eleições.

Svetlana Tikhanovskaia, principal candidata da oposição nas eleições passadas, vai ser recebida na segunda-feira em Bruxelas para uma reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.

A opositora anunciou que está a preparar uma lista dos membros das forças de segurança do regime responsáveis pela violência e detenções arbitrárias, com vista a um possível processo no futuro.

c/agências
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