Bloqueios no Brasil. Supremo Tribunal Federal ordena intervenção para desobstruir estradas

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou esta terça-feira ao governo para que adote de imediato todas as medidas "necessárias e suficientes" para desobstruir as rodovias bloqueadas pelos apoiantes de Jair Bolsonaro, que estão em protesto pelo resultado das eleições no Brasil.

RTP /
Amanda Perobelli - Reuters

Na sequência das eleições no Brasil no último domingo, vários bloqueios e interdições de estradas estão a afetar grande parte dos estados do país. A vitória de Lula da Silva levou os apoiantes do atual presidente para a rua e os “bolsonaristas” apelam à permanência dos manifestantes nas ruas.

De acordo com a Folha de São Paulo, até ao final da noite de segunda-feira registaram-se 321 pontos de bloqueio ou aglomerações em vias de 25 dos 27 estados brasileiros.

Segundo a decisão do Supremo Tribunal Federal, comunicada durante esta madrugada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, a Polícia Rodoviária deve encetar ações imediatas para desobstruir os vários bloqueios.

"As polícias militares dos estados possuem plenas atribuições constitucionais e legais para atuar em face desses ilícitos, independentemente do lugar em que ocorram, seja em espaços públicos e rodovias federais, estaduais ou municipais, com a adoção das medidas necessárias e suficientes, a critério das autoridades responsáveis dos poderes executivos estaduais, para a imediata desobstrução de todas as vias públicas que, ilicitamente, estejam com seu trânsito interrompido", indicou o ministro.

A ordem vigora desde a meia-noite (3h00 em Lisboa). Os camionistas que participem nos bloqueios poderão ser alvo de multas de 100 mil reais (cerca de 20 mil euros) por hora.

O correspondente da RTP no Brasil, Pedro Sá Guerra, dá conta de que as ordens do Supremo Tribunal Federal não estão a surtir efeito. Há resistência por parte de alguns elementos da polícia para anular estes bloqueios provocados por apoiantes de Jair Bolsonaro.
Segundo o STF, tem havido “omissão e inércia” da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na desobstrução das vias. Em caso de incumprimento das ordens de desobstrução, o diretor-geral desta polícia poderá ser multado, afastado ou até mesmo enfrentar pena de prisão por crime de desobediência.

Silvinei Vasques, diretor da Polícia Rodoviária Federal, é um apoiante do Presidente Jair Bolsonaro e a própria Polícia Rodoviária já tinha sido acusada pela campanha de Lula da Silva de ter promovido, no domingo, operações stop - principalmente no interior da região do Nordeste, bastião de Lula da Silva - para impedir eleitores de votar.

Sendo responsável por assegurar a livre circulação nas estradas, a Polícia Rodoviária Federal não tomou até agora qualquer medida para remover os camiões que se aglomeraram em protestos e alegou estar à espera que a Procuradoria-Geral do Governo peça aos tribunais uma ordem para remover os manifestantes.

A Esplanada dos Ministérios em Brasília, espaço que concentra as sedes dos três poderes do Brasil, encontra-se encerrada de forma a impedir a invasão de camionistas apoiantes de Jair Bolsonaro, que estão em protesto pelo resultado das eleições.

Os manifestantes bloquearam as estradas com camiões ou queimaram pneus, em protesto contra a vitória eleitoral de Lula da Silva. Alguns pediram "uma intervenção" das forças armadas em defesa de Bolsonaro que dizem estar prevista pelo artigo 142 da Constituição brasileira.

O governador do estado brasileiro de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou que vai usar "toda a força necessária" contra camionistas que apoiam o Presidente, Jair Bolsonaro, e bloqueiam estradas em protesto contra a sua derrota nas eleições presidenciais.

"As eleições acabaram, vivemos em um país democrático (...) Há resultado das urnas e temos um Presidente eleito, que é Lula [da Silva]", disse Garcia num comunicado aos media em São Paulo.

O chefe de Estado e candidato derrotado, Jair Bolsonaro, ainda não telefonou a Lula da Silva para o felicitar e está há mais de um dia sem fazer qualquer declaração pública desde o anúncio do resultado das presidenciais de domingo.

Bolsonaro esteve reunido, na segunda-feira, no Palácio do Planalto, com vários ministros, mas até agora ainda não lançou qualquer informação sobre quando falará sobre as eleições presidenciais.

Com 100% dos votos contados, Luiz Inácio Lula da Silva venceu as presidenciais de domingo por uma margem estreita, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava obter um novo mandato de quatro anos.

c/ Lusa
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