Boris Johnson eleito líder do Partido Conservador. Será o novo primeiro-ministro britânico

por RTP
Boris Johnson já foi <i>mayor</i> da cidade de Londres e ocupou durante dois anos o cargo de ministro britânico dos Negócios Estrangeiros Peter Nicholls - Reuters

Boris Johnson, antigo "mayor" de Londres, sucede à primeira-ministra Theresa May à frente do Governo britânico. O novo líder do Partido Conservador obteve 92.153 votos, enquanto Jeremy Hunt contou com 46.656 votos. O resultado foi anunciado esta terça-feira, num dia em que se espera uma nova onda de demissões no Governo britânico.

A votação, que durou duas semanas e meia, encerrou na segunda-feira, às 17 horas. Esta terça-feira, foram revelados os votos dos cerca de 160 mil membros do Partido Conservador, que escolheram o novo líder e, consequentemente, o chefe de Governo.

Johnson vai assumir o cargo de liderança dos tories na tarde desta terça-feira, mas tornar-se-á oficialmente primeiro-ministro na quarta-feira.

Johnson, antigo mayor de Londres e líder da campanha pelo Brexit aquando do referendo em 2016, tinha sido apontado como o favorito à vitória.

O candidato conservador, que renunciou ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros em 2018 devido aos planos de May para o Brexit, prometeu concretizar a saída do Reino Unido até ao dia 31 de outubro, em pouco mais de três meses, "aconteça o que acontecer". Disse ainda que, se necessário, o país sairia sem qualquer acordo.

O novo inquilino do número 10 de Downing Street herda uma crise política oriunda da saída do Reino Unido da União Europeia. Johnson terá ainda de convencer Bruxelas a retomar as negociações para um acordo, ou arrisca-se a sair da UE sem um entendimento.

O acordo proposto por Theresa May foi rejeitado três vezes pelo Parlamento desde o início do ano, o que motivou o seu pedido de demissão.
Onda de demissões poderá seguir-se

Vários deputados, incluindo membros do Partido Conservador, prometeram demitir-se caso Johnson fosse eleito. O partido encontra-se profundamente dividido.

Muitos conservadores receavam a vitória de Boris Johnson devido à sua insistência na possibilidade de saída sem acordo. Outros conservadores prometeram ainda impedir que a saída possa acontecer sem qualquer acordo com as instituições europeias.

Já esta semana, Alan Duncan, ministro de Estado britânico para a Europa e as Américas, apresentou a sua demissão.

O ministro demissionário pediu ainda a realização de uma moção de censura após a possível eleição de Johnson como líder do Partido Conservador ainda antes da nomeação como primeiro-ministro - que só ocorrerá na quarta-feira à tarde - de forma a evitar "uma crise constitucional". O pedido foi rejeitado pelo speaker, John Bercow.

Os ministros da Justiça e das Finanças, David Gauke e Philip Hammond, também prometeram apresentar a demissão caso Johnson vencesse. Gauke apontou "visões muito diferentes quanto às consequências de um Brexit sem acordo" como o motivo para a saída do Governo.

O ministro para o Desenvolvimento Internacional, Rory Stewart, também já prometeu demitir-se.
Quem é Boris Johnson?
Alexander Boris de Pfeffel Johnson nasceu em Nova Iorque a 19 de junho de 1964. Viveu em Nova Iorque, em Washington e em Norwalk, Connecticut, obtendo dupla nacionalidade.

Permaneceu nos Estados Unidos até aos cinco anos de idade. Em 2016, renunciou à cidadania americana, especulando-se que o terá feito para evitar o pagamento de elevados impostos.

Após alguns anos em Londres, a família Johnson deslocar-se-ia para Bruxelas, quando o seu pai obteve um emprego na Comissão Europeia.

Johnson regressou ao Reino Unido para estudar na Eton College e, mais tarde, em Oxford. Começou a sua carreira como jornalista no jornal britânico The Times, de onde foi despedido por falsificar uma citação.

Tornar-se-ia correspondente do The Daily Telegraph em Bruxelas, onde desenvolveu um forte sentimento eurocético, visível nos seus artigos. A carreira jornalística terminaria no The Spectator, em que desempenhou o cargo de editor até 2005.

Em 2001, começaria a carreira política. Foi eleito deputado por Henley-on-Thames, pelo Partido Conservador. Mostrou possuir uma posição mais liberal do que os restantes tories, sobretudo no tópico dos direitos da comunidade LGBT.
Os seus comentários controversos foram alvo de algumas críticas. Em 2006, escreveu no The Telegraph que a crise de liderança que se verificava no Partido Trabalhista era semelhante a "orgias de canibalismo e matanças organizadas em Papua-Nova Guiné". Foi obrigado a pedir desculpa ao país.

Em 2008, foi eleitor mayor de Londres, derrotando o candidato trabalhista, Ken Livingstone. Foi reeleito em 2012, permanecendo no cargo até 2016.

Durante o primeiro mandato, proibiu o consumo de álcool nos transportes públicos da cidade e introduziu novos transportes, como bicicletas. Esteve também envolvido em alguns escândalos: foi acusado de contratar pessoas que não eram indicadas para os seus cargos, mas que o apoiavam, como foi o caso de Veronica Wadley, assim como de possuir despesas excessivas à custa do Parlamento.

No segundo mandato, destaque para o papel de supervisão nos Jogos Olímpicos de 2012, que se realizaram na capital britânica.

Em 2015, regressou ao Parlamento por Uxbridge e South Ruislip e, em 2016, tornou-se uma das figuras principais na campanha pelo Brexit. "Só há uma forma de conseguir a mudança que queremos – votar pela saída da União Europeia", disse.

Argumentou ainda que a União Europeia era uma tentativa de criar um Império Romano na Europa. "Napoleão, Hitler e várias pessoas tentaram fazê-lo, e acabou de forma trágica. A UE é uma tentativa de fazer isto com métodos diferentes", referiu.
Papel no Brexit
Boris Johnson rejeitou candidatar-se à liderança do Partido Conservador imediatamente após o resultado de referendo de 2016. Theresa May seria a eleita, escolhendo Johnson para o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros.

"É mais provável que eu reencarne como uma azeitona, fechado num frigorífico abandonado, decapitado por um frisbee voador", disse Boris Johnson em 2015, quando questionado sobre a possibilidade de se candidatar à liderança do partido.

Durante o mandato como ministro dos Negócios Estrangeiros, apoiou o presidente turco Recep Erdoğan, prometendo apoiar a entrada da Turquia na União Europeia. Apoiou também a intervenção liderada pela Arábia Saudita no Iémen e recusou estancar a venda de armamento britânico aos sauditas por considerar que não existiam provas claras de violação de leis humanitárias internacionais.

Boris Johnson abandonou o cargo dois anos depois, em julho de 2018, como forma de protesto contra os planos delineados por Theresa May para o Brexit.

Em 2018, voltaria a ser deputado, mas demitiu-se, considerando que o Governo estava "a dizer uma coisa à UE e a dizer outra coisa ao eleitorado".

Foi acusado de abuso de confiança do público durante a campanha pelo Brexit em 2016, por alegadas mentiras acerca das despesas do Reino Unido na União Europeia, mas acabou por ser ilibado.

Em 2019, Boris Johnson anunciou a sua candidatura à liderança do Partido Conservador depois de Theresa May ter anunciado a sua demissão. Durante toda a campanha, Johnson foi considerado o favorito à vitória.

A candidatura foi apoiada pelo presidente norte-americano, Donald Trump. "Eu acho que o Boris faria um excelente trabalho. Acho que ele seria excelente. Eu gosto dele", disse.
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