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Brasil. Ambientalistas receosos com apoio de Tebet a Lula

por Joana Raposo Santos - RTP
Tanto Tebet como Lula defendem o "desmatamento ilegal zero", mas não se comprometem com o desmatamento total da floresta amazónica. Amanda Perobelli - Reuters

Os ambientalistas brasileiros estão preocupados com o futuro depois de a terceira candidata mais votada nas eleições presidenciais, Simone Tebet, ter declarado o seu apoio a Lula da Silva. Apesar de ambos terem o clima como prioridade na agenda, há quem lembre políticas passadas de uma coligação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que prejudicaram então o ambiente.

“O meu apoio [a Lula da Silva] é por um Brasil que sonho ser de todos, inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável”, afirmou Simone Tebet ao anunciar o apoio ao candidato e adversário de Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições no Brasil, a 30 de outubro.

Apesar da referência ao desenvolvimento sustentável, quando o apoio de Tebet foi oficializado o ambiente não constava entre os pedidos feitos pela ex-candidata a Lula, focando-se apenas na educação, saúde, endividamento das famílias e igualdade de género.

Além disso, os ambientalistas lembram que, no passado, a relação entre o PT e o MDB não trouxe vantagens à Amazónia, que abrigou então projetos de infraestruturas como uma central hidroelétrica ou o gasoduto Urucu-Coari-Manaus.

"A Amazónia e as florestas não podem mais ser a moeda de troca deste tipo de aliança", defendeu na segunda-feira o jornal ambientalista sem funs lucrativos O Eco.

No entanto, Simone Tebet veio já criticar essas políticas passadas do seu partido. A agora ex-candidata defende, tal como Lula, a revogação dos decretos chamados de “anti-ambientais” de Jair Bolsonaro. Simone Tebet arrecadou 4,2% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, surgindo depois de Jair Bolsonaro, com 43,2%, e de Lula da Silva, que ficou em primeiro lugar com 48,4%.

Tebet é também contra os ocupantes ilegais, os garimpeiros e a “grilagem” de terras, termo usado no Brasil quando se falsificam documentos para se tomar posse de terrenos ou prédios devolutos.

Tanto Tebet como Lula defendem ainda o “desmatamento ilegal zero”, mas não se comprometem com a proibição total do desmatamento da floresta amazónica, há muito exigido pelos ativistas ambientais.

O combate à desflorestação é um tema polémico no Brasil, especialmente desde que Jair Bolsonaro tomou posse e pôs em marcha medidas prejudiciais à Amazónia.

Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia, a desflorestação naquela que é a maior floresta tropical no mundo cresceu 56,6% durante o Governo de Bolsonaro.
Lula promete cumprir metas do Acordo de Paris
No seu programa de Governo, Lula da Silva promete o cumprimento das metas de redução das emissões de gás de carbono assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris, em 2015.

“É imperativo defender a Amazónia da política de devastação posta em prática pelo atual Governo”, refere o programa, assinado pela coligação Brasil da Esperança, encabeçada pelo PT de Lula.

O candidato e os seus aliados dizem querer cuidar das riquezas naturais do país, “produzir e consumir de forma sustentável e mudar o padrão de produção e consumo de energia”, apoiando uma economia verde inclusiva.

“Nos nossos governos, reduzimos em quase 80% o desmatamento da Amazónia, a maior contribuição já realizada por um país para a mitigação das mudanças climáticas entre 2004 e 2012”, relembra Lula no documento. “Já nos comprometemos com o futuro do planeta, sem qualquer obrigação legal, e o faremos novamente”.

O Brasil da Esperança compromete-se também a combater “o crime ambiental promovido por milícias, grileiros, madeireiros e qualquer organização económica que aja ao arrepio da lei”.

“Nosso compromisso é com o combate implacável ao desmatamento ilegal e promoção do desmatamento líquido zero, ou seja, com recomposição de áreas degradadas e reflorestamento dos biomas”.

Sublinhando que o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do planeta, Lula da Silva e os aliados falam num projeto que “harmonizará a proteção dos ecossistemas que estão em risco com a promoção do desenvolvimento sustentável, bem como exigirá o enfrentamento e a superação do modelo predatório de exploração e produção, atualmente, agravado pela completa omissão do Governo atual”.
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